Das seis pessoas ouvidas,
três concordaram em detalhar a cena –duas delas pediram anonimato.
A abordagem a Genivaldo, 38,
ocorreu no local chamado Posto Reforço, onde funcionam oficinas de automóvel.
Já imobilizado, ele foi atingido com spray de pimenta nos olhos e, em seguida,
acabou jogado ao chão. Depois de receber alguns golpes, como chutes, foi
colocado na viatura.
No veículo, ainda segundo a
descrição das testemunhas, um dos agentes jogou gás e mais spray de pimenta.
Genivaldo, então, começou a se debater com os pés para fora da viatura pedindo
socorro.
De acordo com as testemunhas,
ele ainda ficou por cerca de 15 minutos trancado dentro do porta-malas depois
de ter inalado o gás jogado pelos agentes no interior do carro.
O caminhoneiro Aldrin
Teixeira, 46, afirma que presenciou toda a cena. Segundo ele, a abordagem, que
chamou de truculenta, ocorreu por volta das 11h, quando Genivaldo passava pelo
local sem capacete, porém portava documentos que comprovariam a regularização
da moto.
"Ele não reagiu, apenas
perguntava a razão de estarem batendo nele", conta Teixeira, ao afirmar
que a vítima reagiu instintivamente depois de ser atingido com spray de pimenta
nos olhos. Teixeira relata ainda que houve uma tentativa frustrada por parte da
população de tentar evitar as agressões, mas que foram ameaçados pelos
policiais, que fizeram vídeos das testemunhas.
"Quem estava vendo
aquelas cenas e tentou impedir as agressões foi ameaçado. Os policiais filmaram
as pessoas que estavam filmando, em tom de ameaça. Por isso, estamos todos com
medo aqui", relata.
Uma mulher contou à
reportagem que os policiais tentaram algemar as pernas da vítima. "Aí
pessoal gritou: 'Algemas não foram feitas para pernas!'."
Outra testemunha disse que a
abordagem se deu sob vários tipos de tortura à vítima. O jovem conta que os
policiais tentaram algemar as pernas da vítima, causando dor e mais gritos.
"Tivemos que gritar para eles pararem de tentar pôr algemas nas pernas de
Genivaldo. Foi muito difícil ver aquilo e sem poder fazer nada para
ajudá-lo" relata.
Nesta quinta-feira (26)), a
viúva Maria Fabiana dos Santos, 40, contou à reportagem que recebeu a ligação
às 11h de um amigo relatando a abordagem pela PRF, "Venha logo, Fabiana,
seu marido está sendo massacrado", gritava ao telefone o colega, ela
contou.
Quando chegou ao local, a
mulher conta que viu o marido deitado de bruços na viatura, sem se mexer.
"Eu pedi que eles [os policiais] abrissem a porta para que ele pudesse
respirar, mas ouvi de um deles que meu marido estava melhor do que eles",
relatou, chorando.
Já no hospital, por volta das
13h, a mulher disse que se deu conta de que seu marido estava morto quando
presenciou a médica realizando o procedimento de reanimação. "Ali eu
percebi que não tinha jeito, que ele estava morto, porque a médica que o
atendeu contou primeiro aos policiais, que saíram às pressas do local enquanto
eu gritava e chorava com a dor da perda. Assassinos!", afirmou.
Foi neste mesmo horário que
os agentes envolvidos na abordagem realizaram o boletim de ocorrência. Nele
consta que Genivaldo teve um "mal súbito" no trajeto para a delegacia
e foi levado para o Hospital José Nailson Moura, no município, onde morreu por
volta das 13h.
A casa de apenas dois cômodos
onde mora, num bairro simples da cidade de Umbaúba, estava fechada nesta
sexta-feira. Fabiana escolheu passar os próximos dias na casa de parentes,
segundo familiares.
Sobrinho da vítima, Ismael
dos Santos diz que a sensação é de impotência. "A gente não consegue
entender ainda o que aconteceu, Foi algo tão brutal que não podíamos imaginar
que acontecesse. Meu tio estava sem capacete, mas aqui no interior é algo comum
e mesmo assim ele não deveria ter sido morto por isso. Isso não é crime de
morte."
Segundo laudo preliminar do
IML (Instituto Médico-Legal), a morte de Genivaldo foi por asfixia.
Em nota divulgada nesta
sexta, a Secretaria de Segurança Pública disse que a perícia de Sergipe vai
auxiliar a Polícia Federal no inquérito que apura a morte de Genivaldo.
"Foi identificado, de
forma preliminar, que a vítima teve como causa da morte insuficiência aguda
secundária a asfixia. Essa obstrução pode se dar através de diversos fatores e,
nesse primeiro momento, não pode ser identificada e depende de exames
complementares. Após a conclusão dos trabalhos, os laudos serão remetidos à
delegacia da Polícia Federal", diz a nota.
Procurada sobre os relatos de
suposta tortura antes da morte de Santos, a PRF ainda não havia se manifestado
até o início da noite desta sexta. Em nota, mais cedo, a PRF informou que
"está comprometida com a apuração inequívoca das circunstâncias relativas
à ocorrência" e que "os agentes envolvidos foram afastados das
atividades de policiamento"./BNews