Três meses depois do primeiro
caso registrado na Bahia, apenas 78 dos 417 municípios do estado seguem sem
residentes infectados pela covid-19, segundo a Secretaria de Saúde do Estado da
Bahia (Sesab).
As cidades resistentes estão
espalhadas por 22 das 28 divisões regionais de saúde. Isso significa que seis
regiões já foram tomadas pelo novo coronavírus. São elas: Salvador, Camaçari,
Cruz das Almas, Valença, Juazeiro e Ilhéus.
O posto de cidade mais
populosa da Bahia sem casos de covid-19 foi alvo de controvérsia no final de
semana. O último boletim divulgado pela Sesab, na sexta-feira (5), colocou o
município de Paratinga, a 729 km de Salvador, com dois casos confirmados. “Os
pacientes não moram mais em Paratinga. O problema é que o cartão do SUS deles foi
feito aqui”, explica a secretária de saúde Carmella Zanin.
O boletim do dia seguinte,
sábado, confirmou que a cidade não tem notificação da doença - ambos os
registros são de pessoas que moravam em Salvador e São Paulo. Paratinga, no Oeste do estado, à beira do Rio
São Francisco, tem 32 mil habitantes, sendo apenas a 89ª no ranking de maiores
municípios baianos segundo o IBGE.
“Quando a cidade apareceu no
boletim da Sesab, foi um grande problema pra gente. A população fica nervosa,
começam a dizer que estamos escondendo casos. Mas Deus tem sido maravilhoso
mantendo a doença longe da cidade”, diz a secretária municipal.
O segundo posto pertencia até
sábado (6) à cidade de Carinhanha, a 787 km de Salvador. A cidade ficou livre
do covid por quase três meses, até ter o primeiro caso registrado no último
boletim da Sesab. Carinhanha possui 29 mil habitantes, sendo a 99ª maior cidade
baiana segundo o IBGE. O município fica na região de Guanambi.
Sem Carinhanha e sem
Quijingue, que também registrou o primeiro caso no último final de semana, o
posto de segunda maior cidade sem covid-19 ficou para Santana, na Região de
Santa Maria da Vitória, Oeste do estado. O município de 26,6 mil habitantes é
apenas o 118º no ranking do IBGE e fica a 839 km de Salvador.
Confira a lista completa das
cidades baianas sem covid-19 ao final da matéria. Cercadas de perigo.
As cidades citadas anteriormente
guardam algo em comum: estão distantes de Salvador, Ilhéus, Itabuna e outros
locais que concentram a maioria dos casos da Bahia. Encravadas em epicentros do
novos coronavírus, cidades como Itaju do Colônia, Jucuruçu e Itagimirim chamam
atenção: nenhuma das três registrou casos de contaminação.
Itaju do Colônia tem 6,6 mil
habitantes, a 392ª maior cidade da Bahia. Está na região Sul, que concentra
quase 10% dos casos de covid-19 no estado, localizada a 100 km de Itabuna, que
tem 1.101 casos; 130 km de Ilhéus, que tem 722; e a 70 km de Camacan, que tem
113.
Junte a isso o fato da
cidadezinha ser dependente das três que a cercam. Muitos moradores de Itaju têm
parentes que trabalham nelas ou precisam sair e retornar no mesmo dia para
resolver questões bancárias ou ir a uma consulta médica, por exemplo.
“Por isso temos quatro
barreiras sanitárias, uma em cada saída da cidade, para monitorar quem entra e
sai. Estamos tentando conscientizar nossa população, para que evite visitar as
cidades vizinhas. Se a doença chegar aqui, vai ser muito difícil tratar, vai
pegar todo mundo”, desabafa o prefeito Djalma Orrico.
Historicamente, um dos
maiores empecilhos para o desenvolvimento econômico de Itaju tem sido o acesso
ruim. São duas estradas de ligação. Uma, de terra. A outra, que era de asfalto,
encontra-se em péssimas condições. O que era prejuízo, tornou-se uma vantagem.
