Desde o ano passado, quando o
cenário de destruição na Síria começou a se aproximar da capital Damasco,
alguns teólogos vêm fazendo diferentes análises sobre a possibilidade de isso
ser o cumprimento, em nossos dias, de antigas profecias bíblicas.
A partir do último dia 18 de
fevereiro, as tropas do presidente sírio Basha Al Assad começaram um bombardeio
maciço nos subúrbios ao Leste da capital, na região de Ghouta Oriental. Com
cerca de 400 mil moradores e dominada por forças rebeldes ao regime, quase que
diariamente há notícias de dezenas de civis mortos após os ataques.

A ONU tentou negociar uma
trégua, que incluiria um cessar-fogo de 30 dias, quando seria possível evacuar
a região. Porém, ela não foi seguida e agora surgem denúncias do uso de armas
químicas. O conflito em Ghouta se estende desde 2013. Distando cerca de 15 km
de Damasco, uma derrota ali permitiria que os opositores do presidente
conquistassem a capital, ponto fim ao regime atual.
Ainda que alguns estudiosos
descrevam essa lamentável crise humanitária como evidência do cumprimento de
profecias bíblicas, há quem classifique essa conexão como “irresponsável” e
“equivocada”.

Os textos mais citados são
Isaías 17 e Jeremias 49, que falam sobra a destruição de Damasco, que se
tornaria um “montão de ruínas”.
Para o renomado escritor
evangélico Joel Rosenberg, “Estamos vendo o que parece o fim de Damasco. Não
sabemos se esse é o prelúdio para o cumprimento dessas profecias. Porém,
Damasco é a cidade mais antiga da Terra a ser habitada continuamente. O fato de
ela estar sendo destruída é algo extraordinário… No passado, ela foi atacada,
sitiada e conquistada, mas nunca ficou completamente destruída e desabitada”.

Autor de vários livros sobre
escatologia, Rosenberg lembra que “O profeta Ezequiel escreveu há 2.500 anos
que, nos ‘últimos dias’, a Rússia [Gogue?] e o Irã [Pérsia] formarão uma
aliança militar para atacarem Israel pelo norte. Os estudiosos da Bíblia chamam
este conflito escatológico, descrito em Ezequiel 38 e 39 de a guerra de Gogue e
Magogue”. O teólogo acredita que a participação ativa de Moscou e Teerã neste
conflito nos últimos anos não é apenas uma coincidência, mas um cumprimento
profético.
Lançado em 2016, o livro
“Armageddom Code” [O código do Armagedom] do jornalista cristão
Billy Hallowell possui uma
interpretação muito similar a maneira como as cidades e países mencionados no
“cenário dos últimos dias” podem ser facilmente identificadas em muitas
reportagens exibidas recentemente na TV.

O grande drama humanitário do
Oriente Médio poderá ficar ainda pior nas próximas semanas, uma vez que tantos
os Estados Unidos quanto o Reino Unidos ameaçam bombardear Damasco, caso fique
comprovado o uso de armas químicas, que violam os acordos da ONU. Embora o alvo
primordial seria os arsenais de Assad, isso poderia, definitivamente, fazer com
que a capital Síria se torne “um montão de ruínas”.
Cabe ressaltar que, a
geografia bíblica é distinta da atual e nos dias do Antigo Testamento, a
localização de Damasco incluía o que hoje é Ghouta, palavra que significa
“oásis” e faz referência a uma fonte de água no deserto, condição essencial
para o estabelecimento de cidades na antiguidade.
Profecia cumprida no passado
A ideia que não faria sentido
relacionar os eventos atuais com a profecia bíblica é rejeitada por eruditos
que acreditam que tanto Isaías quanto Ezequiel se referiam a algo que já ocorreu:
o ataque dos assírios contra Damasco no ano 732 a.C.
É o que defende Hank
Hanegraaff, teólogo com vários livros publicados no Brasil, e apresentador do
programa de rádio “Bible Answer Man”, onde esclarece dúvidas sobre a Bíblia.
Questionado por um ouvinte sobre o texto de Isaías 17, foi enfático: “Usar essa
passagem de Isaías para explicar o que está acontecendo atualmente na Síria é
um bom exemplo “escatologia de imprensa”. É uma vergonha os pastores fazerem
isso. Ou eles não conhecem a palavra de Deus ou quererem promover o
sensacionalismo e sofismas”.
Hanegraaff defende a ideia,
comum nos seminários tradicionais, que Isaías 17 foi cumprido há milhares de
anos. “Se olharmos para o que a Bíblia realmente diz, fica muito claro que o
cumprimento da profecia também é relatado pelo texto bíblico. Se você olhar
para o que começa a ser dito em Isaías 7, verá uma permutação, e seu
cumprimento é descrito no capítulo seguinte, em Isaías 8”.
No entendimento de
Hanegraaff, quem foge da interpretação histórica dessas passagens está tentando
“encaixar as profecias em suas próprias visões escatológicas”.
Ele não está sozinho. A
doutora Candida Moss, professora de Novo Testamento e Cristianismo Primitivo na
Universidade Católica de Notre Dame, também acredita que a prometida destruição
de Damasco ocorreu no século VIII antes de Cristo, mais especificamente na sua
conquista pelos assírios, em 732 a.C. “Porém, essa não foi a única vez que
Damasco testemunhou grandes conflitos”, sublinha Moss.
Entre os conquistadores de
cidade, sempre com algum tipo de destruição, incluem-se o rei Nabucodonosor, da
Babilônia, e o rei grego Alexandre, o Grande. Menos conhecido no Ocidente, o
general islâmico Khalid ibn al-Walid, fez um cerco militar à cidade, no século
7. Posteriormente, na início do século 15, os exércitos turco-mongóis de Timur-i-Lenk (Tamerlão, em português)
conquistaram Damasco, matando toda a sua população./CBN
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