O nono mês do ano chega trazendo uma das campanhas de saúde pública
mais importantes do mundo: o Setembro Amarelo. Dedicado
à prevenção do suicídio e à valorização
da vida, a iniciativa busca abrir espaço para um diálogo franco e
empático sobre um tema ainda cercado de silêncio e estigma. A mensagem central
é clara e vital: falar é a melhor solução.
A origem da campanha remonta
aos Estados Unidos, em 1994, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, tirou a
própria vida. Seus amigos e familiares, em sua homenagem, distribuíram cartões
com fitas amarelas – cor do carro restaurado por Mike – com a mensagem “Se você
precisar, peça ajuda”. O gesto ganhou proporções mundiais e, no Brasil, foi
abraçada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de
Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Os números
preocupantes
Dados da Organização Mundial
da Saúde (OMS) mostram que cerca de 700 mil pessoas morrem
por suicídio anualmente no mundo – uma a cada 40 segundos. No Brasil, são
aproximadamente 14 mil casos por ano, o que equivale
a quase 40 mortes por dia. Trata-se de uma triste realidade que registra mais
óbitos do que muitas doenças graves, sendo a quarta maior causa de
morte entre jovens de 15 a 29 anos.
“Esses números não são apenas
estatísticas. São vidas, sonhos interrompidos e famílias devastadas. A grande
maioria dos casos poderia ser evitada com intervenção adequada, acesso a
tratamento e, principalmente, com a quebra do tabu que cerca o assunto”,
explica a Dra. Ana Lúcia Ferreira, psiquiatra especializada em saúde mental.
Sinais de alerta:
saber reconhecer para poder ajudar
O suicídio raramente é um ato
impulsivo. Na maioria das vezes, é precedido por um período de sofrimento
intenso e por comportamentos que podem servir de alerta. Ficar atento a esses
sinais em familiares, amigos e colegas é um passo crucial para a prevenção.
Os principais indícios
incluem:
·
Isolamento
social: afastar-se
abruptamente de amigos, familiares e atividades que antes davam prazer.
·
Mudanças
de humor extrema: alternância
entre profunda tristeza, irritabilidade e aparente calma repentina.
·
Falar
sobre morte ou suicídio: frases
como “eu desejaria não ter nascido”, “vocês estariam melhor sem mim” ou “eu não
aguento mais” devem ser levadas a sério.
·
Comportamentos
autodestrutivos: aumento no
consumo de álcool ou drogas, direção perigosa e descuido com a própria
segurança.
·
Despedidas: fazer testamentos, doar pertences valiosos ou se
despedir de pessoas como se não fosse vê-las again.
O que fazer e o que
NÃO fazer
Se você identifica algum
desses sinais em alguém próximo, é importante agir com calma e empatia.
FAÇA:
·
Converse
abertamente: Pergunte com
delicadeza e sem julgamentos: “Estou preocupado com você, como você está se
sentindo?” ou “Você está pensando em machucar a si mesmo?”. Falar
sobre suicídio não incentiva o ato, pelo contrário, pode aliviar a angústia.
·
Ouça com
empatia: Deixe a pessoa
desabafar. Mostre que você se importa e que os sentimentos dela são válidos.
·
Incentive
a buscar ajuda profissional: Sugira
a procura por um psicólogo, psiquiatra ou um serviço de saúde.
·
Mantenha
contato: Não deixe a pessoa
sozinha. Ligue, mande mensagens e mostre seu apoio constante.
NÃO FAÇA:
·
Julgue ou
minimize a dor: Evite
frases como “Isso é falta de Deus” ou “Você tem tudo na vida, para de drama”.
·
Dar
falsas garantias: Prometer
segredo absoluto não é possível nessa situação. A vida da pessoa em risco é a
prioridade.
·
Deixar a
pessoa sozinha em um momento de crise.
Onde buscar ajuda?
A rede de apoio é fundamental.
Além do acompanhamento psicológico e psiquiátrico, canais de ajuda gratuitos e
sigilosos estão disponíveis 24 horas por dia:
·
CVV –
Centro de Valorização da Vida: Ligue
188 (telefone gratuito), acessone o site www.cvv.org.br ou
utilize o chat disponível na plataforma. O serviço funciona 24h todos os dias.
·
CAPS –
Centro de Atenção Psicossocial: Unidades
de saúde espalhadas por todo o país especializadas no atendimento à saúde
mental.
·
Emergência: Em casos de risco iminente, procure
imediatamente um pronto-socorro ou ligue para o SAMU (192).
Setembro Amarelo é o
ano inteiro
Embora setembro seja o mês de
conscientização, os cuidados com a saúde mental devem ser uma prioridade
constante. Promover um ambiente de trabalho saudável, cultivar relações de
afeto, praticar o autocuidado e estar disposto a ouvir sem julgamento são
atitudes que fazem a diferença todos os dias do ano.
A campanha do Setembro Amarelo nos lembra que, juntos, podemos iluminar o caminho daqueles que estão em meio à escuridão. Falar sobre suicídio salva vidas. Não se cale.
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