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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Mulher com câncer desmente secretária de Itanhém: “se eu tivesse usando droga eu estava morta”



Além do câncer de mama e da falta de remédio para combater as fortes dores provocadas pela doença, a itanheense Ana Paula Alves da Fonseca, de 37 anos, tem que conviver com comentários indesejáveis de pessoas ligadas ao primeiro e segundo escalões da administração da prefeita Zulma Pinheiro.

O Água Preta News teve acesso a um áudio no qual a secretária da Saúde, Renilda Chapeu, explica – segundo o seu entendimento – a situação da doença de Ana Paula. No diálogo, a secretária ainda insinua que Ana Paula é usuária de droga e afirma, categoricamente, que a paciente é viciada em morfina.

O site omitiu, propositalmente, os nomes do interlocutor da secretária e do médico, citados no áudio.

“O caso dessa mulher é o seguinte: eu já até levei Zulma [a prefeita] lá na casa dela, ela faz tratamento CA [câncer] na Unacon [Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, em Teixeira de Freitas]. Em todas as consultas dela o carro vai à porta, leva na Unacon e traz de volta. Todos os exames pedidos são ofertados pela secretaria da Saúde, medicação [também], não falta nada pra essa mulher. Ela recebe cesta-básica, já visitei e até levei Zulma, eu mesmo levo o remédio dela”, disse a secretária da Saúde, inicialmente.

De acordo com a fala da secretária, a paciente faz uso de morfina de forma indevida.

“O remédio não é para tomar da forma que ela toma; o remédio que é para durar um mês ela toma numa semana, dois dias, entendeu? A medicação é a morfina – que é o remédio que é tomado em estado terminal, em caso de uma dor muito grande -, mas o médico dá sim um dia para melhorar aquela dor, uma pessoa saudável não pode tomar essa medicação constantemente. Segundo os médicos, esse remédio pra tomar a quantidade que ela toma só em estado terminal, que a pessoa já vai morrer mesmo, pra não morrer com dor, entendeu? Mas ela está saudável, apesar da doença dela, ela está fazendo tratamento, ela não pode estar tomando esse tanto de remédio”, explicou.

A secretária disse que a paciente usa a doença para “fazer show” e a oposição política à prefeita vem aproveitando da situação e jogando nas redes sociais.

“Então, está difícil até de conseguir a receita pra ela e toda receita que eu consigo eu compro [remédio]. Agora, quando ela não consegue a receita e que ela fica querendo o remédio ela faz esse show aí. Aí Branca [que faz oposição à prefeita] aproveita, filma ela e põe nas redes sociais e aí ela fica falando. Até o pessoal dos Estados Unidos está comovido para mandar dinheiro pra ela comprar morfina, entendeu? É isso que está acontecendo”, afirmou.

Renilda Chapéu, com uma certa cautela, acusou Ana Paula de ser usuária de droga e dependente de morfina.

“E não é só morfina que ela usa, é… sabe? Também não posso estar expondo o nome dessa mulher, falando dela coisas que eu não provo, né? E ela é paciente, nós temos que cuidar. Agora, quantas receitas chegar aqui eu compro, nunca deixei de comprar. Agora, sem a receita é impossível, os médicos já estão negando de dar a receita, né? E eu estou agora pra conseguir uma receita, eu estou com quatro caixas pra levar, mas sabendo o que ela vai fazer com esse remédio; infelizmente eu não posso”, lamentou.

No diálogo, a secretária mostrou-se preocupada com a repercussão negativa que, segundo ela, o caso vem trazendo para a administração da prefeita Zulma Pinheiro e afirmou que a paciente recebe toda assistência por parte da secretaria da Saúde.

“Ela está usando as redes sociais, mas eu tenho que está explicando às pessoas e as pessoas podem achar que realmente nós não estamos fazendo nada e nós estamos. Ela recebe medicação, ela recebe transporte para ir para a Unacon, ela recebe exame, tudo que é pedido pra ela, cesta-básica, tudo que é pedido pra ela é ofertado. Então, o que a oposição está fazendo? Está filmando e mandando para as redes sociais para denegrir a imagem da gestão. É isso, isso não vai… nós temos todas as provas do jeito que a gente cuida dela e cuidamos muito bem e queremos ver ela bem, porque ela está fazendo um tratamento muito bem feito e ela vai sair dessa se Deus quiser”, finalizou.

A secretária, entretanto, não foi a única pessoa da administração municipal a fazer acusações contra a mulher que luta contra um câncer desde 2016.  O Água Preta News teve acesso também à conversa de uma pessoa ligada à saúde com Edvaldo Miranda, que é assessor de Comunicação da prefeita Zulma Pinheiro. No diálogo, o assessor é categórico ao afirmar que a paciente é usuária de drogas e dependente de morfina. No momento que viu o primeiro vídeo no qual Ana Paula faz apelo, pedindo ajuda à população, o assessor disse ter ficado indignado, no sentido de ter se sensibilizado com as alegações da paciente, mas vê uma intenção politiqueira no caso.

“Eu fui o primeiro a perguntar a prefeita e a secretária sobre o caso, pois me doeu muito vendo o vídeo. Porém, até o momento, não podemos fazer nenhum comentário por se tratar de uma paciente com vício em drogas e pior, passou a ser dependente de morfina. Quando não encontra crack, utiliza o medicamento. Uma caixa de remédio para 30 dias ela utiliza em uma semana”, disse o assessor no diálogo.

Contrariando praticamente tudo o que foi dito pela secretária e pelo assessor, Ana Paula gravou um segundo vídeo, que o Água Preta News também teve acesso. Veja aqui o primeiro vídeo.

Nessa nova gravação, também feita pela sua irmã – e não por “Branca”, como acusou a secretária – Ana Paula afirmou que não é usuária de drogas, que nunca fez ‘barraco’ na secretaria da Saúde e que o atendimento que ela recebe da secretaria, na atual administração, não passa nem perto do que foi dito no áudio pela secretária Renilda Chapéu.

O portal pesquisou sites renomados na área de oncologia e, ao contrário do que narra a secretária e o assessor, observa-se que é muito rara a dependência entre pacientes que usam morfina ou outros opióides, no tratamento da dor do câncer. Isso, claro, com uso não muito prolongado e sempre monitorado pelo médico.

O que não pode ocorrer é o paciente parar repentinamente de tomar esse tipo de medicamento ou reduzir a dose, pois, de acordo com as pesquisas feitas por este portal de notícias, a parada repentina poderá apresentar sintomas de abstinência, como dor, ansiedade, náuseas e diarreia. E isso foi o que exatamente ocorreu por diversas vezes com Ana Paula que, por não ter conseguido a medicação na secretaria, se viu obrigada a praticamente parar. Outras vezes, Ana Paula recebeu caixas com 50 comprimidos, mas com dosagem de 10 miligramas e não de 30 miligramas, que é a dose prescrita pelos médicos. Neste caso, a paciente foi obrigada a tomar três comprimidos de 10 mg por dia, para fazer o efeito de um comprimido de 30 mg.  Logo, é matemático que uma caixa dure apenas pouco mais de duas semanas.

Quanto a abstinência causada pelos medicamentos opióides, no momento adequado, a redução gradual da dose reduz também a possibilidade dos sintomas da abstinência e esses sintomas são um sinal de dependência física e não estão relacionados – de acordo com os sites pesquisados – ao vício, como deixou transparecer a fala da secretária e como afirmou claramente o assessor.


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Veja o segundo vídeo, no qual Ana Paula afirma que não é usuária de droga e contesta o apoio que a secretária disse que a paciente estaria recebendo do poder público municipal./aguapretanews

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