O ex-presidente Michel Temer
foi preso em São Paulo na manhã desta quinta-feira (21) pela força-tarefa da
Lava Jato do Rio de Janeiro. Os agentes também prenderam o ex-ministro Moreira
Franco no Rio e o coronel João Baptista Lima Filho, amigo de Temer. A PF
cumpre, ao todo, 10 mandados de prisão.
Temer falou por telefone ao
jornalista Kennedy Alencar, da CBN, no momento em que havia sido preso. O
ex-presidente afirmou que a prisão "é uma barbaridade".
Resumo
O juiz Marcelo Bretas, da
Lava Jato do Rio, ordenou a prisão de Michel Temer e mais 9 pessoas Temer foi
preso em São Paulo e será levado ao Rio a investigação está relacionada às
obras da usina nuclear de Angra 3 o MPF diz que o consórcio responsável pela
obra pagou propina ao grupo de Temer Uma reforma no imóvel da filha de Temer,
Maristela, teria sido usada para disfarçar o pagamento de propina.
No pedido de prisão, o juiz
Marcelo Bretas argumenta que Temer é "líder da organização criminosa"
e "responsável por atos de corrupção" São apurados os crimes de
corrupção, peculato e lavagem de dinheiro
Prisão de Temer
Temer foi abordado por
policiais federais na rua, em São Paulo. Desde quarta-feira (20), a PF tentava
rastrear e confirmar a localização de Temer, sem ter sucesso. Por isso, a
operação prevista para as primeiras horas da manhã desta quinta-feira atrasou.
Agentes estavam na porta da casa de Temer e, ao perceberem a saída de um carro
do local, o seguiram e realizaram a prisão.
Temer foi levado para o
Aeroporto de Guarulhos, onde vai embarcar em um voo e será levado ao Rio de
Janeiro em um avião da Polícia Federal. Ele deve ficar na unidade da Polícia
Militar de Niterói, na região metropolitana do Rio. A prisão de Temer é
preventiva, ou seja, sem prazo determinado.
Por telefone, o advogado de
Temer, Brian Prado afirmou que ainda está estudando a decisão e não tem como
fazer nenhuma avaliação sobre o caso.
Quem Bretas mandou prender
Michel Miguel Elias Temer
Lulia, ex-presidente - preso João Batista Lima Filho (coronel Lima), amigo de
Temer e dono da Argeplan - preso Wellington Moreira Franco, ex-ministro do
governo Temer - preso Maria Rita Fratezi, arquiteta e mulher do coronel Lima -
presa Carlos Alberto Costa, sócio
do coronel Lima na Argeplan - preso Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan
e filho de Carlos Alberto Costa Vanderlei de Natale, sócio da Construbase
Carlos Alberto Montenegro Gallo, administrador da empresa CG IMPEX Rodrigo
Castro Alves Neves, responsável pela Alumi Publicidades Carlos Jorge
Zimmermann, representante da empresa finlandesa-sueca AF Consult - preso A
maioria das prisões são preventivas (sem data para liberação). Apenas os
mandados contra Rodrigo Castro Alves Neves e Carlos Jorge Zimmermann são de
prisão temporária, com duração de cinco dias, que pode ser prorrogada.
Na sentença, o juiz Marcelo
Bretas disse que as prisões preventivas são necessárias para garantir a ordem
pública. Segundo ele, "uma simples ligação telefônica ou uma mensagem
instantânea pela internet são suficientes para permitir a ocultação de grandes
somas de dinheiro, como parece ter sido o caso".
Agentes também cumprem 26
mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no
Distrito Federal.
O que dizem os alvos
Cristiano Benzota, advogado
de defesa do coronel Lima, disse por telefone que não vai falar nada por
enquanto.
A defesa de Wellington
Moreira Franco divulgou uma nota manifestando "inconformidade com o
decreto de prisão cautelar". "Afinal, ele encontra-se em lugar
sabido, manifestou estar à disposição nas investigações em curso, prestou
depoimentos e se defendeu por escrito quando necessário. Causa estranheza o
decreto de prisão vir de juiz de direito cuja competência não se encontra ainda
firmada, em procedimento desconhecido até aqui”, diz o texto.
O MDB, partido do
ex-presidente, divulgou uma nota. "O MDB lamenta a postura açodada da
Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não
há irregularidade por parte do ex-presidente da República, Michel Temer, e do
ex-ministro Moreira Franco. O MDB espera que a Justiça restabeleça as
liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e
o direito de defesa", diz o texto.
Propina em Angra 3 Temer é um dos alvos da Lava
Jato do Rio. A prisão teve como base a delação de José Antunes Sobrinho, dono
da Engevix. O empresário disse à Polícia Federal que pagou R$ 1 milhão em
propina, a pedido do coronel João Baptista Lima Filho (amigo de Temer), do
ex-ministro Moreira Franco e com o conhecimento do presidente Michel Temer. A
Engevix fechou um contrato em um projeto da usina de Angra 3.
Segundo o Ministério Público
Federal (MPF), a Engevix foi subcontratada porque as empresas que haviam
vencido a licitação não tinham "pessoal e expertise suficientes para a
realização dos serviços". Os vencedores eram a AF Consult do Brasil e a
Argeplan, empresa do coronel Lima. "No curso do contrato, conforme
apurado, o coronel Lima solicitou ao sócio da empresa Engevix o pagamento de
propina, em benefício de Michel Temer", diz nota do MPF.
A força-tarefa da Lava Jato
diz que a propina foi paga no final de 2014 com transferências totalizando R$
1,09 milhão da empresa Alumi Publicidades para a empresa PDA Projeto e Direção
Arquitetônica, controlada pelo coronel Lima. As empresas fizeram contratos
fictícios para justificar as operações financeiras.
As investigações apontam que
os pagamentos feitos à empresa AF Consult do Brasil causaram o desvio de R$
10,8 milhões, ao se levar em conta que a empresa não tinha capacidade técnica
para cumprir o contrato.
A ação desta terça é um
desdobramento das operações Radioatividade, Pripyat e Irmandade.
Outros inquéritos
Além desta investigação,
Michel Temer responde a nove inquéritos. Cinco deles tramitavam no Supremo
Tribunal Federal (STF), pois foram abertos à época em que o emedebista era
presidente da República e foram encaminhados à primeira instância depois que
ele deixou o cargo. Os outros cinco foram autorizados pelo ministro Luís
Roberto Barroso em 2019, quando Temer já não tinha mais foro privilegiado, e
também foram enviados à primeira instância.
Carreira política
Michel Temer (MDB) foi o 37º
presidente da República do Brasil. Ele assumiu o cargo em 12 de maio de 2016,
em meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, e ficou até o final do
mandato, encerrado em dezembro do ano passado. Temer é o segundo ex-presidente
do Brasil preso por crime comum.
Eleito vice-presidente na
chapa de Dilma duas vezes consecutivas, Temer chegou a ser o coordenador
político da presidente, mas os dois se distanciaram logo no começo do segundo
mandato.
Formado em direito, Temer
começou a carreira pública nos anos 1960, quando assumiu cargos no governo
estadual de São Paulo. Ao final da ditadura, na década de 1980, foi deputado
constituinte e, alguns anos depois, foi eleito deputado federal quatro vezes
seguidas. Chegou a ser presidente do PMDB por 15 anos.
/G1
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