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sábado, 4 de maio de 2024

Jucuruçu e nossas decepções


Expectativas são facas de dois gumes: podemos desfrutar as delícias em sua realização ou sofrer as dores de sua não consumação. É assim nas expectativas que criamos com nosso par amoroso, em um novo emprego ou na compra do último gadget digital. É também assim na política, quando votamos e esperamos que tais representantes exerçam nossas aspirações no trato, na distribuição do dinheiro público e no retorno de benefícios à sociedade. Expectativa, entretanto, impossível de realizar-se. 

Normalmente, a origem da desilusão é relacionada à quebra de promessas realizadas durante as eleições e na sequência do mandato político. Mas esse é um modo muito simplista de enxergar o que está por trás de todo esse desapontamento. O ponto principal é que os políticos dificilmente vão ajudar você, e os motivos resumem-se por (má) vontade ou por (falta de) capacidade. Assim, deve-se levar inicialmente em conta que eles possuem interesses próprios, que incluem em manter a ordem vigente, fazendo, obviamente, com que o eleitor creia que essa estrutura paquidérmica estatal é algo benéfica a ele próprio. Porém também devemos atentar que os políticos não têm como beneficiar a maioria das pessoas, considerando a sociedade em uma visão mais ampla. Mas daí o leitor pensa: qual é, então, a solução? 

Tal dúvida provém da incoerência em acreditar no Estado como um provedor na economia ou benfeitor social. É matematicamente impossível qualquer organização trazer progresso a um corpo social quando a extração conjunta de recursos é maior do que se provê a esse grupo. Os salários, as aposentadorias, os atravessadores, as propinas e todo tipo de corrupção sempre serão abatidos dessa conta. Se acrescentarmos o processo histórico sui generis do patrimonialismo brasileiro, onde os limites entre o público e privado confundem-se constantemente, evidencia-se claramente a situação natural: mais Estado acaba gerando menos desenvolvimento econômico e social. 

Mas essa não é a mentalidade padrão dos brasileiros. Aqui, idolatra-se a figura do Estado, o ser supremo que existe para resolver todos os seus problemas. Mas como não considerar que esse ser supremo é dirigido pelos políticos? Aqueles mesmos políticos que em geral contém alto grau de impopularidade? As pessoas possuem uma dificuldade enorme para aceitar tal incoerência e separam de forma bizarra o governo e os políticos que o compõem, estimulando um oportuno estudo de Bruno Garschagen para explicar porque os brasileiros não confiam nos políticos, mas amam o Estado. 

As quebras de expectativas que pululam na mente dos eleitores a cada biênio eleitoral provém assim da incapacidade em associar causas e consequências. Se já não é possível esperar benefícios do Estado enquanto tal, ainda seria menos possível idealizar um Estado benigno dirigido pelas pessoas a quem temos tanto desapreço. Bom senso, não é? Mas que falta à grande parte da população brasileira.

Vários setores de nossa sociedade já vem alertando há alguns anos a necessidade de uma mudança de modelo mental, a urgência em demonstrar com fatos óbvios que o Estado é prejudicial e que, além de não ser um agente de desenvolvimento per se, atropela um dos maiores bens que devemos preservar como indivíduo: a liberdade. Esse movimento, embora eu não seja afeito ao termo "revolução", pode ser entendido como uma "contra-revolução cultural" em alusão ao pensamento gramscista, e vem sendo propagando em diversos meios dispondo da imensa ajuda do novo mundo digital, onde a informação não fica mais restrita a poucas empresas de comunicação. 

A mudança na esfera cultural fará com que novos políticos, abertos a essas ideias, sejam eleitos para que se possa reduzir institucionalmente o poder estatal e consequentemente, o poder que uma pequena classe dominante de burocratas e apaziguados, possui nesse país. Descentralizar o poder e empoderar as pessoas em detrimento a qualquer tipo de coletivismo, é a base para o sucesso de cada um de nós. 

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