Hoje contaremos a história
desta baiana/ mineira, que nasceu na Bahia e teve seu registro em Minas Gerais.
Luziene Alves, conhecida por
muitos como Fiu, nos conta um resumo de sua história, que poderia se tornar um
livro. Ela fala sobre:
- seu casamento precoce aos 13
- a maternidade aos 14
- a paixão por cozinhar
- migrando para a Nova Zelândia
- trabalho escravo na fazenda
- meses que morou em um refúgio
- formação em gastronomia
- ser chefe de cozinha e empreendedora
Minha nossa!!! Então vamos
conhecer sua vida e experiências.
História
Conte um pouco da sua
história no Brasil.
“Eu era uma estudante de 13 anos que sonhava em ser policial ou advogada. Tinha uma vida muito boa na casa dos meus pais. Mas, me casei no civil e com 14 anos tive meu primeiro filho. Então meus sonhos foram por água a baixo”, diz Fiu.
Muito jovem e inexperiente,
Fiu sabia que precisava aprender a cozinhar e cuidar da casa, então ela buscou
aprender tudo o que podia. Um dia ela viu uma senhora, vendendo quibe na rua
onde morava, pediu a receita e gravou apenas na memória. Começou a fazer do seu
jeito e vender, nos conta Fiu. E este foi o início da paixão por “cozinhar” e
nunca mais parou.
Ela sempre foi uma pessoa
muito curiosa, ainda casada voltou a estudar, fez magistério. Sempre fazia algo
para ter uma renda extra. Aprendendo sem fazer cursos, apenas por ver alguém
fazer.
Nova Zelândia
Como surgiu a ideia de vir
para a Nova Zelândia?
Fiu passou no concurso da
prefeitura e foi trabalhar em uma fazenda do interior como professora. Depois,
por 3 anos trabalhou na secretaria escolar da prefeitura.
Um dia, uma professora da
escola onde ela trabalhava disse: Fiu, você tentou ir para os Estados Unidos e
não deu, por que não tenta ir para a Nova Zelândia?
Assim, ela contatou agentes
que ajudavam no processo de sair do Brasil. Na época gastou quase $30 mil
reais, dinheiro que conseguiu com a ajuda do pai e irmão. A promessa era de
trabalhar nas fazendas, recebendo $5 mil dólares por semana, mas infelizmente eram
apenas mentiras.
Chegada
Um relato de sua chegada a
Nova Zelândia em 11 de abril de 2003.
“Em um grupo de 7 homens e só eu de mulher. Passei pela imigração trêmula por que tínhamos sido instruídos a não conversar, mesmo dentro do avião até sair do aeroporto pois a imigração poderia nos deportar”, relata Fiu.
Durante a conversa, Fiu
revela que, ao passar pelos oficiais da imigração, ela não conseguiu se
comunicar em inglês, então um oficial indicou um atendente que falava espanhol,
o que facilitou sua entrada. Soube posteriormente que o restante de seu grupo
foi deportado, somente ela entrou no país.
Saindo do aeroporto não havia
agente ou guia para recepcioná-la e sem falar inglês, ela foi inspirada a
mostrar ao taxista sua reserva de hotel. Ficou no hotel por dois dias sem
comer, pois não sabia que as refeições eram inclusas. Em uma ligação ao Brasil
para sua mãe, recebeu orientações para falar com seu agente e também deixou
aliviado o coração de sua família que não sabiam como ela estava até aquele
momento.
Assim alguém foi buscá-la no
hotel e a levou para trabalhar nas fazendas de uva e maça.
Esse foi um período de muito
trabalho e sofrimento nas fazendas, nos conta ela.
11 Meses no Refúgio
Na entrevista, Fiu fala sobre
seu casamento com um iraquiano, com quem teve três filhas. Durante 16 anos de
casados, por vezes era abandonada por seu marido que voltava a seu país natal
para se casar com outra pessoa.
