O indígena Vítor Braz de Souza, 22 anos, da etnia Pataxó, foi assassinado com um tiro no pescoço, na noite deste domingo (13), dentro da comunidade indígena Ponta Grande, na cidade de Porto Seguro, onde vivia com sua esposa e dois filhos, um deles de apenas um mês de vida.
Após um dia inteiro de trabalho em uma barraca de praia, Vitor chegou em casa por volta das 23h e ouviu da esposa a dificuldade da criança em dormir por conta do volume do som de uma festa - feita por não indígenas - que acontecia dentro do território. A primeira ação de Vitor foi reclamar em um grupo de WhatsApp formado por outros indígenas e lideranças. Em seguida, dado o nível do incômodo, o jovem decidiu ir até o local, onde fora recebido com hostilidade e atingido pelas costas após um convidado do evento disparar contra ele. O desfecho trágico deixou a comunidade completamente abalada.
O relato foi feito pela liderança indigna Thyara Pataxó, da Aldeia Novos Guerreiros, que fica dentro do território de Ponta Grande. A área está em processo de demarcação. De acordo com Thyara, eventos, inclusive com música, são recorrentes naquela área nos finais de semana e a orientação do cacique e lideranças é de sempre acionar a Polícia Militar. “O Vitor fez queixas nos grupos da comunidade. Aqui é todo final de semana a mesma coisa. E toda vez é liga para a polícia, só que até a polícia já está cansada de tanto ouvir reclamação da gente, eles nem atendem mais. A gente cansa de ligar e não é atendido. Algumas vezes vem e outras não. Ontem foi diferente, Vitor estava muito incomodado”, conta.
“A gente estava achando que era um casamento, um aniversário. A gente não tinha noção de que era uma festa que estava sendo muito bem divulgada nas redes sociais, que era uma festa de influencers, e que a comunidade não foi avisada, o cacique não foi avisado, nenhuma das lideranças foram avisadas”, enfatiza.
O local onde o evento aconteceu pertence a um indígena morador da comunidade, que alugou o espaço. Procurado pelas lideranças da comunidade após o ocorrido, o dono da casa informou que não sabia que o evento seria realizado. “Todos os lados que a gente vai para essa história é absurdo por cima de absurdo. Violência por cima de violência e que infelizmente”, diz antes de ser interrompida por um choro compulsivo.
“A comunidade inteira, todo mundo muito abalado pelo que aconteceu. A gente não imaginou que chegaria a essa situação. Um segurança da festa estava revistando todo mundo e um cara simplesmente pegar uma arma e se achar no direito de tirar a vida de outra pessoa quando essa pessoa está reivindicando o direito dela.”
O caso também foi denunciado por Thyara no Twitter, e tem causado revolta. Vitor, de acordo com a liderança, era atuante nas mobilizações coletivas. Após o disparo, Vitor chegou a ser socorrido ao Hospital Luís Eduardo Magalhães, mas não resistiu.
O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia Territorial de Porto Seguro. Por meio de nota, a Polícia Civil informou que um homem, ainda não identificado, efetuou os disparos após Vítor reclamar do volume de um som e os policiais seguem nas buscas para identificar e prender o autor.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Porto Seguro informou que "que não houve solicitação para liberação do evento conhecido como “paredão” em uma residência localizada na BR-367 após a Ponta Grande"./Correio
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