E pode ser um dos motivos para a preservação da cidade:
“Realmente, fica muito fora
da rota. E estamos vendo a população ficando mais em Itaju. E quem entra é
acompanhado pela nossa vigilância e orientado a ficar de quarentena”, comenta o
prefeito.
Apesar da boa marca até aqui,
a cidade sabe que a covid-19 deve
visitá-la. “A gente explica para a comunidade que eventualmente vai aparecer.
Não dá para dizer que Itaju não vai ter caso. Mas que precisamos aproveitar
enquanto estamos zerados para nos preparar”, diz o prefeito.
O Caso Jucuruçu
Outro caso curioso é o de
Jucuruçu, no Extremo-Sul. O município de 9,1 mil habitantes é vizinho de Itamaraju,
onde já foram detectados 190 casos, com duas mortes. A relação com a cidade
vizinha é diária. “É a nossa referência para tudo. Serviço bancário, INSS,
fórum, policiais que fazem segurança aqui são enviados de lá. Então tem um
fluxo muito grande de pessoas”, conta o secretário de saúde de Jucuruçu, Roni
Patrick.
Assim que começaram os casos
nos municípios vizinhos, a prefeitura teve que agir: “Nós dispensamos os
serviços de profissionais de saúde que moram em Itamaraju e vêm para cá
atender. Além disso, a nossa assessoria jurídica, que é de Itamaraju, está
trabalhando de maneira remota”, explica o secretário.
Além da relação com
Itamaraju, Jucuruçu tem outra dificuldade: trata-se de um município extenso,
com uma sede pequena e 70% da sua população dispersa na zona rural ou em
distritos urbanos distantes. Assim, a fiscalização é dificultada.
Nesse caso, o que é problema
também pode ajudar. A distância oficial entre Jucuruçu e Itamaraju é de 101 km.
Por conta das péssimas condições da estrada, no entanto, a viagem pode demorar
mais de duas horas. Para Teixeira de Freitas, é um passeio de pelo menos três
horas.
Por conta disso e pelo medo
do vizinho, a prefeitura entende que o fluxo diário habitual entre Jucuruçu e
Itamaraju muito. Porém, sabe que, ainda assim, o primeiro caso vai acontecer um
dia. “Pode aparecer a qualquer momento. Eu já falei para a equipe que não
podemos ficar presos ao boletim epidemiológico, do nada pode aparecer três ou
quatro com sintomas. Então o que a gente precisa é preparar os profissionais e
conscientizar a população”, diz o secretário Roni Patrick.
"Não tenha dúvida que
vai contaminar mais cedo, ou mais tarde, o que se faz é retardar o pico. Pode
não ser possível fechar a cidade, mas o que se poderia tentar fazer é frear.
Infelizmente, nem todos têm essa infraestrutura, mas é o que poderia ser feito,
além dos testes em massa", comentou.
Questão de Tempo
A preocupação dos gestores
municipais com o natural avanço da covid-19 é compartilhada por especialistas,
que endossam a certeza de que o vírus segue sua curva ascendente.
O epidemiologista Fernando
Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), explica que a confirmação de
casos de coronavírus nessas 79 cidades é uma questão de tempo - até porque, já
podem até existir pacientes com a doença, mas assintomáticos.
A principal ação que esses
municípios poderiam tomar, para amenizar os impactos, seria já preparar uma
estrutura e pensar formas de isolar os pacientes. Blindar, mesmo, só seria
possível se fosse instituído um lock- down (confinamento) total dos moradores,
sem saída, nem entrada de pessoas, como explicou o professor.
Confira a lista de cidades
sem covid-19 na Bahia:
“Não tenha dúvida que vai
contaminar mais cedo, ou mais tarde, o que se faz é retardar o pico. Pode não
ser possível fechar a cidade, mas o que se poderia tentar fazer é frear.
Infelizmente, nem todos têm essa infraestrutura, mas é o que poderia ser feito,
além dos testes em massa”, comentou./correio24horas
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