Apesar do tiro de Antonio
Palocci no peito de Lula esta semana, o jogo de cena está aberto e o
ex-presidente prossegue como protagonista único da peça eleitoral do PT em
2018. Só que as denúncias e processos abalam o principal líder dos petistas,
que guardam na coxia as cartas na manga capazes de segurar o público caso Lula
seja rifado na disputa ao Planalto em 2018. Uma das apostas é o ex-ministro e
ex-governador da Bahia Jacques Wagner. Reconhecido pelo perfil moderado, Wagner
tende a compor alianças mais ao centro e arrastaria consigo as bases eleitorais
do PT no Nordeste, principal reduto de resistência de Lula em meio aos
processos judiciais que enfrenta.
A essa altura, Fernando
Haddad torna-se possibilidade mais remota, em função de seu sucessor Joao Doria
estar engolindo os holofotes e, também, devido ao fiasco do PT na prefeitura
paulistana – a maior vitrine municipal do país – no ano passado. Essa é avaliação
dos cientistas políticos Paulo Baía (UFRJ) e Alberto Carlos Almeida.
Sustentando seu diagnóstico em pesquisas, Baía considera o baiano um plano
factível para sacudir um eleitorado cativo do PT.
“O plano principal do PT é o
Lula. Na possibilidade de Lula não vir a ser candidato por entendimento, entre
Jacques Wagner e Haddad o candidato mais viável, em termos competitivos, é o
Wagner, que sai de uma base sólida – a Bahia e o Nordeste –, vem de uma
experiência de dois mandatos de governador e de ministro, o que facilitará as
alianças do PT, que pode caminhar para alianças ao centro. Ele é ponderado e
tem um discurso de moderação”, observa Baía.
Ao mesmo tempo, a performance
eleitoral recente de Haddad esmaga suas pretensões de ser plano B do PT na corrida
presidencial. Ele teve menos voos em 2016 do que na eleição de prefeito em
2012, quando foi catapultado como promessa política nacional. E foi muito mal
avaliado na principal base eleitoral – São Paulo, o maior colégio eleitoral do
país e termômetro da disputa nacional.
“Haddad terá mais dificuldade
de engrenar o PT como máquina política. O PT tem uma máquina política instalada
fantástica e com capacidade de operar. Com Jacques essa máquina funcionará
melhor, ele pode fazer o discurso ao centro, mas essa decisão só será tomada
com entendimento de Lula”, ressalta Baía.
Além de identificar Jacques
Wagner como presidenciável do PT, Alberto Carlos Almeida destaca que nenhum
partido grande, que seja formulador de política pública, consegue atravessar
uma eleição sem candidato próprio. Se incorrer nisso, sai esfacelado – o que,
em tese, ocorreria em caso de apoio do PT a uma terceira via no estilo Ciro
Gomes. Por isso a preocupação de Lula em segurar os rachas internos, sabendo do
trabalho para juntar os cacos depois. O mesmo conflito, aliás, já é travado
visceralmente por Doria e Geraldo Alckmin dentro do PSDB, que polariza a
política nacional com os petistas e já apresenta avarias.
No entanto, essas prospecções
dos especialistas apenas traçam cenários prováveis para mais adiante. Hoje,
segundo um interlocutor da presidente do PT Gleisi Hoffmann, Lula toca a
campanha convicto de seu potencial de vitória – e crente de que não se tornará
inelegível (ele foi condenado e recorre em liberdade). “Lula é nosso candidato
a presidente, hoje não trabalhamos abertamente sobre plano B, mas claro que,
nas conversas informais, o nome do Jacques Wagner é naturalmente lembrado para
2018 ou mais para frente. Ele tem histórico, fez o sucessor na Bahia e tem
perfil aglutinador”, ressalta um petista atento aos riscos implícitos em cada
escolha do partido./gazetaonline
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