A Petrobrás anuncia que, com
o reajuste que entrará em vigor amanhã, 22, o preço médio do litro da gasolina
sem tributo nas refinarias será de R$ 2,0867, com alta de 0,90% em relação à
média atual de R$ 2,0680. No mês de maio, o combustível acumula alta de 16%. Já
o valor médio nacional do litro do diesel subiu para R$ 2,3716, 0,97% maior do
que a medida atual de R$ 2,3488. No mês, o produto acumula alta de 9,7%.
Os aumentos seguidos nos
preços do diesel levaram os caminhoneiros autônomos a programarem uma
paralisação em todo o País nesta segunda-feira, 21. A categoria pede que uma
série de reivindicações apresentadas ao governo federal sejam atendidas.
Desde que começou a adotar a
política de reajustes diários dos preços dos derivados de petróleo, em 3 de
julho do ano passado, a Petrobrás já elevou o preço do óleo diesel em suas
refinarias 121 vezes, o que representou uma alta de 56,5%, segundo cálculo do
Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Em pouco mais de dez meses, o litro
do produto passou de R$ 1,5006 para R$ 2,3488. Caminhoneiros promovem protestos
nesta segunda-feira, em diversos Estados, por conta do encarecimento do
combustível.
Apenas neste ano, o preço do
diesel subiu 38 vezes, em linha com a sua valorização no mercado internacional.
A atual política da Petrobrás foi criada para acompanhar as variações externas
e considera ainda a competição com importadores. Dessa forma, a empresa vem
demonstrando ao mercado que possui autonomia e não atua para atender os
interesses de governo, mas dos seus acionistas. No passado, durante o governo
petista, os preços eram represados para conter a inflação, o que,
consequentemente, freava a geração de receita da companhia.
+ CELSO MING: A disparada do
petróleo
"Esse é o primeiro teste
da nova política de preços da Petrobrás. Porque, até então, os preços estavam
em baixa. Agora, é um período de continuidade de altas (no mercado
internacional). Na semana passada, o preço do diesel foi reajustado quatro
vezes", afirmou o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (ANP) e professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ
(GEE/UFRJ), Helder Queiroz. Ele acrescenta que os combustíveis contribuem
também com o caixa do governo, não só da Petrobrás. E defende um tratamento
diferenciado para o GLP e o diesel, que pesam no orçamento das famílias de
baixa renda e na economia em geral.
Do valor total do litro do
diesel pago pelos consumidores nos postos, as refinarias da Petrobrás respondem
por 55%. O restante é distribuído entre os governos (29%), em forma de
impostos, fornecedores do biocombustível adicional ao produto (7%) e
distribuidoras (9%). Entre os tributos, uma parcela corresponde à Contribuição
de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), criada para amortizar os reajustes
da estatal e impedir que os consumidores sejam afetados pelas constantes
variações de preços. Em momentos de altas nas refinarias, a Cide cairia e vice-versa.
Esse dinheiro, no entanto, não está sendo utilizado com essa finalidade.
"Será que a melhor
política de preços de combustíveis é essa que está sendo praticada pela
Petrobrás? Existem várias formas de ser fazer isso. O que percebemos é que o
governo não tem uma política própria. Ele deixa toda responsabilidade para a
empresa. O petróleo e os seus derivados estão contribuindo muito com o governo,
sem falar nas alíquotas de ICMS diferenciadas entre os Estados. A do Rio de
Janeiro, por exemplo, é a maior do Sudeste, o que faz com que o combustível
seja mais caro no Estado", disse o especialista.
A alta da cotação do petróleo
e dos seus derivados neste ano foi provocada por fatores geopolíticos e a
tendência é que os preços se mantenham elevados nos próximos meses. A demanda
superou as expectativas em 1,8 milhão de barris por dia neste primeiro
semestre. E o esperado é que assim permaneça até o início de 2019. Aliado a
isso, sem dinheiro para investir, a Venezuela reduziu sua produção de petróleo
de 2,5 milhões de bpd, em 2016, para 1,5 milhão de bpd, atualmente, segundo o
diretor para a América Latina da consultoria IHS Markit, Ricardo Bedregal, que
projeta uma retração ainda maior da produção venezuelana no ano que vem, para
700 mil bpd.
No cenário internacional,
ainda pesa a sanção americana ao Irã, que deve representar um corte de mais 250
mil bpd no segundo semestre deste ano, podendo chegar a 500 mil bpd no ano que
vem. Bedregal destaca que, em junho, a Opep se reunirá para decidir se
compensará essa queda da oferta ou se manterá os volumes atuais para que o
barril chegue a US$ 80, decisão especialmente favorável à Arábia Saudita. Uma
contribuição é esperada, no entanto, dos Estados Unidos, que ainda têm folga
para aumentar a produção em 600 mil bpd.
"A relação entre oferta
e demanda deve permanecer apertada durante todo este ano e pode ter algum
alívio no ano que vem. Se a cotação se mantiver na casa de US$ 70 será muito
bom para a Petrobras, que assim conseguirá bater a meta de alavancagem do fim do
ano (de 2,5x) com facilidade. Com dinheiro entrando, a empresa também vai poder
retornar ao mercado internacional", diz Bedregal, complementando que a
estatal vem demonstrado interesse em ativos de gás natural no exterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário