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terça-feira, 9 de abril de 2019

Itanhém vai virar vila





Conta a história que em 1925 o mineiro Simplício Binas  criou a Vila de Água Preta. Cinco anos depois a vila se tornou distrito, com a denominação de Nossa Senhora de Itanhém. Só em 1958 o município foi emancipado político e administrativamente de Alcobaça. Mas, tudo indica que, faltando menos de um ano e nove meses para o encerramento do seu mandato é visível o projeto da prefeita Zulma Pinheiro (MDB) para retornar Itanhém novamente à condição de vila.

Seguindo a cartilha do pai, Manoel Batista dos Santos, o Neco, Zulma Pinheiro colocou as principais secretarias nas mãos dos irmãos. O ex-deputado Álvaro Pinheiro é o secretário da Educação e quem, na prática, coordena os atos e ações da irmã prefeita. O fazendeiro Newton Pinheiro chefia as secretarias da Administração e Finanças e da Infraestrutura. Fala-se ainda que outro irmão de Zulma Pinheiro, que não mora na cidade, é quem dita as cartas em duas outras importantes secretarias municipais.

Neco administrou o município por dois mandatos, no período de 1989 a 1992 e de 2001 a 2004. O que se vê hoje é o retrato fidedigno da última gestão de Neco, quando Zulma Pinheiro, além de vice-prefeita, era a secretária da Saúde. Nesse ocasião, Newton Pinheiro presidiu com mãos de ferro a Câmara de Vereadores durante quatro anos, tendo alterado o regimento interno para continuar na presidência por dois mandatos e, como nos dias atuais, Álvaro Pinheiro era o manda chuva, com a pequena diferença de que, naquela época, era controlado por Neco Batista, infinitamente mais rigoroso administrativamente do que Zulma Pinheiro.

Enquanto os irmãos mandam e desmandam nas secretarias municipais, outras pastam importantes para o desenvolvimento econômico e para a geração de emprego e renda, como a da Agricultura, por exemplo, nem se ouve falar se elas, de fato, existem. O médico e ex-prefeito Oséas Moreira Lisboa – que é pai do vice-prefeito, o advogado André Lisboa -, desde o início do mandato de Zulma Pinheiro está por lá ‘tampando o sol com a peneira’, fingindo que está prestando serviço à comunidade agrícola.

O comércio itanheense que estava resistindo à crise que atingiu o país com maior intensidade no biênio de 2015 a 2016, ficou cambaleante na administração de Zulma Pinheiro e está prestes a deitar-se de vez por falta de investimentos. A prefeitura pouco compra nos estabelecimentos da cidade. Como o dinheiro não gira, somente na cidade de Itanhém, entre grandes e pequenos, quase três dezenas de estabelecimentos comerciais já fecharam suas portas desde quando a prefeita Zulma Pinheiro e seus irmãos assumiram os destinos de Itanhém.

Um supermercado que fica no distrito de Ibirajá está sendo investigado pelo Ministério Público. A denúncia foi formulada pelo vereador André Correia (PHS), que suspeita que a empresa em nome de Lourival Lopes de Souza, na verdade, pertença a Cristiano Alves dos Santos, que é cunhado do irmão da prefeita, o qual, inclusive, chegou a ser nomeado chefe da Divisão de Tributação, Fiscalização e Arrecadação, ligado à secretaria da Administração e Finanças, que Newton Pinheiro é o comandante.

O desemprego cresceu assustadoramente na nova gestão, o esporte praticamente inexiste, o vergonhoso transporte escolar é sempre manchete nos sites, jornais e redes sociais e a triste situação da saúde, com irregularidade na distribuição de remédios e na presença de dentistas e médicos nos postos e no Hospital Maria Moreira Lisboa, chega a causar medo à população, especialmente à parcela mais carente.

Apesar do município de Itanhém ocupar a terceira posição na Bahia em criação de gado, não se ouviu dizer que a prefeita Zulma Pinheiro levantou uma palha para que o escritório da ADAB (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia), fechado pelo governo do estado, continuasse funcionando no município. Os produtores são obrigados a se contentarem com o atendimento de uma funcionária que se desloca diariamente da cidade de Teixeira de Freitas, isso quando nada a impede de chegar a Itanhém.

Volta e meia causa preocupação a situação das estradas e das pontes que, além do transporte de pessoas e estudantes, servem também para escoar gado de corte e produtos agrícolas. Até uma quantidade menor de chuva é capaz de criar atoleiros e interditar grande parte das estradas. Já foram registrados nesta administração vários acidentes com caminhões que caíram dentro dos rios, depois de parte das pontes se despencarem. Fazendeiros e pequenos produtores, sem alternativa, alugaram máquinas para reconstruírem estradas que foram abandonadas pela prefeita Zulma Pinheiro.

Um olhar ligeiro pela cidade, vilas e distritos qualquer pessoa tem a sensação de que tudo foi abandonado. A histórica Praça da Liberdade, embora o prefeito anterior tenha deixado dinheiro em conta e todo o projeto de reestruturação daquele logradouro pronto, Zulma Pinheiro, por pura picuinha política, não deu continuidade à obra idealizada por Milton Ferreira Guimarães, o Bentivi que, por sinal, pelas suas ações administrativas e pelas grandes obras que deixou nos quatro cantos do município, durante oito anos seguidos de mandato, é considerado um dos maiores gestores da história política de Itanhém.

Na cidade, nas vilas e nos distritos também facilmente se encontra ruas às escuras por falta de reposição de lâmpadas e esgotos à céu aberto, matos e lixos espalhados por ruas, praças e avenidas.

Até que se pode dizer que surgiu uma esperança na população para dificultar a transformação de Itanhém numa vila, quando cinco dos nove vereadores se uniram, no dia 20 de junho de 2017, para fazer oposição à prefeita: André Correia (PHS), Audrey Correia (PR), Whindson Mendes, o Nem Mendes (PP), Marcos Vilas Boas, o Marquinhos (PSB) e Deilton Porto, o Caboquinho (DEM). Bom de oratória, coube a Audrey dá nome ao grupo, que se chamou bloco parlamentar.

A esperança, entretanto, acabou no dia 3 de maio de 2018, quando André Correia, durante sessão ordinária do Legislativo, anunciou a morte da oposição, desejando boa sorte a quem, do bloco parlamentar, traiu o grupo.

Atualmente, André Correia continua na briga diária em defesa dos interesses maiores da população. Os demais vereadores são aliados ou aliados por circunstâncias, com exceção de Marquinhos que, não tendo encontrando oportunidade de fazer aliança com Zulma Pinheiro, vive destilando seu veneno nos microfones da Câmara Municipal.

  Entrada principal da cidade de Itanhém, ano de 1969. FOTOS: Arquivos de Airam Ribeiro  

Enquanto isso, desacreditada, muita gente têm buscado meios de sobrevivência em outras cidades brasileiras e estrangeiras também. Em média, 30 pessoas de Itanhém fazem passaporte por mês. Triste realidade!/aguapretanews

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