Apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) reunidos no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde o candidato está internado. FERNANDO BIZERRA EFE
Há momentos na história dos
povos, como hoje no Brasil, onde os cristãos não podem ser omitir quando os
direitos fundamentais das pessoas, como suas liberdades e defesa dos mais
fracos, estão em perigo. No Brasil, 166 milhões de pessoas, cerca de 86% da população,
declaram-se cristãs. Nessa parcela, 64,6% são católicas e o restante,
evangélicas.
Para ambos os grupos, sua
constituição religiosa são os textos da Bíblia, do Antigo e do Novo Testamento.
Ambas os grupos cristãos têm como lema a paz e a fraternidade, bem como a
defesa dos mais humildes e esquecidos pelo poder.
As igrejas evangélicas pregam,
como vi escrito até em um caminhão, que "Cristo está voltando".
Pergunto-me, no entanto, se os evangélicos e católicos não seriam pegos de
surpresa se, de fato, o inocente e pacífico Jesus de Nazaré, crucificado por
defender os perseguidos e desprezados pelo poder, aparecesse nos dias de hoje
entre eles.
Estaria Jesus, nestas
eleições, a favor de um candidato que prega a violência como panaceia para
todos os males, que zomba das minorias ameaçadas pela intransigência, que
ensina crianças a usar as mãos inocentes para imitar um revólver e que, vítima
de um ataque injusto, como são todos os atos de violência, continua, de seu
leito no hospital, fazendo gestos como se estivesse disparando uma arma?
Se Cristo voltasse, ficaria,
certamente, surpreso com a notícia publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, de
que a Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil decidiu apoiar a
candidatura do capitão reformado Jair Bolsonaro, sob o pretexto de frear uma
possível vitória da esquerda. Os evangélicos, como todos os cidadãos, têm o
direito de preferir um candidato de esquerda ou de direita.
Eles são, no entanto,
seguidores do profeta que morreu por defender todas as minorias perseguidas em
seu tempo e que se recusou a ser defendido por seus discípulos com a espada.
Não poderia, por isso, abençoar aqueles que não só pregam a violência e até
mesmo o extermínio dos inimigos, mas também fazem alarde sobre isso.
E, se pode nos surpreender o
fato de que as igrejas evangélicas declarem, por meio de seus pastores, seu
apoio ao candidato que fez das armas seu estandarte sagrado, também surpreende
que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lave as mãos e não tenha
a coragem de assumir uma posição clara sob a desculpa de que a Igreja "não
se pronuncia sobre candidatos".
O cardeal Sérgio da Rocha,
que agora preside a CNBB, em uma cerimônia em Brasília no último dia 14, havia
defendido que os católicos não devem apoiar candidatos "que promovam a
violência", referindo-se a Bolsonaro.
Em seguida, os bispos divulgaram um
comunicado para esclarecer que o cardeal havia dado sua opinião pessoal, e que
a CNBB "não se pronuncia sobre candidatos". Os bispos, mais uma vez,
lavaram as mãos, um gesto que traz tristes lembranças, quando Pôncio Pilatos,
antes de condenar Jesus à morte, também lavou as mãos.
A Igreja Católica, que
carrega nas costas dois mil anos de história, já pagou caro no passado por ter
feito uso da violência contra os hereges, nas fogueiras da Inquisição e nas
guerras religiosas. Ainda surpreende aquele ambíguo lavar de mãos do papa Pio
XII diante de Hitler e do Holocausto. E pagou caro por seus pecados de traição
à sua doutrina de paz e de defesa das liberdades, assim como seu apoio às
piores ditaduras.
Uma coisa é que, como
princípio, as igrejas cristãs proclamem sua independência em assuntos
transitórios da política, e outra que, quando a política se torna um perigo
nacional, se permitam lavar as mãos ou ficar do lado dos opressores dos fracos
e daqueles que desejam fazer da violência o centro de gravidade de um país.
Para isso, não existe perdão.
No cristianismo, a
neutralidade quando a vida e os direitos das pessoas estão em jogo é um pecado.
A Bíblia é clara. No livro do Apocalipse (3:15-16), aqueles que preferem
covardemente lavar as mãos são repreendidos: "Assim, porque és morno, e
nem és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”. O Deus cristão exige a
coragem de saber se posicionar contra os violentos, no pelotão dos indefesos
condenados ao esquecimento e principal alvo da violência.
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