“Em 2006, minha primeira filha tinha 3 anos e meio, ele voltou para o Iraque, me deixou sem dizer nada. Eu estava ilegal, ele tinha aplicado o meu visto e sumiu. Então quando a imigração nos chamou, não pude ir. Nesta situação, peguei minha filha que era cidadã neozelandesa e fui procurar ajuda no refúgio. Fiquei por lá 11 meses. Saia escondida para trabalhar como cleaner de dia e de noite em um café VIP, pois não tinha visto para trabalhar. Neste refúgio fiz muitas amizades com indianas e pessoas de outras nacionalidades. Minha colegas do refúgio tomavam conta de minha filha para eu ir trabalhar. E ninguém tomava falta, pois ficávamos sempre sozinhas, as vezes aparecia alguém do escritório central lá. Eu era a única que tinha carro e dirigia então ajudava levando algumas para fazer compras ou até mesmo ir na casa de familiares no final de semana.”
Fiu nos disse que no refúgio,
ela era a alegria do lugar, não aparentava tristeza e dava muita força àquelas
que estavam com depressão, levando à igreja Cristian Ágape Center, com os
pastores Vanderlei e Adeline que sempre davam suporte com orações.
No final de 2007 o refúgio
pediu que ela deixasse o lugar, pois não conseguiram ajudá-la a se legalizar
através da filha e a imigração solicitou sua deportação.
Em 2008, o pai de sua filha a
procurou e pediu que voltasse a morar com ele. Ela teve mais duas filhas com
ele e conseguiu sua legalização e permanência no país. Hoje, não estão juntos.
Nunca é tarde
“Sempre vendendo comida brasileira e fazendo cleaner (…) em 2016 resolvi fazer o curso de gastronomia, sem inglês, consegui 4 certificados e 1 diploma. Em 2008 terminei o curso e fui trabalhar como chefe em um hotel, onde trabalho até hoje.”
Fiu Delícias do Brasil
Ter o próprio negócio é o
desejo que se torna real, através da Fiu Delícias do Brasil com uma variedade
de salgados e comidas brasileiras e de outras culturas.
A feirinha Fiu Delícias do
Brasil que acontece na casa dela, surgiu da sugestão de seus amigos e clientes.
A produção não é feita em casa, com a licença que ela adquiriu no hotel onde é
chefe de cozinha, ela produz tudo na cozinha industrial e vende onde desejar.
Em um futuro próximo, seu
estabelecimento será aberto em Auckland CBD, recepcionando os brasileiros e
pessoas de muitas outras nacionalidade, acredita Fiu.
Sempre ajudei e ajudo brasileiros, pois sei o quanto sofri aqui. Se tem alguém precisando ou passando necessidade, eu ajudo, porque já passei 22 dias de fome em Tauranga colhendo kiwi e sem receber pagamento. Quanto mais você dá, mais recebe. Convivo com outras culturas, vejo que se unem e ajudam uns aos outros e sinto esta falta na comunidade brasileira”, diz Fiu.
Desafio de ter um negócio
Na sua opinião, quais são os
desafios de se manter um negócio brasileiro na Nova Zelândia?
“Hoje as dificuldades de manter um negócio brasileiro na Nova Zelândia é muitas vezes a falta de união da comunidade, um querendo derrubar o negócio do outro que está crescendo, outros criticando, uma desunião. Muitos me conhecem, não gosto de ver isso, sou cristã. Se o outro brasileiro vende mais que eu, amém, quero que todos cresçam, pois somos seres humanos e precisamos crescer naquilo que investimos. O meu desejo é que tivesse união, uma comunidade da cultura e gastronomia brasileira. Outra dificuldade é tudo ser muito caro, de ingredientes a maquinários, e aluguel. Faço tudo sozinha”, diz Fiu.
Como foi passar por este
período de lockdown?
“Durante o lockdown, tive o
apoio de minha família. Eles me incentivaram a abrir um canal no YouTube, o que
acabei criando para compartilhar meus truques e segredos do meu tempero mineiro
e baiano. Faço tudo sem receita, só de olho e dedo”, diz Fiu.
Um pouco mais sobre a Fiu
Amo motos, gosto de pilotar,
cozinhar, faxinar, bordar, brincar e contar piadas. Sou divertida, não deixo
nada me abater. Sou pai e mãe de 5 filhos. Respeito as pessoas, amo minha mãe e
minha igreja. Amo os animais, meus gatos, galinhas e logo está chegando a
Lessy, uma cachorra. Trabalhei nas colheitas de uva, maça e kiwi. Fui babá,
cozinheira, faxineira, ainda tenho meu trabalho no Brasil. Isso tudo me fez
crescer, mas tenho o coração grande e sou a mesma professorinha lá do interior
da Bahia./brasilnews
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