O presidente
Michel Temer deve ser apontado pelo ex-deputado Eduardo Cunha como o
'verdadeiro chefe' da quadrilha do PMDB na Câmara (Sergio Lima/AFP)
Por razões óbvias, a parte
relativa ao presidente Michel Temer é considerada a mais vistosa da proposta de
delação do ex-deputado Eduardo Cunha. Nos dez capítulos dedicados
exclusivamente ao presidente, há acusações das mais diversas.
Nas palavras de
um interlocutor com quem tem conversado frequentemente, Cunha pretende
demonstrar que o presidente da República é o “verdadeiro chefe” da organização
criminosa formada pelo chamado “PMDB da Câmara”. Ele se dispõe a revelar
negociações de propinas ocorridas na presença de Temer.
No rascunho da delação, Cunha
relacionou Michel Temer a negócios escusos na Petrobras, especialmente na área
internacional da estatal, onde foram alojados executivos indicados pelo
presidente.
Ele também liga o Temer a
propinas pagas por empresas que atuam no setor de aeroportos e no Porto de
Santos, ambos comandados, durante anos, por aliados do presidente – ao analisar
arquivos encontrados no material apreendido com Cunha, por sinal, os investigadores
da Lava-Jato encontraram um dossiê com informações sobre a atuação de Temer no
porto do litoral paulista.
“Tudo indica que, apesar de aliado, ele sempre
desconfiou de Temer e guardava informações que poderiam ser usadas contra ele
no futuro”, disse a VEJA um dos encarregados da investigação.
Integram ainda o cardápio da
delação encontros entre o presidente e empreiteiros para discutir doações
eleitorais ao PMDB atreladas à liberação de recursos do FI-FGTS, o fundo
administrado pela Caixa que investe dinheiro dos trabalhadores em projetos de
infraestrutura e cujas decisões cabiam, em grande medida, a apadrinhados do
partido.
Temer teria se reunido, por exemplo, com Benedicto Junior, executivo
da Odebrecht, e com Léo Pinheiro, da OAS, para acertar doações em troca de
aportes. Outro episódio que o ex-deputado prometeu relatar envolve um
investimento na concessionária Via Rondon, uma das empresas da família
Constantino, fundadora da companhia aérea Gol.
Segundo Cunha, Temer deu o
aval para que a empresa financiasse campanhas de políticos do PMDB como
contrapartida à liberação do dinheiro. “O objetivo é provar que ele [Cunha]
desempenhava apenas uma função dentro de uma organização criminosa, composta
por líderes do PMDB da Câmara e comandada por Michel Temer”, diz outra fonte
envolvida na negociação do acordo.
Além dos capítulos ofertados
por Cunha, os procuradores já preparam uma lista de assuntos sobre os quais
exigirão que o ex-deputado fale. Um deles envolve um emaranhado de empresas
abertas pelo grupo de Cunha para receber propinas em paraísos fiscais. A
Lava-Jato tem indicações de que essa é a ponta de um novelo que pode ligar
Temer a contas secretas no exterior./veja
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