Ainda não há informações sobre o velório
e sepultamento do jornalista.
Das rádios do interior à locutor de
momentos históricos no Rio
Quando vivia em Cordeirópolis, sua cidade
natal no interior de São Paulo, o apresentador ainda não era jornalista e nem
tinha seu nome artístico. Nascido em 22 de julho de 1932 como João Baptista
Bellinaso Neto, só adotou o “Léo” na assinatura anos depois, encorajado por um
narrador que achava difícil pronunciar seu sobrenome italiano. A solução foi
homenagear à irmã, Leonilda, no novo nome. O sobrenome também foi simplificado,
grafado sem o “p”. Foi como Léo Batista que ficaria conhecido pelos
espectadores de todo o Brasil.
Filho de imigrantes, o jornalista começou a
carreira muito cedo. Aos 15 anos, foi convidado por um primo a fazer um teste
de locução para um serviço de alto-falante da sua cidade natal. Deu certo. Dali
em diante, o jovem se tornou oficialmente locutor e passou a levar notícias
diárias aos moradores de Cordeirópolis.
A oportunidade abriu portas à Léo Batista e o
consolidou como jornalista esportivo. O talento fez com que empresas de rádio
se interessassem pelo rapaz que, pouco depois, foi contratado pela Rádio Difusora
de Piracicaba como setorista do XV de Piracicaba. Naquele momento, o time
atuava na primeira divisão do Paulistão.
Enquanto se destacava na função, o burburinho
de uma tal “rádio com imagem” circulava por todo o País. Era a chegada da TV ao
Brasil, que aconteceu em 1950. Em uma entrevista ao jornal Extra, em 2020, Léo
lembrou como reagiu à novidade.
“Eu pensei: ‘Ainda quero trabalhar nisso’.
Mas não dava para criar expectativas, não sabíamos muito sobre este ‘rádio com
imagem’. Aos poucos, vimos que não era um bicho de sete cabeças. Era algo que
estava chegando para revolucionar a comunicação”, contou.
No mesmo ano, ainda na rádio, ele narrou o
que viria a ser um dos muitos momentos históricos de sua carreira: a cobertura
da primeira copa do Copa do Mundo no Brasil, com a histórica derrota da seleção
para o Uruguai no “Maracanazo”.
Em 1952, se mudou para o Rio de Janeiro e foi
contratado como locutor e redator do programa "O Globo no Ar",
comandado por Raul Brunini na Rádio Globo.
Com seu talento para fazer história, ele
transmitiu o primeiro jogo da carreira de Mané Garrincha no Botafogo, em 1953.
Um privilégio e tanto para um torcedor assumido e apaixonado do glorioso. Sua
versatilidade também o rendeu momentos históricos para além do futebol. Em 1954,
Léo foi o primeiro locutor a noticiar a morte do presidente Getúlio Vargas.
Pioneiro e “a voz marcante da
televisão”
A transição de Léo Batista para a tal “rádio
com imagem” se firmou apenas cinco anos depois da chegada da televisão no
Brasil. Em 1955, ele se tornou o âncora do Telejornal Pirelli, na extinta TV
Rio. Bem adaptado e à vontade em frente às câmeras, o jornalista permaneceu no
cargo por 13 anos e depois partiu para um período breve na TV Excelsior.
A parceria mais duradoura da sua vida
profissional começaria em 1970. Léo Batista conseguiu uma vaga na Globo para
trabalhar excepcionalmente na cobertura da Copa do Mundo, no México. Naquele
ano, o Brasil levou o tricampeonato com Pelé na equipe. Depois da missão
cumprida, ele ganhou uma nova tarefa: substituir Cid Moreira em uma edição do
Jornal Nacional, proposta diferente do que já estava acostumado no meio
esportivo.
O desempenho foi tão bom que a emissora
decidiu renovar a parceria. Quem deu o aval para a contratação foi Boni, na
época superintendente de produção e programação da TV Globo.
Ao Sportv em 2012, Boni apontou o fator
determinante para a admissão. “Ele tem jogo de cintura. Na televisão, jogamos
tarefas nas costas do Léo para as quais ele não estava preparado, mas o hábito
de improvisar o tornava capaz de fazê-las magnificamente bem”, elogiou.
No Jornal Nacional, Léo Batista chegou a
apresentar as edições de sábado. Um ano depois, conquistou um espaço maior: se
tornou o primeiro apresentador do Jornal Hoje, em 1971.
O pioneirismo, marca da sua carreira, o
acompanhou em outros programas. Léo também foi o primeiro a apresentar o
Esporte Espetacular, em 1973, e o Globo Esporte, em 1978. Por um tempo, ele
ainda participou do Globo Rural e narrou os gols da rodada no Fantástico.
Apesar da gama de experiências na emissora,
as “meninas dos olhos”, no entanto, eram os telejornais esportivos. Quem
garantiu foi o próprio jornalista, em entrevista ao jornal O Globo em 2010.
“É evidente que o coração bate mais forte
quando se fala em Globo Esporte e Esporte Espetacular. Também fui o primeiro a
apresentar os dois, dei o meu molho”, considerou.
O “molho” de Léo Batista o rendeu diversos
fãs, incluindo colegas de trabalho como Galvão Bueno e Luís Roberto. O último,
inclusive, foi o responsável por atribuir o título de “voz marcante” a ele.
“Durante uma transmissão, eu estava pensando
‘vou chamar aquela voz que tanto me marcou’, e saiu ‘Léo Batista, a voz
marcante da televisão brasileira’. O Léo é uma escola que nós temos”, contou
Luís Roberto ao Sportv, em entrevista de 2012.
O apelido se tornou até nome de série.
Lançada em 2024 pela Globoplay, a série Léo Batista, A Voz Marcante conta, em
quatro episódios, a história de um dos funcionários mais antigos da TV Globo.
Era o jornalista que também carregava o
título de apresentador a mais tempo em atividade na emissora, após a morte de
Cid Moreira, em 2024. Mesmo com tanto tempo de casa, sempre negava a
aposentadoria.
Questionado sobre o assunto, respondeu ao
jornal Extra, em 2020: “Quem vai me aposentar é o homem lá de cima.”
Léo Batista foi casado por 60 anos com Leyla Chavantes Belinaso. Era viúvo desde 2022, quando a esposa faleceu, aos 84 anos, vítima de um afogamento na piscina. Foi o jornalista que a encontrou desacordada na residência onde viviam, no Rio de Janeiro./ Terra
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