O ex-presidente da Odebrecht
Marcelo Odebrecht prestou depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda-feira
(4), disse que o ex-presidente Lula foi beneficiário de pagamentos em espécie
da empreiteira e afirmou que o petista sabia da existência de uma planilha com
uma "conta" que a empresa possuía com o PT.
Marcelo Odebrecht foi ouvido
em ação penal sobre o suposto favorecimento ao ex-presidente pela empreiteira
com a compra de um terreno para o Instituto Lula, em São Paulo, e de um
apartamento vizinho ao que mora, em São Bernardo do Campo (SP). Esse é o
segundo processo do ex-presidente sob responsabilidade de Moro.
Em mais de três horas de
depoimento, ele falou sobre a relação da empreiteira com os governos do PT e
disse que um dos motivos para os pagamentos a Lula era manter a influência
sobre Dilma Rousseff, considerada uma "incógnita" pela empresa quando
assumiu o governo, em 2011.
O empreiteiro disse que foi
criada uma conta apelidada de "Amigo" para atender a interesses de
Lula. O gerenciamento, disse ele, cabia ao ex-ministro Antonio Palocci, que
está preso no Paraná. Ele também falou sobre a planilha batizada de "Italiano",
que, disse, envolvia contrapartidas como a negociação de uma linha de crédito e
o refinanciamento de dívidas.
No depoimento, afirmou que o
"grande equívoco" dos governos petistas foi indicar o ministro da
Fazenda como interlocutor de empreiteiras. O empreiteiro também citou Guido
Mantega como o responsável por outra planilha de pagamentos, a
"Pós-Itália".
"Você nunca sabe se as
suas portas foram abertas se os pedidos foram priorizados porque eram legítimos
ou porque tinham uma 'monetização' envolvida."
Saques
Marcelo Odebrecht disse ainda
que seu pai, Emílio, era o interlocutor do grupo empresarial com o então
presidente. "Pela comunicação que tinha com o meu pai, ficou evidente que
Lula sabia da conta como um todo", disse o empreiteiro. Em outro momento,
porém, afirmou que "a única pessoa que pode dizer o quanto o Lula
sabia" é seu pai. Os saques em espécie,
afirmou, foram feitos por meio de Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci e
também réu, e somaram R$ 9 milhões em 2012 e 2013.
Sobre a compra do terreno
para o instituto, disse que foi procurado por José Carlos Bumlai, amigo do
presidente e também condenado na Lava Jato, para providenciar a aquisição.
Palocci, contou o empreiteiro, autorizou que a quantia despendida fosse
debitada da conta "Amigo".
Marcelo, porém, afirmou a
Moro não ter informações detalhadas sobre parte das acusações relativas aos
pagamentos do terreno porque isso não ficou mais sob sua responsabilidade. Ele contou que está fazendo,
na cadeia, uma "filtragem" do material coletado nos sistemas de
pagamentos clandestino da empresa e de dispôs a ajudar a investigação a
levantar mais informações.
O empreiteiro disse que não
sabia da existência do sistema Drousys, usado pelo setor apelidado de
"departamento da propina" da Odebrecht, até a revelação do mecanismo
pela Operação Lava Jato, em 2016. Ele está preso desde junho de 2015 no Paraná
e, pelo acordo firmado na delação, deve passar para a prisão domiciliar no fim
deste ano.
Pedidos das defesas
Antes de começar o
depoimento, as defesas de Lula e de Branislav Kontic voltaram a pedir a Moro a
suspensão do depoimento. Eles argumentaram que não tiveram acesso a dados dos
sistemas de controle de pagamentos da Odebrecht já citados pela acusação e
consideraram que isso prejudica o direito à ampla defesa. Moro, porém, negou o
pedido. Os advogados de Lula também recorreram à segunda instância para
suspender o andamento dos depoimentos.
Lula nega
Em nota, a defesa de Lula
disse que o depoimento "desmontou" as acusações contra o
ex-presidente. "Marcelo, que é delator, negou peremptoriamente qualquer
atuação em relação aos 8 contratos indicados na denúncia e ainda que tenha
tratado de qualquer contrapartida em relação a esses contratos em favor de
Lula."
Segundo o texto de seu
advogado, Cristiano Zanin Martins, o depoimento de Odebrecht destruiu a
acusação apresentada pelo Ministério Público Federal. "A verdade é que
Lula jamais recebeu a propriedade ou a posse de qualquer dos imóveis indicados
pelo MPF, muito menos em contrapartida de qualquer atuação em contratos
firmados pela Petrobras."/valor
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