É assim que os principais
aliados de Rodrigo Maia (DEM-RJ) veem a atual situação do presidente da Câmara:
Maia não faz campanha, não pede votos para assumir a Presidência da República –
mas é candidato.
Em conversas reservadas, Maia
repete que jamais empurraria Michel Temer para fora do Palácio do Planalto. Que
o presidente pode até sair, mas não por uma articulação sua, não por sua
caneta. O recado chegou a Temer – que repete ver lealdade de Maia em meio a
maior crise política do governo.
Na avaliação de Maia, não
fazer campanha significa não negociar ministério em governo futuro para o
partido A ou B se ele prometer votar a favor da denúncia, não oferecer cargo na
estatal C ou D se o parlamentar y virar dois ou três votos em plenário no
"dia D", "d" de denúncia em votação.
Em resumo: Maia diz aos
deputados que não será o Temer de Dilma
Rousseff. Em outras palavras, repete no bastidor que será leal ao presidente ao
não fazer a campanha que o PMDB fez na Câmara, voto a voto, a favor do impeachment.
Porém, Maia é candidato. E
diz a quem pergunta, ou a quem o estimula a se posicionar publicamente que, se
a Presidência cair no seu colo, ele estará preparado.
Diz isso para os partidos da
oposição e da base aliada. Um deputado amigo de Temer e de Maia repetia na
quarta-feira que "Michel Temer só estava na Presidência ainda porque Maia
não estava fazendo campanha".
Quando Maia se elegeu
presidente da Câmara, elegeu-se sem o apoio do Palácio do Planalto. Pior: com
campanha contra da cozinha do Planalto de Michel Temer.
Naquela momento, em 2016,
Geddel Vieira Lima- todo poderoso ministro do Planalto- colocou a máquina do
governo, com cargos e emendas, à disposição de Rogerio Rosso- candidato de
outro então todo poderoso- hoje preso: Eduardo Cunha.
Assim como Cunha, Geddel
também foi preso. O ex-ministro foi detido na semana passada.
Mas naquele período de 2016,
sem apoio do Planalto, Maia trabalhou para dentro. Articulou com partidos da
base e da oposição. Conseguiu apoio do Pc do B, parte do PT e da antiga
oposição – foi o suficiente para derrotar o centrão, comandado por Cunha e
Geddel.
Foi só na véspera da eleição
de Maia, em um jantar de aniversário de Mendonça Filho, ministro da Educação e
do mesmo partido de Maia, que Temer decidiu apoiar Maia.
Motivo: Aécio Neves comunicou
na festa, ao presidente Michel Temer, que o PSDB em peso apoiaria Maia.
Maia sabe que elegeu-se a
primeira vez a despeito da campanha contra do Palácio do Planalto. Sobre o
sogro ministro, repetia que Moreira Franco não mexeu uma palha para ajudá-lo. E
que o governo só entrou quando a eleição estava ganha.
E atribuiu a primeira eleição
ao apoio, principalmente, do PSDB, DEM e partidos da oposição.
Para comprovar, em seu
discurso de vitória, Maia lembrou nomes como Aécio Neves e Orlando Silva- sem
menção especial ou deferência aos inquilinos do Planalto.
É exatamente a interlocução
com os líderes de diferentes partidos que cacifou Maia como alternativa
"real" a Temer, como dizem deputados habitués da residência oficial.
Há algumas semanas, Maia
jantou com Aldo Rebelo, um dos principais líderes do PC do B e interlocutor,
assim como Orlando Silva, de Maia com setores da oposição.
Mas Maia dialoga com a
oposição no ambiente legislativo. E faz questão de frisar isso, de desmentir
qualquer conversa recente com Lula a quem pergunta se ele buscou apoio do
ex-presidente em suas conversas. Repete que "nunca".
Mas compôs na dinâmica
interna da Casa com os partidos da oposição, com distribuição de relatorias,
indicações em comissões e negociações para cargos na Mesa Diretora.
Para além da política, desde
que assumiu a presidência da Câmara, Maia buscou interlocução com a equipe
econômica e com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Repete que é um presidente
normal, e "pessoas normais dialogam sem gritar".
Irrita-se, no entanto, quando
é questionado sobre os dois inquéritos a que responde no STF. São investigações
resultantes de colaborações premiadas da Odebrecht.
Maia diz que nunca recebeu
vantagem indevida e que vai provar sua inocência na Justiça.
Sobre a agenda econômica,
brinca nos bastidores que, para fazer o país dar certo, quem assumir o Brasil
se Temer sair precisaria "parar de mentir e vir a público" dizer que
o país está quebrado, e que a situação
fiscal é complicada. Por isso, precisa-se aprovar as reformas.
Antes de Temer viajar para a
Rússia, há duas semanas, Maia recebeu o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, na residência oficial da Câmara.
Maia e Meirelles têm
excelente relação. Na pauta: as reformas. Quando discute a aprovação da reforma
da previdência com deputados, Maia diz a eles que não existe outro caminho. E
que está fora de cogitação abandonar a pauta.
Com o STF, o presidente da
Câmara sempre procura ministros da Corte antes de iniciar uma pauta polêmica,
que possa gerar questionamentos jurídicos.
Para evitar eventuais
conflitos entre Poderes, costuma consultar a ministra Cármen Lucia, presidente
do STF. Exemplo recente foi o rito da denúncia contra Michel Temer.
Ele conversou na semana passada com a ministra para
explicar o que pretendia fazer, segundo o regimento, com o desenrolar da
denúncia.
Maia tem boa interlocução com
os ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça.
Como faz a deputados e
ministros de Temer, já sinalizou a integrantes do Judiciário que está a postos
se o destino jogar no seu colo a Presidência da República.
Supersticioso, Maia, quando
assumiu a presidência da Câmara, pediu a um padre que benzesse a residência
oficial da Casa- antes ocupada por Eduardo Cunha.
Repete a aliados que nunca
teve relação de proximidade com Cunha, que convivia na relação de deputado e
presidente da Câmara. E que o momento mais difícil da sua gestão como
presidente da Câmara foi a condução do processo que cassou Cunha, em 12 de
setembro de 2016.
A quem perguntava o motivo,
Maia dizia que ninguém queria ser o responsável pela cassação de um par. Mas
que não ia fugir de sua responsabilidade como presidente da Câmara.
Maia repete a aliados que não
faz campanha, mas se Temer cair, não vai fugir: estará preparado para assumir
porque "mesmo se não quisesse, é candidato".
Como prevê a Constituição, em
caso de vacância da Presidência, assume o vice. Sem vice, assume interinamente
a presidência da República o presidente da Câmara. No caso, Maia.
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