Nenhum dos senhores, ao serem eleitos, foram questionar a urna eletrônica.
O plenário da Câmara dos
Deputados rejeitou nesta terça-feira, 10, a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC 135/2019), que retrocedia ao sistema de voto impresso. Os parlamentares
bolsonaristas tentaram novamente o adiamento do voto por cinco sessões, mas foram
derrotados. O debate girou em torno do reconhecimento da necessidade de
auditoria e da melhoria do sistema eleitoral, mas também da inviabilidade da
contagem manual, prevista no substitutivo da deputada Bia Kicis (PSL-SP).
No total, foram 229 votos favoráveis
e 218 contrários, com uma abstenção, e a matéria foi arquivada. Ao final da
sessão, Arthur Lira reiterou que agora foi dada uma resposta ao questionamento,
que se tornou uma pauta constante do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o
pepista, o líder do Executivo prometeu aceitar qualquer que fosse o resultado.
Assim como o substitutivo, o texto do relator Filipe Barros (PSL-PR) já foi
rejeitado em comissão especial por 22 votos a 11, mas o presidente Arthur Lira
(PP-AL) decidiu levar ao Plenário.
"A democracia do
plenário desta casa deu uma resposta a este assunto e, na Câmara, espero que
este assunto esteja devidamente enterrado", sintetizou. Nos bastidores,
houve um acordo para que Lira só pautasse o projeto com a garantia de que a
matéria não seria aprovada.
Líder do PSOL na Câmara,
Talita Petrone, disse em seu discurso da orientação do voto contra a proposta,
que a proposição do voto impresso tenta omitir uma "ânsia golpista"
do presidente Jair Bolsonaro, que convive com uma rejeição recorde do seu
governo nos últimos meses.
"Bolsonaro e a sua base
tem feito campanha mentirosa sobre o voto impresso, pois esconde que a urna
eletrônica já é auditável, que há 25 anos não tem comprovação de fraude. Foi a
urna eletrônica que, infelizmente, elegeu presidente Jair Bolsonaro e todos que
estão aqui defendendo voto impresso. Isso quer esconder por trás do debate do
mérito, a ânsia golpista, na tentativa de tumultuar o que será 2022. O governo
Bolsonaro está derretendo", declarou.
Eduardo Gomes (MDB), líder da
Maioria na Casa, liberou os membros da bancada para votarem, mas fez questão de
registrar o seu voto favorável, que na sua visão é um pedido do "povo
brasileiro".
"Registro o meu voto
sim, não é o voto em cédula. A proposta da deputada BIa Kicis prevê voto
eletrônico com impressão, caso haja auditagem, que se faça, por isso defendo o
voto sim, na PEC, o povo brasileiro quer um parlamento independente e sem
pressão do STF sobre nós [...] votamos sim pelo povo brasileiro e pelo
presidente Bolsonaro que encorajou milhares de brasileiros a somar-se na luta
por um tema tão importante para a nação", afirmou. O substitutivo de Bia
Kicis (PSL-DF) determinava a impressão de “cédulas físicas conferíveis pelo
eleitor”.
Do outro lado, o deputado
federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que lidera a Minoria, chamou a PEC de
"cortina de fumaça" utilizada pelo governo para tentar esconder os
temas sensíveis ao Planalto, como a demora na vacinação, a crise econômica e as
suspeitas de corrupção.
"Nenhum dos senhores, ao
serem eleitos, foram questionar a urna eletrônica. O que estão fazendo agora é
criar uma cortina de fumaça para não debater o que o povo quer debater; a
necessidade de vacina, a fome, a corrupção que este governo está envolvido.
Eles querem debater o voto impresso, típico de coronéis, o voto de
cabresto", criticou.
A derrota do tema que se
tornou uma das principais bandeiras do presidente Bolsonaro aconteceu horas
depois do desfile de tanques blindados da Marinha na Esplanada dos Ministérios.
Líderes partidários atuaram para evitar um racha na votação e arriscar a
aprovação. Partidos como PP e Patriotas liberaram os correligionários para
decidirem, assim como os blocos da Maioria e PSC/PROS/PTB.
O PDT, que também já se viu
no centro da polêmica ao reviver indícios de fraudes antigos para justificar a
instauração de um voto auditável — distinto do modelo proposto por Bia Kicis —
indicou o voto contra e o líder Wolney Queiroz (PDT) garantiu que o partido não
iria endossar a "narrativa" de Bolsonaro. Para ele, esta é somente
uma estratégia do presidente de descredibilizar o processo eleitoral de 2022.
"Não vamos ajudar a
criar a narrativa para que Bolsonaro e sua horda possam questionar o resultado
das eleições do ano que vem. Vamos estudar o sistema para em um futuro próximo
aprimorar o sistema para se tornar confiável", ponderou./Atarde