BRASÍLIA: O ministro da
Saúde, Nelson Teich, disse nesta quinta-feira (23) que a decisão do CFM
(Conselho Federal de Medicina) que libera os médicos a prescreverem cloroquina,
inclusive para casos leves de Covid-19 e uso domiciliar, não representa uma
recomendação do Ministério da Saúde.
Segundo ele, a pasta deve
liberar o uso do medicamento apenas quando houver evidência clara de que o
medicamento funciona.
"Permitir o uso a
critério do médico não representa uma recomendação do Ministério da Saúde. A
recomendação vai acontecer no dia em que tivermos uma evidência clara de que o
medicamento funciona", disse ele, que frisou que o parecer traz uma
"autorização".
"É importante deixar
claro que não é uma recomendação nossa, é uma autorização. Recomendação depende
de estudo científico sólido", afirmou.
Teich afirmou que a medida do
CFM é diferente do posicionamento do Ministério da Saúde, que mantém um
protocolo para uso do medicamento em pacientes graves e críticos e mediante
acompanhamento em hospitais.
O anúncio do CFM foi feito
pelo presidente da entidade, Mauro Ribeiro, após reunião com o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) e com Teich. Na ocasião, Ribeiro entregou às
autoridades um parecer do conselho sobre a administração da substância em pessoas
com Covid-19.
A avaliação havia sido
solicitada pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à pressão
do governo para aumento da oferta do medicamento.
Bolsonaro é um entusiasta da
hidroxicloroquina e da cloroquina para o tratamento da doença. Ele já defendeu
que elas sejam utilizadas inclusive no estágio inicial dos sintomas.
A defesa da medicação foi um
dos pontos centrais do conflito de Bolsonaro com Mandetta, que era contrário à
ampla recomendação do remédio para o coronavírus.
Ao comentar a reunião, Teich
negou que tenha havido uma discussão sobre o tema. "Não foi uma discussão.
O CFM veio trazer um posicionamento da instituição, e o que ficou é que fica a
critério do médico, seja no hospital ou em nível ambulatorial, o que é um pouco
diferente do que temos no Ministério da Saúde, que é uso no paciente
hospitalizado, grave ou crítico", disse.
Segundo o CFM, ainda não
evidência científica que sustente o uso da cloroquina para o tratamento da
Covid-19.
“É uma droga utilizada para
outras doenças já há 70 anos, mas em relação ao tratamento da Covid não existe
nenhum ensaio clínico prospectivo e randomizado, feito por grupos de
pesquisadores de respeito, publicados revistas de ponta, que aponte qualquer
tipo de benefício do uso da hidroxicloroquina no tratamento”, disse Ribeiro.
Apesar disso, no parecer, o
conselho decidiu liberar os médicos para usarem a substância.
Na prática, Ribeiro liberou a
indicação da droga em três situações. A primeira é para pacientes críticos, em
terapia intensiva, nos chamados casos compassivos. “Ou seja, o paciente está
praticamente fora da possibilidade terapêutica e o médico, com autorização dos
familiares, pode usar essa droga”, afirmou.
O conselho, porém, também
liberou a prescrição para pacientes que chegarem com sintomas importantes ao
hospital, quando existe “um momento de replicação viral”, com ou sem
recomendação de internação; e também no início dos sintomas, desde que exista
diagnóstico confirmado para coronavírus e que estejam descartadas as possibilidades
de que a pessoa tenha na verdade uma gripe normal, dengue ou H1N1. Neste caso,
o remédio também pode ser prescrito em ambiente domiciliar, afirma Ribeiro.
"É também uma decisão
compartilhada com o paciente, em que o médico explica que não existe nenhum
benefício provado da droga no uso da Covid e os riscos que a droga
apresenta."
Ele destacou que o CFM não
autoriza o uso preventivo da hidroxicloroquina.
Questionado sobre as razões
que levaram o conselho a liberar o medicamento mesmo sem evidência científica,
Ribeiro disse que o coronavírus é uma doença devastadora e que, portanto, a
entidade deu maior peso a relatos observacionais —quando o médico descreve a
evolução de pacientes após o uso de determinada substância, sem o mesmo valor
do que análises científicas.
No dia 21 de abril, o
Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em
inglês), dos EUA, divulgou um documento no qual contraindica o uso de
hidroxicloroquina e azitromicina para tratamento da Covid-19 por causa de sua
potencial toxicidade. A entidade também não indica o uso de
lopinavir/ritonavir, drogas que também estão em estudo para tratar a doença.
A recomendação foi elaborada
por um painel de especialistas com representantes de pelos menos 13 entidades,
como agências governamentais (entre elas a agência que regula remédios, a FDA
,e o Centro de Controle de Doenças, o CDC) e associações médicas americanas.
Segundo o documento, o uso
das drogas citadas só deve ser feita em ensaios clínicos.
Com relação somente à
hidroxicloroquina e à cloroquina, o Niaid afirma que ainda não há dados
suficientes para uma indicação a favor ou contra as drogas no tratamento da
Covid-19. O documento alerta, contudo, que o uso deve ser acompanhado de
monitoramento dos efeitos adversos, considerando o risco de alterações
cardíacas e mal súbito.
Nos últimos dias, estudos
feitos nos EUA, na França e no Brasil não mostraram benefícios da cloroquina e
da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.
Um estudo brasileiro feito
pela Prevent Senior, inclusive, começou sem aval da comissão de ética, o que
pode ser fraude científica, segundo o CNS (Conselho Nacional de Saúde), órgão
que integra o Ministério da Saúde./folha
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