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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Caso de vaca louca no Brasil trava mercado do boi e frigoríficos suspendem abates

 

Gado em fazenda de Escondido, na Califórnia - Ariana Drehsler/AFP

Um caso da doença "mal da vaca louca" no Pará, que foi confirmado por autoridades sanitárias brasileiras, travou o mercado do boi gordo e deixou frigoríficos no Brasil em compasso de espera nesta quarta-feira (22), com abates suspensos em diversas regiões do país. 

Analistas ouvidos pela Reuters disseram que as indústrias já estavam deixando de comprar gado desde segunda-feira, quando o caso começou a ser investigado, considerando a hipótese de paralisação das exportação de carne para a China —que, de fato, se confirmou. 

O Ministério da Agricultura informou na noite desta quarta-feira que as exportações de carne bovina do Brasil para a China estarão suspensas temporariamente a partir de quinta-feira, seguindo um protocolo sanitário oficial devido à confirmação de um caso da doença Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). 

Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Favaro, tudo indica que a doença seja atípica —caso em que é desenvolvida durante o processo degenerativo do animal, mais comum em bovinos mais velhos, e não tem risco de contaminação para o rebanho ou para humanos.

A confirmação final será feita pelo laboratório da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) no Canadá. 

Mesmo antes da confirmação do caso de vaca louca pelo governo, a indústria já estava em compasso de espera por temores de suspensão das importações para a China. 

Não havia informações sobre quais unidades frigoríficas estavam com operações paradas, em um mercado operado por gigantes como JBS, Marfrig e Minerva. As empresas não se manifestaram de imediato. 

O 'boi China' é um animal com idade inferior a 30 meses no momento do abate e no máximo quatro dentes incisivos permanentes, uma especificação sanitária dos chineses que compram a carne somente vinda deste tipo de gado, cujo preço tem um prêmio em relação ao valor convencional da arroba. 

Na mesma linha, o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, disse que os abates que estavam programados não estão sendo realizados nos frigoríficos. 

"Abates no país todo estão sendo suspensos desde a suspeita da doença. As boiadas que estavam agendadas saíram da programação. Não estão abatendo boi até que o resultado seja anunciado", afirmou. 

O analista da Safras & Mercado Fernando Iglesias também disse que, nesta quarta-feira, "grande parte das indústrias frigoríficas sequer divulgou preços para a arroba, outras simplesmente suspenderam abates em todo o Brasil". 

Ele destacou que os contratos do boi gordo no mercado futuro, cotados na B3, tiveram uma queda agressiva precificando o problema. 

O analista da S&P Global Aedson Pereira afirmou que, antes mesmo da confirmação do caso, a suspeita já gerou um desconforto a cadeia como um todo. 

"Isso preocupa não só o pecuarista, mas gera uma preocupação da própria indústria pela possibilidade de não conseguir dar vazão à produção de carne, e o mercado interno está se arrastando", disse ele. 

Especificamente no Pará, onde a suspeita foi encontrada, Pereira acredita que o impacto seria ainda mais negativo, pois as praças pecuárias do estado contam com os preços da arroba mais baixos do país, atualmente, e diferenças significativas em relação à referência de cotações de São Paulo. 

Dados da S&P mostram que em Redenção (PA) o boi gordo está cotado em R$ 226 por arroba no mercado à vista e R$ 228 a prazo, contra R$ 296 a prazo em São Paulo./folha

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