As contas dos quatro anos
iniciais do primeiro mandato do governador Rui Costa (PT) ainda não passaram
pelo crivo da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). Dos pareceres prévios
emitidos pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), apenas o de 2015 foi apreciado
na comissão de Finanças e Orçamento da Casa e enviado à Mesa Diretora.
As contas referentes a 2016 e
2017 só foram distribuídas para emissão de parecer na comissão no começo deste
ano e estão, respectivamente, sob responsabilidade dos deputados Vitor Bonfim
(PL) e Zé Raimundo (PT).
“A de Zé Raimundo está pronta
já. Eu não posso colocar em votação a de Zé Raimundo sendo que a de 2016 não
votou ainda, tem que ter sequência anual. Tem que esperar a de Vitor”, informa
o presidente do colegiado, deputado Robinho (PP),
As contas de 2018 estão nas
mãos do deputado Zé Cocá, conforme antecipou o BNews na ocasião em que o
processo do TCE chegou à AL-BA.
A expectativa inicial é que,
no retorno aos trabalhos, os pareceres sejam aprovados no colegiado e passem a
constar na Ordem do Dia para ter o veredito do Plenário.
"Eu não era o líder, não
posso responder pelo passado. Assim que eu cheguei, conversei o presidente
Nelson Leal e pedi para colocar [a conta de 2015] na Ordem do Dia [...] Não
votamos na última sessão [antes do recesso] por questão de tempo, fizemos
acordo só para votar a LDO. Mas logo nesse início agora vamos votar uma das
contas dele", sinaliza o deputado Rosemberg Pinto (PT), líder da bancada
governista.
Negociações
Internamente, o processo de
julgamento de contas é visto, principalmente por governistas, como uma espécie
de homologação e é tocado pela Casa em ritmo paralelo ao previsto pelo
regimento interno [ver abaixo].
“Eu estou cansado de dizer
que a Assembleia ao longo do tempo se transformou em um órgão homologador dos
interesses do governador. Quem tem feito a pauta ao longo dos anos é o líder do
governo, e deveria ser o presidente da Assembleia [...] se [os relatores] não
analisarem, me cobre a partir do dia 5 [de agosto] para eu solicitar o envio da
proposta para o plenário, já houve muito tempo para isso”, reclama o líder da
oposição, Targino Machado (DEM).
“É normal [a demora], mas não
é bom que atrase tanto. É um espaço de poder da Assembleia e seria bom que ela
não se reservasse tanto para exercer, porque se o quadro muda...”, pontua o
cientista político Joviniano Neto, ao sinalizar para o eventual uso político do
tema na disputa municipal de 2020.
Mas os termos negociados para
votação podem acabar envolvendo pedidos dentro da própria base governista.
“Negociações políticas quando o governo tem a maioria, como é o caso, seriam
fáceis, embora a base de Rui Costa é uma base heterogenia. Pode servir de
instrumento de negociação”, acrescenta o professor.
O que diz o Regimento
O caminho para votação das
contas na AL-BA, segundo regimento interno, começa com a publicação no Diário
Oficial dos anexos das contas e do parecer do TCE. A partir da publicação, o
conteúdo fica por 10 dias na Secretaria da Mesa à disposição dos parlamentares,
que neste período podem pedir informações ao Executivo e ao TCE.
O artigo 212 detalha que “os
pedidos de informação serão encaminhados pela Presidência, aguardando-se o seu
atendimento por 15 dias”. Depois disso, o processo é remetido à comissão de
Finanças para que emita parecer no prazo de 15 dias, “concluindo por projeto de
decreto legislativo”, que deverá ser imediatamente publicado e aberto para
recebimento de emendas – abrindo novo prazo de 10 dias. Encerrada essa
validade, a Comissão de Finanças deve dar parecer sobre as emendas e o projeto
avança para ser incluído na Ordem do Dia.
“Se as contas do Governador
não forem prestadas dentro do prazo, a Assembleia constituirá Comissão Especial
para tomá-las”, assinala o artigo 2017 do Regimento Interno da AL-BA.
“Não sei por que o governo
não pede para colocar em votação, porque não tem risco. Se tivesse risco, tinha
sentido, para não ter desgaste na mídia e tal. Se eu fosse o governador Rui
Costa eu teria ligado para o Nelson [Leal, presidente da AL-BA] ou para o
relator ou para o líder. ‘Coloca em votação minhas contas que estão aí de
quatro anos’, não justifica”, acentua o governista Robinho.
“Eles acham que isso pode dar
desgaste, pode dar palanque à oposição e por isso não colocam. A democracia é
feita por maioria de votos e eles têm 45 e nós somos 18. Nós não temos número
sequer para iniciar uma Comissão Parlamentar de Inquérito [...] mas vamos tomar
iniciativa para trazer isso para votação”, emenda Targino Machado.
Retrospecto
Ao longo dos anos, apesar das
aprovações, o governador acumulou seguidas ressalvas, recomendações e alertas
da Corte de contas, que até então não ocuparam o espectro político da AL-BA.
Segundo Rosemberg Pinto, a
emissão de ressalvas é prática recorrente dos tribunais auxiliares a quase
todos os gestores públicos. Ele contrapõe, contudo, que o viés político de
agentes técnicos não deve se misturar à apreciação das contas.
“No TCE que há, pelo menos,
uma determinada posição que tem uma visão política e que analisa contra sempre
o governador Rui Costa, é normal que tenha esse tipo de ressalva [...] Eu acho
que a gente vai votar todas as contas do governo na Assembleia sem qualquer
tipo de problema, porque não há problema", argumenta.
Em 2015, seu primeiro ano de
governo, Rui teve contas aprovada com 44 recomendações. O relator foi o
conselheiro João Bonfim, ex-prefeito e ex-deputado estadual. Conselheiros TCE
apontaram naquele ano problemas na divulgação de salários dos servidores,
controle interno nas secretarias e risco em exceder o limite de gastos com
pessoal.
Em 2016 o governo assegurou
novamente a aprovação e viu cair para 18 o número de recomendações citadas na
relatoria do conselheiro Marcus Presídio.
Em 2017 o relator,
conselheiro Pedro Lino, recomendou a rejeição das contas, mas teve voto
superado pelos outros cinco conselheiros. Assim, o parecer prévio foi aprovado
com 23 recomendações e alerta sobre gasto com pessoal.
Pedro Lino registrou 15
determinações, 15 recomendações e apontou que o governo gastou em propaganda
valores muito acima do previsto no orçamento. Foram R$ 209 milhões contra a
previsão de R$ 162 milhões. Naquele ano, segundo o TCE, Rui ultrapassou 90% do
limite prudencial de gasto com pessoal.
Na apreciação do extrato
orçamentário de 2018 a maioria dos conselheiros voltou a conceder aprovação,
mas com o alerta de que Rui avançou em 95% o limite prudencial de gasto com
pessoal – dessa vez de 90% para 95%. O texto do relator Antonio Honorato de
Castro Neto listou ainda 13 ressalvas e 32 recomendações.
“Será que só iremos
desaprovar as contas quando estiver instalada uma incontrolável crise fiscal,
financeira e social, como no caso de outros estados, a exemplo do Rio de
Janeiro”, disse o conselheiro Pedro Lino, único a defender a reprovação das
contas.
Colaborou Pedro Vilas
Boas./bnews
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