A voz do conhecido programa
de rádio Almoço à Brasileira se calou para sempre, na madrugada desta
sexta-feira (25).
No final do último mês de
maio, Ramiro Guedes foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do
Hospital Municipal de Teixeira de Freitas, onde chegou com desconforto
respiratório (falta de ar), baixa saturação no sangue e comprometimento nos
rins e pulmões.
Um mês lutando pela vida, o
radialista não resistiu aos sintomas da covid-19, doença transmitida pelo novo
coronavírus, que já tirou a vida de mais de 500 mil brasileiros.
Ramiro Guedes ficou muito
conhecido depois de se mudar de Teófilo Otoni/MG para Teixeira de Freitas, na
década de 90, para trabalhar na Rádio Caraípe, primeiro como diretor, depois
como apresentador do Almoço à Brasileira, onde atuou por 26 anos.
Com problemas de saúde,
diagnosticado com o diabates, acabou tendo um dos dedos amputados, inclusive,
com complicações, sendo necessária internação hospitalar.
Essa é mais uma morte que
deixa à todos com profundo sentimento de tristeza.
Nascido em 12 de
março de 1948, na casa de N.º 07, da Rua das Flores, em Teófilo Otoni (MG),
além da Caraípe FM, foi presença marcante na Rádio Câmara de Teixeira de
Freitas e imortal na ATL – Academia Teixeirense de Letras.
É considerado um dos maiores
mestres da comunicação social da região, dirigiu os principais veículos de
imprensa do extremo sul da Bahia.
O velório do radialista
Ramiro Guedes será realizado a partir das 13 horas desta sexta-feira (25), na
Câmara Municipal de onde sairá as 16 horas para o sepultamento no Cemitério
Jardim da Saudade.
Ramiro Guedes deixa Mariza (esposa) Maira (filha), e Pablo
(filho).
Ramiro Guedes: a história do jornalismo radiofônico teixeirense
O Vida Diária inicia uma
série de reportagens que homenageia alguns dos pioneiros de Teixeira de
Freitas, neste mês de aniversário da cidade. Para falar um pouco do início da
imprensa em Teixeira, nesses 32 anos de emancipação política, procuramos o radialista
Ramiro Guedes da Luz, que há 27 anos tem o mesmo programa, o Almoço à
Brasileira, que foi ao ar na cidade no mês do aniversário de Teixeira. Ele
define sua relação com a cidade em uma frase: “Eu sou apaixonado por Teixeira
de Freitas”.
Ramiro Guedes tem 69 anos,
nasceu na casa de número 07, da Rua da Flores, em Teófilo Otoni (MG), em 12 de
março 1948. Ele tem 8 irmãos. Se formou em Letras em uma extensão da
Universidade Católica na cidade de Pedro Leopoldo (MG). Tem aproximadamente 40
anos que trabalha em rádio. O primeiro casamento de Ramiro foi com Raquel da
Imaculada Conceição com quem viveu sete anos e teve Juan Pablo, Tarsila e
Luciano. Depois se casou com Marisa de Fátima Goulart e vive há 32 anos essa
história de amor, com quem teve sua princesa Maíra Guedes.
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Foto: Ramiro Guedes na Rádio Caraípe |
Chegou a Teixeira de Freitas
no dia do aniversário da cidade (09 de maio) em 1990. Ele trabalhava na Rádio
Imigrantes de Teófilo Otoni e recebeu o convite do prefeito de Teixeira da
época (Francistônio Pinto) para trabalhar na Rádio Caraípe em Teixeira.
Francistônio, além de prefeito, era dono da Rádio Caraípe e da Rádio Difusora.
Quando chegou a cidade ele se hospedou no Roda Viva, que está até hoje no mesmo
local. “Na primeira semana aqui eu também comecei com o Almoço à Brasileira”, informou
Ramiro.
Ramiro foi recomendado pelo
presidente da Associação Comercial de Teófilo Otoni da época, Sélem Handele.
Mas não aceitou logo o convite, “eu fiquei indeciso, pois conhecia a fama de
Teixeira de Freitas, de violência. Isso foi logo depois da primeira eleição,
onde receberam uma juíza a tapas e tinha vindo Força Federal para cá”.
Ele se lembra, brincando, que
em seus primeiros anos de imprensa na região, ele tinha um apelido de “Roberto
Marinho dos pobres”, isso por que ele era diretor das rádios Caraípe, Difusora,
Alvorada, rádio de Eunápolis, rádio de Itapetinga e rádio de Medeiros Neto, ao
mesmo tempo, “ou seja, não dava pra fazer quase nada, a não ser com a daqui”.
Na época que ele foi diretor dessas rádios, ele buscou valorizar os colegas e
pagava um dos melhores salários da Bahia. Ele também teve que brigar para fazer
valer direitos, isso por que, muitas rádios, até hoje, não gostam de pagar
funcionários e, quando pagam, não são bem remunerados.
Assim se profissionalizava o
jornalismo radiofônico na região. Ele disse que sempre foi colunista em alguns
jornais, como o antigo jornal Extremo Sul, e depois também começou a escrever
suas colunas para sites.
