[BBC] Edições gordas do
Diário Oficial da União nos dois primeiros dias de 2019 trouxeram mudanças na
estrutura do governo, assumido na terça-feira (1º de janeiro) por Jair
Bolsonaro (PSL). Menos ministérios, novos cargos, demarcação de terras
indígenas nas mãos do Ministério da Agricultura e novo salário mínimo foram
algumas delas.
Separamos as principais
medidas do governo Bolsonaro em seus dois primeiros dias:
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governo
1) Nova estrutura ministerial
O Diário Oficial confirmou,
por meio de Medida Provisória, as 22 pastas ministeriais do governo Bolsonaro –
como já havia sido anunciado durante a transição. O número final ficou acima do
que havia sido anunciado durante a campanha: 15, na época.
Os ministros foram empossados
na terça-feira por Bolsonaro.
Bolsonaro, vice-presdiente
Mourão e os 22 ministros do novo governo São 16 ministérios, 2
secretarias e 4 órgãos equivalentes a ministérios. Foram extintas, portanto,
sete pastas:
1) Transportes, Portos e
Aviação Civil;
2) Indústria, Comércio
Exterior e Serviços
3) Esporte
4) Cidades
5) Cultura
6) Trabalho
7) Segurança Pública.
Sergio Moro, Bolsonaro e Onyx
LorenzoniDireito de imagemJOEDSON ALVES/EPA Image captionTexto publicado
no Diário Oficial criou novos secretários de articulação na Casa Civil,
chefiada por Onyx Lorenzoni (na foto com Bolsonaro), entre o governo, a Câmara
e o Senado
2) Cargos de articulação da
Casa Civil na Câmara e no Senado
O texto também cria cargos de
articulação da Presidência com o Legislativo. Ou seja, a Casa Civil, chefiada
por Onyx Lorenzoni (DEM), terá um secretário especial para a Câmara e outro
para o Senado.
Deve ser anunciado que Carlos
Manato (PSL-ES), que não conseguiu se eleger para o governo do Espírito Santo,
será secretário especial para a Casa, e Leonardo Quintão (MDG-MG), outro
derrotado nas urnas, cuidará da relação com o Senado.
3) Demarcação de terras
indígenas para o Ministério da Agricultura
A Funai (Fundação Nacional do
Índio) passa a ser vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (antes, era vinculada ao Ministério da Justiça) e não poderá mais
demarcar terras indígenas.
Quem passa a ter o poder de
“identificação, delimitação, demarcação e registros das terras tradicionalmente
ocupadas por indígenas” é o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. A pasta também será responsável pela delimitação de terras
ocupadas por comunidades quilombolas.
Indígenas de várias tribos
dançam enquanto esperam para entregar uma carta ao presidente eleito Jair
Bolsonaro, em dezembroDireito de imagemADRIANO MACHADO/REUTERS Image captionNova medida dá a
ruralistas o poder de demarcar terras indígenas
Na prática, a nova
configuração dá a ruralistas, muitos com interesses contrários aos dos
indígenas, o poder de demarcar suas terras. Também esvazia a Funai, órgão
criado em 1967 com o objetivo de proteger os direitos dos povoso indígenas no
Brasil.
4) Salário mínimo
O Diário Oficial também trouxe
o novo valor do salário mínimo, que já passa a valer desde o dia 1º de janeiro:
R$ 998.
O valor é menor que o que
havia sido previsto no ano passado pelo governo Michel Temer (MDB), de R$
1.006, uma correção de 5,45% sobre o salário mínimo anterior, de R$ 954.
Um salário mínimo menor do
que o previsto é resultado de uma mudança na previsão da inflação: na época em
que o governo Temer orçou o salário mínimo em R$ 1.006, a previsão era de que
inflação fecharia em um valor mais alto.
O salário mínimo é calculado
com base no PIB e no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que
corrige o poder de compra dos salários, medindo a variação de itens de consumo
da população assalariada com baixo rendimento.
A estimativa de inflação
projetada pelo governo era de 4,2%, com crescimento do PIB de 1% em 2017 (o
governo também levava em conta um resíduo de R$ 1,75 que faltou do salário
mínimo em janeiro de 2018). A expectativa agora é que o INPC feche em um valor
menor – o número oficial ainda não foi divulgado.
5) Cargos de chefia no
Itamaraty a não diplomatas
Funções de chefia no
Ministério das Relações Exteriores não se restringirão mais apenas ao corpo de
servidores do Ministério. Ou seja, não diplomatas poderão exercer cargos de
chefia no Itamaraty.
Segundo Medida Provisória
publicada no Diário Oficial da União do dia 1º de janeiro, que modifica a
organização dos ministérios, o “serviço exterior brasileiro (…) constitui-se do
corpo de servidores, ocupantes de cargos de provimento efetivo, capacitados profissionalmente
como agentes do Ministério das Relações Exteriores, no País e no exterior,
organizados em carreiras definidas e hierarquizadas, ressalvadas as nomeações
para cargos em comissão e funções de chefia“.
A frase em negrito é nova e
altera a Lei nº 11.440, de 29 de dezembro de 2006, sobre o Regime Jurídico dos
Servidores do Serviço Exterior Brasileiro.
Jair Bolsonaro e Sergio
MoroDireito de imagemCAROLINA ANTUNES/PR Image captionPasta comandada
pelo ex-juiz Sergio Moro irá controlar o Coaf
6) Alterações internas em
ministérios
Por fim, o texto também
trouxe alterações internas em ministérios. O Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras), como já havia sido anunciado, será vinculado ao
Ministério da Justiça e Segurança Pública, comandado pelo ex-juiz Sergio Moro.
O Diário Oficial da União
publicado nesta quarta, dia 2 de janeiro, estabelece um novo estatuto do Coaf,
criando duas novas diretorias – de Inteligência Financeira e de Supervisão -,
entre outras modificações.
O mesmo Coaf é o que revelou,
em dezembro, uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão feita no período de um
ano por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro, filho do presidente.
Outra mudança é a da Comissão
de Anistia, antes vinculada à pasta da Justiça, para o Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, chefiada pela ministra Damares Alves. A
Comissão de Anistia é responsável pelas políticas de reparação e memória para
as vítimas da ditadura brasileira.
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