A temporada de colheita de café no Espírito
Santo tem se mostrado, ano após ano, um dos principais motores de circulação de
renda no município de Jucuruçu, no extremo sul da Bahia. Durante esse período,
centenas de trabalhadores jucuruçuenses migram temporariamente para cidades
capixabas como Rio Bananal, Vila Valério, Jaguaré, Linhares, Sooretama e Nova
Venécia, onde encontram emprego nas lavouras cafeeiras.
Apesar da
distância média de mais de 400 km entre Jucuruçu e esses municípios, os
trabalhadores enfrentam a longa jornada motivados pela possibilidade de obter
uma renda considerável em pouco tempo. O dinheiro conquistado nos cafezais, na
maioria das vezes, retorna ao município baiano e movimenta diversos setores do
comércio local, desde supermercados, farmácias e lojas de roupas até a
construção civil e a agricultura familiar.
A cada ano,
esse fluxo financeiro sazonal transforma a realidade de muitas famílias
jucuruçuenses. O que é ganho no Espírito Santo é, em grande parte, investido em
Jucuruçu. Com os recursos oriundos da panha de café, moradores realizam
reformas em suas casas, compram veículos, adquirem eletrodomésticos e injetam
capital em pequenos negócios. Essa movimentação ajuda a manter aquecida a
economia local, sobretudo em um município que ainda enfrenta desafios
estruturais.
Maria das G. S, moradora da zona rural, é uma dessas trabalhadoras que vê na colheita
uma esperança renovada todos os anos. “Todo
ano eu vou com meu marido pra Rio Bananal. Passamos quase três meses lá,
trabalhando firme. Quando voltamos, usamos o dinheiro pra reformar a casa e
comprar o material escolar dos nossos filhos. Se não fosse a panha, a gente não
tinha condições nem de manter a roça direito,” relatou.
Os reflexos
dessa migração também são percebidos no comércio de Jucuruçu, como destaca José R. B, comerciante há mais de duas
décadas. “Depois da colheita de café, o
movimento melhora bastante. O pessoal volta com dinheiro no bolso e gasta aqui
mesmo. Isso ajuda muito o comércio local. Muita gente aproveita pra pagar
dívidas e comprar coisas que estavam adiando,” afirmou.
A panha de café
também tem servido de trampolim para novos empreendimentos. A jovem Vanessa O, de 25 anos, conseguiu montar
seu próprio negócio após retornar de uma temporada nos cafezais. “Com o que ganhei em Linhares, comprei os
equipamentos e comecei a atender em casa. Hoje, além de ter minha renda fixa,
eu não preciso mais deixar meus filhos por tanto tempo,” conta ela,
orgulhosa do pequeno salão de beleza que abriu em sua própria residência.
Em distritos
como Monte Azul, o impacto é igualmente notado. Segundo o aposentado Benedito P, dono de um pequeno armazém
local, “depois de julho, o pessoal que foi
trabalhar no Espírito Santo aparece aqui comprando cimento, telha, material de
construção. É um dinheiro que entra e gira aqui mesmo, e isso é muito
importante pra uma cidade pequena como a nossa.”
A colheita de
café, mesmo sendo exaustiva e exigindo sacrifícios, representa uma virada de
chave na vida de muitas pessoas. A moradora Elizabete da S. Lima, que participou da panha pela
primeira vez no ano passado, testemunha a mudança: “Eu tinha medo de ir, mas fui por necessidade. Trabalhei em
Sooretama, voltei com quase cinco mil reais. Com esse dinheiro, consegui abrir
um pequeno comércio de doces aqui no bairro São João. A panha de café me abriu
uma porta que eu não via antes.”
Embora envolva
desafios como o afastamento familiar e as condições intensas de trabalho nos
cafezais, a colheita de café é, para os jucuruçuenses, uma alternativa real de
sustento e desenvolvimento. Esse movimento sazonal continua a fortalecer a
economia local, a gerar empregos indiretos e a movimentar o comércio da cidade.
À medida que
mais uma safra se inicia no Espírito Santo, cresce também a expectativa em
Jucuruçu. O município observa com esperança o desempenho de seus filhos nos
campos capixabas, ciente de que o esforço lá fora representa melhorias
concretas dentro de casa.
O Jucurunet parabeniza os bravos trabalhadores rurais de Jucuruçu que enfrentam a colheita no Espírito Santo com coragem e resiliência, e exalta sua importância não apenas para a produção de café, mas também para o fortalecimento da economia local.
Da Redação Jucurunet
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