Os advogados de Luiz Inácio
Lula da Silva negociavam nesta sexta-feira (6) uma saída acordada para a crise
gerada com a decisão do ex-presidente de ignorar o prazo estabelecido pelo juiz
Sérgio Moro para se entregar na Superintendência da Polícia Federal em
Curitiba.
"Está havendo uma
conversa na polícia com os advogados do ex-presidente, e o partido está
acompanhando. A ideia é evitar que o juiz decrete a prisão preventiva, o que
agravaria a situação. Mas ainda não tem nada concluído", disse à AFP o
deputado Carlos Zarattini, do Partido dos Trabalhadores (PT), que está com Lula
na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
O prazo para Lula se entregar
voluntariamente à Polícia Federal terminou às 17h00. Em Curitiba foi preparada
uma cela especial com 15 metros quadrados para recebê-lo.
Esta manhã, sua defesa havia
apresentado um pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) na
tentativa de bloquear a ordem de prisão, alegando que ela foi emitida sem que o
TRF4, que o condenou em segunda instância, analisasse as objeções apresentadas
contra a rejeição inicial dos recursos.
Mas o ministro Félix Fischer,
do STJ, negou o pedido.
O ex-presidente (2003-2010)
está desde a noite de quinta-feira na sede do Sindicato, no São Bernardo do
Campo, no ABC paulista.
Nos arredores da sede do
Sindicato, os manifestantes - milhares durante o dia - zelam por seu líder, aos
gritos de "Lula Livre!", e decididos a protegê-lo de qualquer
tentativa de prisão.
Neste sábado, quando a
falecida esposa de Lula, dona Marisa Letícia faria 68 anos, será celebrada no
edifício uma missa em sua memória, informaram fontes do PT.
Segundo a imprensa, Lula
poderia se entregar após esta cerimônia, embora também possa tentar resistir no
local durante todo o fim de semana.
- "Lula Livre"
versus "Foragido" -
Em uma demonstração da
polarização que tomou conta do país, tanto seus seguidores reunidos em frente
ao Sindicato, quanto seus críticos, concentrados perante a Superintendência da
Polícia Federal em Curitiba, fizeram uma contagem regressiva antes das 17h00,
quando venceu o prazo para se apresentar à Justiça.
Quando a hora chegou, os
primeiros explodiram em gritos de "Resistência!" e "Lula
livre!", enquanto os segundos repetiam "Foragido!".
Entre os que protestavam contra
Lula estava Roberto Silva, professor de 49 anos, fantasiado de médico e com
nariz de palhaço.
"Estamos aqui para
evitar que mais um condenado fique doente e que não possa cumprir a pena e saia
ileso mais uma vez, fazendo a gente de palhaço", declarou.
"Lula é um símbolo muito
importante da esquerda nacional. E eu sou totalmente contrário à visão de mundo
deles", disse Igor Merchert, empresário autônomo de 27 anos em Curitiba.
Mas em frente ao Sindicato, a
determinação era a tônica.
"Eu vou ficar. Não tenho
medo. O meu medo é que o Brasil volte atrás com Lula preso. Eu não era nada e,
graças a Lula, montei uma pequena empresa. Eu devo isso a ele", disse
Sérgio de Paula, dono de uma transportadora.
"Estamos aqui para
resistir até o fim. Lula não será preso e voltará a ser presidente para ajudar
o povo", afirmou Renata Swiecik, caixa desempregada de 31 anos, mãe de
quatro filhos.
Lula, que presidiu o Brasil
entre 2003 e 2010, foi condenado a doze anos e um mês de prisão por corrupção e
lavagem de dinheiro por ter recebido um apartamento tríplex no Guarujá, litoral
de São Paulo, da empreiteira OAS em troca de contratos na Petrobras.
- Lula "não é
foragido" -
A assessoria de comunicação
do juiz Sérgio Moro explicou que Lula não pode ser considerado foragido.
"Foi dada a oportunidade
para que se apresentasse à Justiça sem a necessidade de a polícia ter que
intervir. Mas todo mundo sabe onde está, não está escondido, nem
foragido", informou a assessoria à AFP.
"Só pode ser considerado
com pedido de busca ou foragido se a polícia o procurar e não conseguir
localizá-lo", destacou.
A situação de Lula é complexa
penal e eleitoralmente.
Se for preso, ele poderia
fazer pré-campanha da prisão até a Justiça eleitoral invalidar sua candidatura,
a princípio em agosto, quando estudar as candidaturas, visto que a lei da Ficha
Limpa impede que condenados em segunda instância tenham direito a disputar
eleições.
O Movimento dos Trabalhadores
rurais Sem Terra (MST) iniciou uma campanha de bloqueio de rodovias para
expressar sua "indignação contra a iminente prisão do companheiro
Lula".
Segundo a Agência Brasil,
pelo menos oito dos 27 estados do país registraram piquetes em estadas, a
maioria no nordeste - reduto eleitoral de Lula -, mas também no Rio de Janeiro
e no Rio Grande do Sul.
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