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terça-feira, 7 de abril de 2020

"Como o Congresso deu respaldo e bancou Mandetta no ministério da Saúde"



O deputado Rodrigo Maia cumprimenta o ministro Luiz Henrique Mandetta


Em meio à tensa reunião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com todos os seus ministros na tarde desta segunda-feira (6) em que seria definida a permanência ou não no cargo do titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, um recado foi dado ao chefe do Executivo: o de que o Congresso Nacional não receberia bem a demissão.

A mensagem foi enviada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a outros ministros, que se encarregaram de repassá-la a Bolsonaro.

O posicionamento de Alcolumbre é parte do conjunto das explicações que determinaram a continuidade de Mandetta no comando da Saúde, mesmo após as críticas públicas feitas a ele por Bolsonaro nos últimos dias. Embora a indicação e a demissão de um ministro sejam decisões exclusivas do presidente da República, o suporte do Congresso Nacional para este tipo de medida é positivo. E Alcolumbre indicou que os deputados e senadores condenariam a postura de Bolsonaro, o que poderia comprometer ainda mais a já delicada relação entre Legislativo e Executivo.
A permanência de Mandetta foi defendida por justificativas técnicas. A maior parte dos parlamentares entende que o ministro tem adotado os melhores procedimentos para o combate à pandemia de coronavírus. Mas há também o componente político. Mandetta é filiado ao DEM, o mesmo partido de Alcolumbre, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e de dois outros ministros: Tereza Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Cidadania). Além disso, ele foi deputado federal por dois mandatos, o que o aproxima de grande parte dos parlamentares.
Em sua defesa, entretanto, não saíram apenas integrantes de seu campo ideológico. Mandetta recebeu suporte de políticos de diferentes vertentes e colocou no mesmo lado congressistas de quem raramente se esperaria uma aliança.

Campanha "Fica Mandetta"

"Bolsonaro continua jogando roleta russa com a vida dos brasileiros. Ele está tramando a DEMISSÃO DO MANDETTA, que pode ser substituído pelo terraplanista sanitário Osmar Terra, defensor do fim do isolamento. Nos ajudem subir a hashtag! #FicaMandetta"
O "#FicaMandetta" acima não foi escrito por alguém do DEM nem ao menos por algum representante de direita, ou mesmo do centro. Mas sim pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), opositor do governo Bolsonaro e representante do partido mais à esquerda com membros no Congresso Nacional. Na mesma linha, o senador Humberto Costa (PT-PE), no início da tarde, quando a dispensa de Mandetta ainda era o cenário mais provável, declarou que o desligamento do ministro era um "grave equívoco".
Presidente nacional do MDB e também líder do partido na Câmara, o deputado Baleia Rossi (SP) postou em seu perfil no Twitter que a legenda "não participa de nenhuma conversa com a Presidência da República sobre mudança no Ministério da Saúde" e que "Como a maioria dos brasileiros, acho que @lhmandetta [o ministro Mandetta] faz um bom trabalho".
O MDB de Rossi é o mesmo partido de Osmar Terra (RS), deputado federal, ex-ministro da Cidadania e nome que foi o mais cogitado, ao longo da segunda-feira, para assumir a Saúde no lugar de Mandetta. O parlamentar gaúcho tem visões sobre a quarentena semelhantes às de Jair Bolsonaro e chegou a participar de um almoço, também nesta segunda, com o presidente e ministros no Palácio do Planalto – encontro que não contou com a presença de Mandetta.
Já o senador Angelo Coronel (PSD-BA) divulgou que considerava a possível demissão de Mandetta um "desserviço à nação". O parlamentar relembrou outro rumor registrado há alguns meses, o de conflitos entre Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. "O Moro foi vítima desse ciúme e dessa vaidade, mas conseguiu escapar, pelo menos até o momento. Fica um aviso aos ministros: se não quer ser o próximo a cair, cuide de não aparecer muito", apontou.
À Gazeta do Povo, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse não saber precisar o quanto o apoio do Congresso foi decisivo para a permanência de Mandetta, porque é difícil entender a lógica dos processos de decisão do presidente. O parlamentar afirmou também que a continuidade do trabalho do ministro foi a melhor decisão para o momento, já que o trabalho dele é "baseado na ciência". E na avaliação do deputado Tiago Mitraud (Novo-MG), a manifestação pró-Mandetta de membros de diferentes partidos "deve ter feito Bolsonaro enxergar que estaria sozinho nessa decisão".

"Optamos por não polemizar"

O líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), celebrou a continuidade de Mandetta à frente do Ministério: "é uma notícia boa para o Brasil", afirmou, à Gazeta do Povo.
Segundo o parlamentar, seu partido optou por "não polemizar" diante da crise estabelecida entre Mandetta e Bolsonaro. "Não quisemos polemizar no âmbito político, para que isso não contaminasse a discussão. Saímos em defesa do Mandetta, mas a decisão sempre foi do chefe do Poder Executivo", declarou.
Efraim alegou que a relação entre o DEM e Bolsonaro será, após o episódio, de "canal aberto para o diálogo". "Nós continuaremos com independência em nossas decisões", destacou.

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