O Rio Itanhém tem sofrido com
os efeitos do desmatamento ilegal e da grave seca que há um tempo atingiu a
região do extremo sul da Bahia que ainda sofre as consequências da forte
estiagem. O que até então era uma preocupação apenas por parte da população ribeirinha
que depende do rio para garantir o seu sustento, atualmente, as autoridades
políticas também têm se preocupado com os impactos ambientais que comprometem a
preservação do rio Itanhém; e consequentemente o próprio abastecimento de água
potável para toda a região.
Para discutir o assunto foi
criada uma força-tarefa organizada entre os municípios de Teixeira de Freitas,
Alcobaça, Medeiros Neto e Itanhém com o objetivo de elaborar o plano que
embasou a criação do Simpósio das Águas.Mais recente, as autoridades,
especialistas ambientais e vereadores das cidades envolvidas, se reuniram pela
8ª vez na última terça-feira (26) no plenário da Câmara Municipal de Teixeira
de Freitas onde assinaram o Protocolo de Intenções que entre si celebraram a
definição das Leis de Implementação do Programa de Gestão Integrada dos
Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Itanhém.
Vereadores reunidos no
plenário da Câmara Municipal de Teixeira de Freitas após assinatura do
Protocolo de Intenções (Foto: Ascom)
Para se chegar a este
documento, foram realizadas reuniões, debates e audiência pública, no qual
foram ouvidos especialistas em recursos hídricos, entidades e profissionais
envolvidos em ações de preservação do rio. Entre as associações que
acompanharam as discussões, estiveram a Fundação Padre José Koopmans (FUNPAJ),
que é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que presta
serviços de assessoria e consultoria na gestão de projetos socioambientais. O
presidente da entidade, João Luiz Monti, concedeu uma entrevista exclusiva ao
Jornal OSollo, no qual comentou a respeito das propostas foram debatidas para
solucionar o problema.
Referente aos trabalhos que
estão sendo desenvolvidos por parte do Simpósio das Águas, o presidente da
FUNPAJ explicou que para "construir uma legislação comum é preciso que
haja ampla participação da sociedade civil, para que tenhamos leis que
expressem a vontade dos mais humildes e os verdadeiros sentidos de cuidado com
a natureza do rio. Mas, para isso, será preciso uma intensa campanha para
esclarecimentos, debates, proposições que venham a confluir”. Em seguida,
criticou "os ganhos econômicos que, indiscutivelmente, sobrepõem-se aos
interesses da população e reservam dividendos a apenas empreendedores interessados
em ganhar mais dinheiro. Essa lógica precisa ser superada, ainda que se tenha
que conviver com o sistema que a tudo quer traduzir em dinheiro, com a ideia do
capitalismo verde que intenciona pagar por serviços ambientais que a natureza
presta aos cidadãos, mas à custa dos ‘cidadãos’ pobres não aos que hegemonizam
a concentração de riquezas no país”, completou João Luiz Monti.
Foto: João Ramos – Bahiatursa
Uma das propostas levantadas
nas reuniões do Simpósio de Águas é a construção de uma barragem com o objetivo
de promover a revitalização do rio Itanhém; contudo, João Luiz Monti chama a
atenção para o seguinte ponto: "Um reservatório de água não é algo tão
ruim, mas pode crescer a ideia de uma barragem que matará o rio em sua já pouca
biodiversidade. Será que engenheiros, especialistas ou gestores estão pensando
em preservar e revitalizar o Rio Itanhém? O que preocupa-nos é que tais
pensamentos de revitalização do rio já tragam em seu bojo mais um vultuoso
recurso financeiro para obras como as do Rio São Francisco ou das muitas
hidrelétricas do Brasil. Nossa esperança é que os vereadores desses municípios
não tenham já uma política "construída”, para fazerem grandes obras e
serviços que consomem milhões de reais e não asseguram as melhores técnicas e
tecnologias para a captação e armazenamento de água potável para nossa
população”, disse o presidente da fundação.
No fim da entrevista, João
Luiz Monti fez um alerta "para que não haja decisões sem a necessária
fundamentação nos melhores estudos científicos e práticas de regeneração de
áreas de preservação permanente, degradadas pelas atividades econômicas,
principalmente, pela agropecuária e a urbanização da cidade que, continuamente,
avança sobre estas áreas”. Que segundo ele, decorre das "especulações dos
‘empreendedores’ que vislumbram lucrar com grandes serviços e obras que,
talvez, não sejam necessárias”, concluiu o presidente da FUNPAJ/medeirosdiadia
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