Agentes da Polícia Federal escoltam Adélio Bispo de Oliveira
Um relatório parcial sobre o
segundo inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar o atentado a faca
contra o então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, aponta que
Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho, sem a participação de mandantes. O
ataque ocorreu em 6 setembro de 2018 durante ato de campanha em Juiz de Fora,
Minas Gerais.
O inquérito foi entregue
nesta quarta-feira, 13, à Justiça Federal, segundo informações da sede da PF em
Brasília. O delegado responsável pelo inquérito, Rodrigo Morais, afirmou, no
entanto, que o relatório é inconclusivo e ainda pode sofrer alteração. O motivo
é que ainda não foi realizada perícia no telefone do advogado de Adélio no
caso, Zanone Manuel de Oliveira Júnior.
Em 28 de fevereiro de 2019,
atendendo a pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o desembargador
Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), suspendeu a
apuração da Polícia Federal em que foi autorizada busca e apreensão contra o
advogado Zanone Manuel de Oliveira.
Em junho do ano passado,
depois de encerrado o primeiro inquérito, aberto no dia do atentado, o juiz
Bruno Savino, da Justiça Federal em Juiz de Fora, absolveu Adélio Bispo depois
de considerá-lo inimputável por ser portador de problemas psiquiátricos.
O magistrado, na decisão,
ainda converteu a prisão preventiva do autor do atentado em internação
provisória por tempo indeterminado. "Sendo a inimputabilidade excludente
da culpabilidade, a conduta do réu, embora típica e anti-jurídica, não pode ser
punida por não ser juridicamente reprovável, já que o réu é acometido de doença
mental que lhe suprimiu a capacidade de compreender o caráter ilícito do fato e
de se determinar de acordo com este conhecimento.", afirmou o magistrado,
na sentença.
O atentado aconteceu durante
ato de campanha de Bolsonaro na região central de Juiz de Fora, quando o
candidato era carregado nos ombros por apoiadores. O então candidato foi
atingido no abdome. Depois da sentença, já como presidente, Bolsonaro disse que
recorreria da decisão, o que acabou não ocorrendo. O Ministério Público Federal
também não recorreu.
Na sentença, o juiz diz ainda
que a perícia médica realizada concluiu que Adélio "é portador de
Transtorno Delirante Persistente", que "a conduta criminosa foi consequência
direta da doença mental ativa", e que a presença dos "sintomas
psicóticos o impediram de compreender a antijuridicidade de sua conduta".
Mesmo depois da sentença, o
presidente Bolsonaro insistiu na tese de que Adélio agiu sob comando. O
episódio entrou no embate entre o chefe do Poder Executivo e o então ministro
da Justiça, Sérgio Moro, que pediu demissão do cargo em 24 de abril deste ano
depois de levantar suspeitas de que Bolsonaro tentava interferência na Polícia
Federal. O presidente insinuava que as investigações em relação ao caso Adélio
não avançavam por falta de atuação do comando da PF.
O segundo inquérito, entregue
ontem à Justiça, foi aberto em 25 de setembro, 19 dias depois do atentado. As
investigações, conforme fontes da PF ouvidas à época, já apontavam que Adélio
Bispo havia agido sozinho. A decisão de abrir outra investigação, no entanto,
ocorreu porque o anterior foi iniciado a partir de prisão em flagrante, com
prazo mais curto de conclusão.
"A opção em abrir um
segundo inquérito foi para que se tenha a possibilidade de trabalhar com mais
calma, já que se trata de um candidato à Presidência da República líder das
pesquisas de intenção de voto", disse uma das fontes, à época. "A
investigação, no entanto, aponta para atuação do que chamamos de 'lobo
solitário'", acrescentou.
O advogado de Adélio Bispo no
processo, Zanone Manuel de Oliveira Júnior, afirmou nesta quinta-feira, 14, que
a decisão judicial depois do primeiro inquérito já deixava claro que seu
cliente havia agido sozinho. "Todos os psiquiatras chegaram à mesma
conclusão. A medicina não mente. Os médicos convergiram para um ponto só, os
problemas mentais do Adélio", afirmou.
Sobre a perícia em seu
celular, o advogado afirma acreditar que o procedimento já foi realizado.
"No dia da busca e apreensão, eu entreguei o celular para a PF",
disse. A operação em que o equipamento do advogado foi apreendido ocorreu em 21
de dezembro de 2018. Zanone afirma que a perícia, tendo ou não sido feita, não
vai alterar a investigação. "Não tem nada nele", afirma./terra
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