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sábado, 14 de dezembro de 2019

MP denuncia ex-deputada Angela Souza por desvio



angela souza

Dinheiro que deveria ser investido na Educação. O Ministério Público Federal divulgou nesta quarta (11) que ajuizou uma ação de improbidade administrativa por fraudes e desvios de pelo menos R$ 370 mil de verbas federais da educação.

Foram denunciados os ex-deputados estaduais da Bahia Carlos Ubaldino (PSD) e Ângela Sousa (PSD); os ex-prefeitos de Camamu, Emiliana Assunção Santos; e Ruy Barbosa, José Bonifácio Marques Dourado. A ação é decorrente de desdobramentos da Operação Águia de Haia, deflagrada em 2013.

Outras seis pessoas, ex-servidores púbicos e empresários, também foram denunciados na ação, assinada pelo procurador Tiago Modesto Rabelo e ajuizada em 15 de outubro. Ele requer a condenação de todos por improbidade administrativa, o bloqueio dos bens e ressarcimento dos valores desviados, entre outras sanções.

Segundo as investigações do MPF e da Polícia Federal, os políticos, juntamente com o ex-secretário de Finanças Manoel Assunção Santos, a ex-secretária de Educação Andrea Rita Lima Ramos Rocha e o então pregoeiro Daniel Pirajá Vivas, participaram de licitação fraudulenta.

Também foram denunciados Kleber Manfrini Dourado (filho de José Bonifácio), Marconi Edson Baya e Maycon Gonçalves Oliveira. Outros integrantes do esquema, Kells Belarmino Mendes e sua esposa, não foram processados porque firmaram acordo de colaboração premiada com o MPF.

Ângela recebia 5%

Kells Belarmino explicou ao MPF como funcionava o núcleo político da quadrilha e ressaltou o envolvimento da então deputada estadual Angela Sousa (mãe do prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre) na contratação ilegal da empresa ilegal em Camamu.

“Em janeiro de 2011 o deputado Carlos Ubaldino, em conversa com a deputada Angela Souza em seu gabinete, chamou para trazer prefeitos e futuros prefeitos eleitos da sua região para implantação do Projeto de Ensino Digital nas prefeituras. Assim a deputada o fez. (…)".

"A mando da deputada Angela Souza, seu assessor Frederico Vesper e eu fomos até a casa do Sr. Manoel (irmão da futura prefeita de Camamu Emiliana) para apresentar o Projeto, pois havia nas pesquisas grande possibilidade do Prefeito Zequinha (irmão da prefeita eleita de Camamu Emiliana) ganhar as eleições.”

O MPF confirmou que a deputada foi a responsável por fazer os primeiros contatos de Kells Belarmino com o grupo político que venceria a eleição em Camamu "e levaria a efeito o simulacro de licitação a fim de desviar os recursos públicos do FUNDEB".

O envolvimento de Angela Sousa nas fraudes, inclusive mediante recebimento de propina, já havia sido relatado por Kells Belarmino e provado. Angela Sousa, inclusive, foi denunciada pela PRR da 1ª Região, na condição de integrante da Organização Criminosa.

No caso de Camamu, Angela participou da operação e sabia como seria montada a licitação. Ela levou os mesmos procedimentos de Camamu para Una, Ibirapitanga e Buerarema, onde também recebia 5% do "lucro" da quadrilha. Kelles conta que, depois de vários pagamentos houve um desentendimento.

"Restou determinado que os repasses dali em diante seriam feitos somente ao deputado Carlos Ubaldino", relata. Angela Sousa e diversos outros integrantes da quadrilha alvo desta ação já respondem a ações penais e de improbidade administrativa pelos ilícitos praticados em Buerarema e Ibirapitanga.

Propinas para prefeitos

O MPF relata que as ilegalidades eram cometidas por meio de propinas pagas a prefeitos e servidores municipais para que fizessem licitações fraudulentas, contratando empresa para "prestação de serviços educacionais de tecnologia da informação".

Os serviços seriam os de capacitação presencial de professores, aquisição e atualização de licenças de uso de sistemas integrados de gestão acadêmica, portal, software, treinamento e suporte técnico in loco para a Secretaria Municipal de Educação e unidades escolares.

O Pregão Presencial nº 8/2014, em Camamu, usou documentos falsificados pela quadrilha, sem concorrência. Foi firmado o contrato ilegal com a "vencedora", a KBM Informática, usando recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação).

Superfaturamento e propina

O preço exorbitante da contratação, de R$ 2,2 milhões, foi arbitrariamente fixado, com preço acima do valor de mercado, e não houve estimativa de custo ou cotação de preços. Além disso, o serviço era desnecessário e incompatível com o município, por suas carências operacionais, de pessoal e de acesso à internet.

Segundo o MPF, embora os serviços não tenham sido prestados, a empresa recebeu de Camamu R$ 370 mil. O valor desviado – por serviços que não eram executados – só não foi maior em virtude da operação do MPF. Quando o grupo tomou conhecimento das investigações, interrompeu os pagamentos ilegais.

O acordo para fraudar a licitação incluía a entrega de 30% do valor de cada fatura quitada pela prefeitura para o então secretário de finanças, que distribuía a quantia para a ex-prefeita Emiliana e seu irmão (falecido). Dourado, seu filho Kleber e Ubaldino também recebiam percentuais.

O MPF pediu que a Justiça condene os denunciados ao pagamento de indenização por dano moral coletivo. Mais a condenação de todos por improbidade e, no caso de Emiliana, Manoela, Kleber Dourado, Carlos Ubaldino e José Bonifácio Dourado, também por enriquecimento ilícito.

Os fatos ocorridos em Camamu também já foram tratados em denúncia anteriormente apresentada pelo MPF, cuja ação penal está em tramitação na Justiça Federal. O número para consulta processual na Justiça Federal é 1005233-20.2019.4.01.3301. (Com Diário do Poder)./aregiao

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