
A TV, porque as atividades
são muitas e envolvem um número tão grande de pessoas, é farta e generosa para
quem escreve sobre ela.
Prova provada que assunto não
falta é o espaço assegurado nos tantos sites especializados, nas mídias
sociais, jornais, rádios e até na televisão. A própria televisão, repare,
também se acostumou a falar sobre ela.
Os temas que geralmente são
os mais diversos, hoje, 12 de dezembro, em especial, devem se resumir a um só
ou em grande parte destacar o aniversário de 90 anos de Silvio Santos.
As opiniões podem ser as mais
diversas e até existir quem, como direito de cada um, não tenha por ele maior
simpatia ou até discorde de determinadas atitudes e posicionamentos, mas as
suas conquistas pessoais e profissionais têm que ser reconhecidas.
É um grande vencedor.
Procurado para entrevistas e
depoimentos, nesses últimos dias e horas, sempre recebi como última pergunta,
“quem é Silvio Santos?”. Não tem como responder diferente: insubstituível.

O Programa Silvio Santos não
seria o mesmo sem a aglomeração das colegas de trabalho e os aviõezinhos de
dinheiro voando pra lá e pra cá. Retomar as gravações semanais seria um alto
risco, ainda mais para um senhor de 90 anos de idade.
A última vez que Silvio
Santos colocou os pés no palco foi em dezembro do ano passado, antes de viajar
para passar as férias na Flórida. Quando voltou, em março, a pandemia de
coronavírus impediu qualquer chance de retorno e forçou o patrão a ficar isolado
em casa.
Para o escritor Fernando
Morgado, autor da biografia "Silvio Santos: a trajetória do mito", o
apresentador está afastado da sua maior alegria:

"Eu pude testemunhar
isso de uma maneira muito efetiva quando eu participei do programa dele, e eu
pude ver o quanto ele gosta de fazer televisão, o quanto ele gosta de estar no
palco, de estar com as colegas de trabalho. E realmente estar no palco para o
Silvio Santos é quase uma terapia"
Outro biógrafo do
apresentador, o jornalista Mauricio Stycer lembra que até o ano passado, com 88
anos, Silvio gravava religiosamente às terças, quintas e sábados, demonstrando
sempre o mesmo prazer:
"Nunca quis parar de
gravar. Fazia isso com muito prazer. Em 2019 eu participei da gravação do
Troféu Imprensa e fique impressionado porque a gravação inteira dura cerca de
quatro horas. O Silvio ficou em pé as quatro horas. Não parou, não se ausentou,
não fez um intervalo. Aquilo ali era uma piscina pra ele."
Nem Silvio, nem sua esposa,
Íris Abravanel, quiseram falar com a reportagem para contar como está a rotina
em casa. Fontes próximas dizem que o empresário continua trabalhando do
escritório, assistindo à emissora, dando orientações e fazendo mudanças na
programação, algo que se tornou folclórico, a ponto da sigla SBT ter ganhado um
significado alternativo: Silvio Brincando de Televisão.

Apesar de ter se tornado o
maior símbolo da comunicação brasileira pela atuação na TV, Silvio começou no
ramo como locutor, ainda na adolescência, ao ganhar um concurso de calouros na Rádio
Guanabara. O emprego não durou muito porque o trabalho como camelô rendia mais.
Depois de servir o Exército
como paraquedista, deixou as ruas e voltou para o rádio. Desde então, passou
por várias emissoras. O último contrato foi na Rádio Nacional de São Paulo, já
sob administração das Organizações Globo, onde permaneceu até 1976.
Em paralelo à função de
locutor, Silvio também demonstrou desde cedo o tino para as vendas. Aos 18
anos, implantou um sistema de som na barca Rio-Niterói e passou a negociar
anúncios publicitários.

Ao chegar a São Paulo, nos
anos 50, foi trabalhar com Manuel de Nóbrega, que era dono do Baú da
Felicidade. A empresa acabou nas mãos de Silvio. Para promover o Baú, em 1960,
Silvio compra um horário aos domingos na TV Paulista, onde lança o programa
"Vamos Brincar de Forca".
Em 63, estreia o Programa
Silvio Santos, no ar até hoje, se tornando o show de auditório mais longevo do
mundo. Desde então, o animador comandou mais de 120 formatos que se tornaram
parte da cultura popular brasileira.
Na opinião do jornalista
Mauricio Stycer, autor do livro "Topa tudo por dinheiro", uma das
maiores qualidades do apresentador foi ter desenvolvido a capacidade de se
comunicar com qualquer tipo de público:

"Programa de perguntas e respostas, ele fala assim: 'se eu faço uma pergunta e o espectador não sabe a
resposta, não é legal. Se eu faço duas perguntas e o espectador não sabe a
resposta, ele vai embora, não vai ficar no meu programa'. Então ele tinha uma
compreensão racional de que ele precisava falar na mesma altura do
público."
Ainda alugando horário da TV
Globo, que adquiriu a TV Paulista em 1966, Silvio Santos tinha como principal
objetivo ter o próprio canal de televisão.
Em 75, conseguiu a concessão
da TVS do Rio de Janeiro. Em São Paulo, passou a transmitir pela TV Tupi. Em
77, comprou metade da TV Record e em 81 conseguiu a concessão do canal 4,
abrindo caminho para a criação do SBT.
A exposição no ar permitiu
não só a promoção pessoal, como das empresas do Grupo Silvio Santos, como
lembra o escritor Fernando Morgado:
"O artista Silvio Santos
continuará existindo enquanto for interessante ao empresário Silvio Santos. A
existência do Programa Silvio Santos foi muito importante para que as empresas
do grupo tivessem um espaço para se promoverem, e conseguirem clientes e
evoluírem."

Atualmente o Grupo Silvio
Santos tem 38 empresas, incluindo uma marca de cosméticos, um hotel e a Tele
Sena.
Mesmo avesso a entrevistas, o
animador nunca saiu dos holofotes: foi candidato à Presidência da República,
sua família foi alvo de um sequestro que teve a negociação direta do governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin, se envolveu em um escândalo financeiro que
culminou na perda do Banco Panamericano e mais recentemente tem visto as redes
sociais repercutirem falas que antes não eram questionadas pela sociedade, mas
que agora não são mais aceitas tão facilmente.

A unanimidade que permanece é
que Silvio Santos faz parte da história brasileira, mesmo que isolado. E se do
mundo não se leva nada, melhor que seja assim./globoradio