Morou dois anos em Porto
Seguro, mesmo assim, sempre apresentou o Almoço à Brasileira em Teixeira.
“Nunca deixei de fazer. As únicas vezes que deixei de fazer o programa foram em
dois momentos: no casamento de Uldurico Pinto, que eu fui para o casamento e
deixei o programa gravado; e, no falecimento de meu filho, que faleceu numa
quinta-feira, aí no sábado eu não fiz o programa”, disse o radialista.
Ramiro teve um filho autista
que faleceu cedo, em 1997. “Uma cidade onde você tem um filho enterrado se
torna aquele pedaço que Chico Buarque define “saudade é o revés de um parto,
saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”, disse Ramiro.
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Foto: Ramiro entrevistando o ex-governador Jaques Wagner |
“Eu me lembro que Fernando
Moulin estava aqui quando eu cheguei e até hoje está no ar, Alberto Legalé
também, que agora está na Abrolhos FM em Mucuri e Samuca Macedo. Essa turma
toda continua trabalhando”, disse. “A velha guarda do rádio está aí, o alicerce
continua, como Moreau Nunes, JB”, enfatizou, lembrando com carinho dos colegas
de profissão.
“O jornalismo de Teixeira é
um jornalismo diferente, é o que eu chamaria de jornalismo de resultados”,
define Ramiro. Sobre o início da imprensa na região ele diz que o jornalismo
“era bem mais agressivo, no sentido dos fatos”.
Em 1991 aconteceu algo que
marcou a vida de todos os radialistas da cidade, que foi o caso Ivan Rocha
(radialista tido como desaparecido até hoje), “foi o meu batismo de fogo, pois
nunca tinha tido uma participação de rádio que levasse para esse lado”, falou
Ramiro. Outro momento marcante para ele foi uma eleição a prefeito entre os
candidatos Temóteo Brito e Ubaldino Júnior: “foi uma campanha terrível, de
muita agressividade, ameaça de morte e uma série de outras coisas”, disse.
O primeiro curso de
radialista da história de Teixeira de Freitas foi feito no Espaço Cultural da
Paz, por uma iniciativa do Zé da Baiana com o auxílio de Ramiro Guedes. Eles
trouxeram o sindicato para a cidade e o curso durou um ano, “era todo primeiro
sábado do mês o dia inteiro e só poderia ser feito por pessoas que tinham, pelo
menos, 5 anos de profissão. Depois avacalhou, quem queria falava em rádio”,
informou.
Ele diz que a relação entre
‘patrão’ e ‘empregado’ no rádio e jornalismo sempre foi diferenciada em
Teixeira, pois os ‘patrões’, por vezes, fazem o trabalho jornalístico.
Atualmente, muita coisa se desenvolveu e hoje a cidade conta com a Rádio
Câmara, que é diferenciada das demais.
“Sem dúvida nenhuma, a
história de quem mora em Teixeira, se confunde com a própria Teixeira, pois
Teixeira é uma cidade que prende a gente, pelos encantos e desencantos”, disse
o radialista, que não se arrepende de ter vindo para a cidade.
Ramiro foi, no período de
2012 a 2016, o secretário de Cultura do município. Sempre foi um ícone local no
assunto cultura, pois lutou e luta pela valorização dos artistas da terra. “O
rosto cultural de Teixeira é diversidade, e, ao mesmo tempo, é uma cidade que
falta tudo, por exemplo, livrarias, teatro”. “Por outro lado, Teixeira teve
três cinemas, como o Cine Brasil, o primeiro daqui”, disse Ramiro.
O Almoço à Brasileira marcou
e marca os fins de semana da cidade. Muitas vezes, sai dos estúdios do rádio e
vai até o público, em festas, feijoadas e projetos que estejam acontecendo.
“Muita gente acha que o forte do Almoço à Brasileira é fazer fora, mas eu
interrompi esse fazimento já tem dois anos por questão de equipamento. O Almoço
à Brasileira nasceu em Teófilo Otoni, na Rádio Imigrantes, que tinha um
programa com esse nome, mas com estrutura diferente de hoje. Antes eu
trabalhava na Rádio Teofilo Otoni e tinha um programa das 20 à 00 hora chamado
Da Luz e Da MPB, que pra mim foi o embrião do Almoço”.
É um programa com informação,
música e valorização da cultura, sempre levando poetas, escritores em geral,
cantores e muitos outros artistas. Ramiro já fez muitos programas nas
universidades e em cidades vizinhas. Trouxe atrações nacionais como Renato
Teixeira e Xangai no aniversário de 5 e de 10 anos de programa e Oswaldo
Montenegro nos 15 anos. “A parte mais importante da minha vida profissional é o
Almoço à Brasileira”, destacou Ramiro.
“Teixeira é o seu povo a sua
gente humilde”, disse Ramiro. Ele passa nas ruas e percebe a vida dos cidadãos
e vê em nossa cidade a poesia de Vinicius de Morais retratada: “São casas
simples com cadeiras na calçada e na fachada escrita em cima que é um lar,
pelas janelas flores tristes e baldias como alegria que não tem onde encostar”,
finalizou Ramiro, definindo Teixeira liricamente.