O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) rebateu, na noite desta terça-feira (8), denúncias feitas contra o movimento por ex-integrantes ouvidos mais cedo pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o MST na Câmara dos Deputados. Durante a tarde, deputados ouviram três supostos ex-militantes da reforma agrária que acusaram o movimento de diversos crimes. Os três depoentes integram grupo bolsonarista acusado de perseguir membros do MST no sul da Bahia.
“Ao longo da tarde, diversos
ataques ao MST e à luta pela terra foram proferidos: ameaças de morte,
extorsão, lesão corporal, etc. No entanto, em nenhum deles foi apresentado
algum tipo de comprovação dos fatos e das autorias. Nenhum boletim de
ocorrência, inquérito ou processo criminal foi entregue à Comissão”, argumentou
o movimento em nota de repúdio publicada nesta terça (8).
Na tarde desta terça, os parlamentares ouviram três pessoas que dizem ser ex-militantes do MST da Bahia: Elivaldo da Silva Costa, que se diz presidente do Projeto de assentamento Rosa do Prado; Vanuza dos Santos de Souza, ex-participante do Acampamento São João; e Benevaldo da Silva Gomes, ex-participante do acampamento Egídio Bruneto. Os três afirmaram ter sido perseguidos por não participar das mobilizações propostas pelo movimento social.
Para os trabalhadores sem
terra, as acusações sem provas feitas na Câmara dos Deputados evidenciam o
ataque sistemático à luta pela terra por meio da CPI e trazem à tona a
articulação do bolsonarismo em áreas rurais. O MST lembra que Elivaldo,
conhecido como Liva do Rosa do Prado, é abertamente identificado com o
bolsonarismo, inclusive tendo se candidatado a deputado estadual nas últimas
eleições apoiando o ex-presidente.
“Liva é parte de um grupo que, desde 2020, utiliza de métodos violentos para ameaçar e aterrorizar famílias da região. Tal grupo, durante a gestão Bolsonaro, valia-se da promessa de titulação dos lotes nos assentamentos para cooptar famílias e tensionar a relação delas com o MST. No entanto, em todo o estado da Bahia, a gestão Bolsonaro entregou somente 400 títulos definitivos”, explica o movimento.
Reação de parlamentares
Para a deputada Gleisi Hosffmann (PT-PR), é importante que as testemunhas ouvidas pela comissão provem tudo o que falaram nesta terça. A parlamentar deverá pedir que o depoimento de Elivaldo seja incorporado ao inquérito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investiga ataques ao sistema eleitoral. Isso porque o homem conhecido como Liva do Rosa do Prado afirmou à Comissão que o MST controla os votos dos assentados.
“Eu acho que o senhor tem que
ser ouvido porque o senhor fez um depoimento grave. E, mais do que isso, o
senhor vai ter que provar o que disse. Aliás, todos os senhores terão que
provar o que disseram”, disparou Hosffmann. “Peço que oficiem à Polícia Federal
pela segurança dos três, porque eu não tenho duvidas de que vai ter armação de
gente que quer incriminar o MST”, continuou a parlamentar.
Para a deputada Sâmia Bomfim
(Psol-SP), a concessão de terras elogiada pelos depoentes, capitaneada pelo
governo Bolsonaro, trata-se de uma farsa. “O Bolsonaro propagandeou que foram
400 mil títulos de terras concedidos [para a reforma agrária]. Mentira. O
programa Titula Brasil deu 37 mil títulos, e a maior parte foi de renovações
provisórias. A maior parte do programa é por título do domínio, que o assentado
tem que pagar pra ter acesso. Veja você, pagar. Não é esse o modelo de reforma
agrária que queremos”, sintetizou.
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O deputado Valmir Assunção (PT-BA) lembrou que o filho da depoente Vanuza completou seus estudos dentro do assentamento do MST, chegando à pós-graduação em agroecologia. Além disso, o parlamentar contradisse as três testemunhas, que, durante a tarde, afirmaram que o MST os levou para ocupar a Câmara dos Deputados. “Nunca na história da nossa luta, o MST ocupou a Câmara dos Deputados, isso não é verdade”, garantiu./brasildefato
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