Nascidas em Itamaraju, no interior da Bahia, as gêmeas siamesas Júlia e Fernanda se mudaram com os pais para Goiânia onde aguardam pela cirurgia de separação. As irmãs, que tem quatro meses de vida, nasceram unidas por abdômem e tórax, e compartilham o fígado e uma membrana do coração. O procedimento está previsto para ocorrer no início do ano que vem, no Hospital Materno Infantil (HMI), unidade referência neste tipo de situação.
O pai das meninas, o açougueiro Valdenir Neves, deixou o trabalho na terra natal para vir à Goiânia com a esposa, mãe das garotas, há dois meses, onde acompanha o tratamento. O homem disse que tem receio de algo acontecer com as bebês. "Tenho medo de perdê-las. Já chorei tanto por causa dessas meninas”, afirmou.
A cirurgia foi marcada para o dia 13 de janeiro e deve ser realizada pela equipe do cirurgião pediátrico Zacharias Calil, especialista em separação de siameses. Segundo o médico, é importante que a operação seja feita o quanto antes pela saúde das pacientes.
"Elas compartilham o fígado e, por causa disso, a bebê maior [Fernanda] está absorvendo os nutrientes da outra [Julia], que é menor e acaba não atingindo um peso ideal. Se isso continuar ela pode ficar desnutrida, então é bom que a cirurgia seja feita logo”, afirmou ao G1.
Segundo o cirurgião, apesar da operação estar marcada, é preciso que haja vaga na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para que as gêmeas possam ser internadas e passar pelos procedimentos antes e depois da cirurgia.
"O número de vagas é pequeno, são apenas 10 leitos. Além disso, muitos pacientes que estão na UTI no HMI são crônicos, estão lá há mais de ano. Se o governo oferecesse um sistema de home care já aliviaria muito as UTIs”, afirmou.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que não há déficit de leitos no HMI. Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também informou que os leitos da UTI pediátrica do hospital atende à população de Goiânia, no entanto, existe falta de vagas no interior de Goiás, o que sobrecarrega a capital.
Semelhanças com outros casos
Apesar da dificuldade de nutrição de uma das irmãs, Calil afirmou que o caso delas é menos complicado do que os gêmeos Arthur e Heitor, que passaram pela cirurgia de separação em fevereiro deste ano. Eles eram unidos pelo tórax, abdômen e bacia e compartilhavam o fígado e a genitália. Arthur não resistiu e morreu três dias após a operação.
Conforme o médico, o caso de Julia e Fernanda é mais similar à situação enfrentada pelas irmãs Maria Clara e Maria Eduarda, que foram operadas em setembro deste ano. Elas também eram unidas pelo abdômen e compartilhavam fígado e uma membrana do coração.
Referência
O HMI é considerado referências no parto, tratamento e separação de siameses em todo o Brasil. Em 14 anos, foram feitas dez cirurgias de separação. De acordo com Calil, foram 27 casos acompanhados pela equipe do hospital nesse período.
O primeiro procedimento foi realizado nas gêmeas Raniela e Rafaela Rocha Cardoso, de 12 anos, que nasceram unidas pelo abdômen, passaram pela cirurgia e praticamente não ficaram com sequelas: "Nossa história é impressionante”, afirmou Raniela ao G1 em dezembro do ano passado.
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