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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Milhares de fãs se emocionam com Senna na Tamburello, 20 anos depois

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Fãs se espremem para assinar painel de Senna na entrada da exposição montada no Circuito de Ímola Alessandro Garofalo/Reuters.

Precisamente às 14h17, horário local, o locutor do evento, Ezio Zermiani, posicionado na curva Tamburello, solicitou a todos um minuto de silêncio. À sua frente 20 mil pessoas procuravam um cantinho para assistir à cerimônia. A maioria portando algo que dissesse ao outro “Eu sou fã de Ayrton Senna”, como bonés, camisetas, bandeiras ou mesmo tatuagens. Alguns vieram de longe para aquele momento.

Foi um longo minuto. Apenas os  pássaros do Parque delle Acque Minerali, onde se encontra o circuito Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, na Itália, se manifestavam. Fernando Alonso, Kimi Raikkonen, da Ferrari, Jules Bianchi, Marussia, dentre vários ex-pilotos, contemplavam o muro onde há exatamos 20 anos, naquele horário, Ayrton Senna colidiu com sua Williams e perdeu a vida. Não havia como não se emocionar. Não foram poucos os que choraram.

O encontro na curva Tamburello, aberto ao público que pagou ingresso, 10 euros (R$ 33), simbólico para os padrões europeus, foi o ponto culminante do primeiro dia do Ayrton Senna Tribute 1994/2014, concebido para homenagear aquele triste GP de San Marino, em que o austríaco Roland Ratzenbeger, da Simtek, também morreu, apesar de quase não ser lembrado hoje.

Poucos se importaram que a organização não se preocupou em criar áreas isoladas para os discursos na Tamburello. Parecia que o fato de lá estar para abordar o tema Ayrton Senna era tão superior a tudo que ficar preso, no meio de uma multidão, não gerou desconforto. Todos tinham um único objetivo, de alguma forma estar mais próximo do seu ídolo. Era o que importava. A meteorologia entrou no clima do evento. Amanheceu um lindo dia na Emilia, região do centro norte da Itália. Havia dias chovia sem parar.

O padre Sergio Mantovani, de Modena, pediu a palavra a Zermiani e convidou todos a rezar um pai nosso. Como a maioria era de italianos, ouviu-se o coro da oração à distância. Se houvesse alguém na curva seguinte do traçado, a Gilles Villeneuve, certamente escutaria. Pois foi no muro daquela curva que Ratzenberger bateu e quando retirado do carro já não mais vivia. A Villeneuve estava vazia.

Gerhard Berger, ex-companheiro de equipe de Senna na McLaren, de 1990 a 1992, e grande amigo do piloto brasileiro, contou: “Eu também sofri um terrível acidente a 50 metros de onde estamos, em 1989. Quando Ayrton foi me visitar no hospital, disse que tínhamos de fazer algo com relação a este muro”.

E prosseguiu: “Eu já havia me recuperado e viemos aqui para um treino. Eu e Ayrton caminhamos até onde estamos e descobrimos que existe esse rio”. O austríaco vencedor de 10 GPs mostrou que atrás do muro corre o rio Santermo. “Quando vimos o rio, olhamos um para a cara do outro, e concluímos que não havia o que fazer.

Infelizmente não tivemos a ideia de construir a chicane, como existe hoje, e perdemos o maior piloto de todos os tempos.” Um pouco antes do encontro na Praça Ayrton Senna, o nome dado àquela imensa porção do parque, onde também se encontra a estátua do piloto, o principal responsável pelo atual carro da Mercedes, Aldo Costa, vencedor das quatro etapas disputadas do campeonato, participou de um fórum onde o assunto foi segurança na F1.

“Os acidentes daquele 1.º de maio de 1994 aqui marcam um divisor na história da segurança no nosso esporte”, afirmou Costa. “Para termos novos acidentes com morte precisamos, hoje, de uma fatalidade, tal o avanço que conseguimos depois de Ímola 94.” Mas lembrou que há áreas em que há ainda o que se fazer: “Reduzir o risco de os carros decolarem quando se tocam e maior proteção para a cabeça do piloto”. Costa lembrou o acidente de Felipe Massa, atingido no capacete por uma mola do Brawn GP de Rubens Barrichello.

O discurso do ex-piloto Jarno Trulli destacou o fato de estarem ali na Tamburello não apenas os fãs de Senna, mas os filhos dos fãs de Senna e, da mesma forma, vestindo algo que evidencia sua admiração pelo piloto. O técnico em informática Carlo Secchi acompanhou a trajetória de Senna desde o começo. O filho Lorenzo, de seis anos, o acompanhava, hoje. “Ayrton não era apenas um esportista. Hoje estamos lembrando aqui sua maneira de ver a vida, a determinação, perseverança. É o que desejo que meu filho entenda.”

Alonso também foi profundo nas palavras. “Infelizmente não tive a chance de conhecer Senna. Foi meu ídolo, em quem me inspirei para ser piloto. Hoje tem tanta gente aqui que quando ele morreu não havia nem nascido ainda, o que mostra que Senna é imortal.” Quando Zermiani encerrou a cerimônia, o público recuou educadamente cerca de 50 metros na pista, até o ponto exato do impacto da Williams de Senna.

Os instantes de silêncio, a oração liderada pelo padre Mantovani e os discursos elogiosos deixaram os fãs em estado de elevação. Houve impressionante solidariedade entre eles para escalar o patamar formado pelos pneus a fim de colocar na grade da Tamburello suas oferendas. Foram flores, fotos, bandeiras, desenhos de crianças, cartazes produzidos para o evento, camisetas, acomodados com carinho espantoso. Novamente alguns choravam. Nesse momento a Banda da Comunidade de Ímola executou com perfeição surpreendente o hino nacional brasileiro.

A alemã Sonia Becker, economista, dirigiu seis horas de onde vive, na Suíça, apenas para acompanhar a cerimônia. “Ayrton inspirou meu irmão e eu acabei tendo contato com a sua obra também, seus valores, como despertar a força interior que temos.” Sonia estava entrando na adolescência quando Senna se acidentou. “Meu irmão levou a sério a mensagem, tornou-se engenheiro especializado em aerodinâmica e trabalha para a equipe Sauber de F1.” É Jörn Becker. Sonia deixou um maço de rosas amarelas e umcartão com os dizeres “The best ever”, “O melhor de todos os tempos”.

Ao final do  minuto de silêncio na Tamburello, o público presente puxou uma longa salva de palmas, em que Alonso foi o último a parar. Logo em seguida, todos ainda se juntaram para entoar  ”Ole, ole, olá, Senna, Senna”, repetidas vezes. Aos poucos a multidão foi se dispersando, até porque os organizadores, se é que assim podem ser definidos, por não haver quase regra alguma, pediram que todos começassem a sair da pista. Ficou no ar para todos, contudo, uma deliciosa sensação de bem-estar.

De alguma forma estiveram mais próximo do ídolo. Para alguns, do herói, Ayrton Senna da Silva. Outras ações estão programadas para o Ayrton Senna Tribute. Nesta quinta às 18h (13h no horário de Brasília) no estádio de Ímola haverá uma partida de futebol, com a presença de vários pilotos, e à noite um jantar, cuja renda será destinada ao Instituto Ayrton Senna. A sobrinha do piloto, irmã de Bruno Senna, Paula, estava no autódromo./Uol.

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