O secretário de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio
Angotti, afirmou que existe “polarização” em torno do uso da hidroxicloroquina
no tratamento do novo coronavírus. Na opinião dele, há “inconsistências” nas críticas
direcionadas ao uso do medicamento. Ele também pediu respeito a escolha do
tratamento feita pelo médico, bem como a escolha do paciente sobre qual
tratamento fazer.
“Há uma série de
inconsistências nessas críticas e a gente lamenta essa polarização. Vamos
respeitar a competência dos nossos profissionais de saúde, o direito deles de
prescrever, o direito do paciente buscar o tratamento que melhor entende ser
correto”, disse ele durante coletiva, na tarde de hoje (17).
Angotti afirmou que as
críticas direcionadas ao uso de medicamentos podem ser feitas por uma leitura
incorreta dos resultados das pesquisas. “E as pessoas precisam aprender a ler
ciência. Há evidências contrárias a essa e outras drogas. Mas são pacientes que
podem estar na fase leve, na fase inicial. Esses artigos têm se posicionado
contra o uso da droga, mas muitas vezes em pacientes em fase tardia”.
Durante a coletiva,
jornalistas questionaram os representantes da pasta a respeito de uma nota
assinada pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) que recomendou a
suspensão do uso da hidroxicloroquina nos tratamentos de covid-19. A entidade
se baseou em dois estudos que teriam atestado a ineficácia da droga.
O secretário do ministério
disse ainda não ter recebido a nota e mostrou cautela ao falar de seu conteúdo.
Ao mesmo tempo, afirmou que o Ministério da Saúde conta com uma equipe de
análise dos estudos e pesquisas existentes em relação aos possíveis tratamentos
do novo coronavírus e que, caso entenda necessário, a pasta poderá mudar a
orientação a respeito do uso do medicamento.
“O ministério vai continuar
acompanhando as evidências. Da nossa parte não há problema em mudar a
orientação. Precisamos ir aos fatos, olhar as evidências em termos de ciência,
entender que a doença tem várias fases, os pacientes têm vários momentos da
doença e que cada pesquisa aborda uma fase diferente”. Conforme dados
divulgados hoje pela pasta, já foram entregues 29 mil unidades de cloroquina
para Goiás; 11 mil para o Tocantins; 15 mil para Mato Grosso; 26 mil para Mato
Grosso do Sul; 78 mil para o Espírito Santo e 85 mil unidades do medicamento
para Minas Gerais. Não foram apresentados dados sobre a distribuição da
cloroquina em outros estados.
Estudos sobre o medicamento
A nota assinada pela Sociedade
Brasileira de Infectologia trouxe resultados de “dois estudos clínicos
robustos”, publicados em revistas médicas “prestigiosas”, sobre a ineficácia da
hidroxicloroquina no tratamento precoce da doença. Em face desses resultados, a
SBI recomendou que “hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer
fase da covid-19”.
O primeiro estudo citado pela
entidade foi realizado nos Estados Unidos e no Canadá. Nele, um grupo recebeu a
hidroxicloroquina e outro recebeu um placebo (comprimido sem qualquer efeito
farmacológico). “O grupo que recebeu hidroxicloroquina não teve nenhum
benefício clínico: não houve redução na duração dos sintomas, nem de
hospitalização, nem impacto na mortalidade”, afirmou a SBI.
O outro estudo foi realizado
na Espanha e não teria percebido nenhum benefício virológico nem clínico nos
pacientes que receberam a hidroxicloroquina. “Como já haviam sido publicados
estudos clínicos randomizados com grupo controle demonstrando que a HCQ não
traz benefício clínico nem na profilaxia (prevenção), nem em pacientes
hospitalizados, esses dois estudos completam a avaliação de eficácia e
segurança do seu uso nas três fases da doença”, acrescentou a SBI./Agência
Brasil
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