O policial civil Hilário
Antônio Fiorotti Frasson foi preso na tarde desta quinta-feira (21) suspeito de
ser um dos mandantes do assassinato de sua ex-mulher, a médica Milena Gottardi
Tonini Frasson, em Vitória-ES. Mais cedo, o ex-sogro da vítima, Esperidião
Carlos Frasson, também foi detido.
A Justiça expediu contra pai
e filho mandados de prisão temporária de 30 dias. A confirmação da prisão dos
dois acusados veio na tarde desta quinta-feira, em coletiva de imprensa que
contou com a presença do secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa
Social, André Garcia, do chefe de polícia civil, Guilherme Daré, e de mais
autoridades que acompanharam o caso desde a morte da médica, na última sexta.
Homero Mafra, advogado de
Hilário, disse ao UOL que a prisão é "injusta" e que analisará o
inquérito no final de semana, podendo protocolar habeas corpus na
segunda-feira. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Espiridião.
Também estão presos por
envolvimento no crime Dionathas Alves Vieira, 23 anos, que confessou que matou
a médica, e dois intermediários - um deles, identificado como Bruno, é primo do
autor dos disparos e roubou a moto que Dionathas usou para ir ao local do
crime.
As autoridades decretaram
sigilo absoluto no caso desde o último final de semana para não atrapalhar o
andamento de investigações e também pelo fato de um dos acusados ser policial
civil. Hilário entrou de licença, voltou a trabalhar somente nesta quinta e foi
preso em meio ao expediente.
Os investigadores devem ouvir
em breve o depoimento do ex-marido de Milena para apurar a motivação do crime,
que teria sido planejado por ao menos um mês. Em paralelo ao inquérito, a
Polícia Civil também vai instaurar processo administrativo que vai definir a
condição de Hilário dentro da corporação.
André Garcia parabenizou toda
equipe envolvida na investigação do caso, segundo ele um "ato de
protesto" contra as mulheres que morreram em virtude de uma "cultura
machista, patriarcal e atrasada que muitos homens ainda têm na cabeça".
Carta
Uma carta que Milena escreveu
no mês de abril e na qual ela relatava que "se sentia refém" do
marido, de quem estava em processo de separação, veio a público no início da
tarde desta quinta e, segundo a polícia, já estava nas mãos dos investigadores
desde o início do caso – sendo inclusive prova inconteste de que a vítima era
ameaçada, já que foi registrada em cartório.
Na carta, Milena relata que
não sofreu agressões físicas, mas verbais de seu ex-marido, inclusive diante
das filhas do casal (hoje com nove e dois anos, respectivamente), e que ele não
aceitava a hipótese de separação, avisando que "declararia guerra" se
isso acontecesse. "Me sinto uma refém dentro da minha própria casa. Está
insuportável! Não quero brigar com ele, mas também não consigo ter uma
conversa, um diálogo", escreve a médica, que teve um relacionamento de 20
anos com Hilário (sete de namoro e 13 de casamento).
Em outro trecho, Milena diz
que o marido sempre "demonstrou muita obsessão à minha pessoa, mesmo antes
do namoro" e que, diante das seguidas recusas de Hilário em deixar sua
casa, "pedi ao juiz a liberação para sair de casa com as meninas para me
poupar e, principalmente, as minhas filhas de um ambiente hostil".
A médica ainda escreveu que
"se acontecer algo de ruim comigo, por exemplo, se Hilário Antônio
Fiorotti Frasson me matar e, pode ser que tente se matar também", ela
gostaria que a guarda das filhas ficasse com o irmão Douglas Gottardi Tonini,
com a supervisão da mãe, Zilda Maria Gottardi.
Homero Mafra, advogado de
Hilário, diz que a carta foi apenas "um retrato de um episódio"
específico vivido pelo casal. "Era um momento em que ele lutava para manter
o relacionamento. Mas não houve nenhum registro de briga ou agressão depois
disso. Ele inclusive saiu de casa. O relacionamento vinha sendo bom, há
inclusive depósitos em dinheiro das duas partes em suas contas bancárias",
acrescenta.
O crime
A médica Milena Gottardi
Tonini Frasson, 38 anos, morreu na tarde da última sexta-feira (15), um dia
depois de ser baleada ao deixar um plantão de um hospital de Vitória (ES). O
assassinato gerou comoção nas redes sociais, reação de associações médicas e
luto oficial em Fundão, cidade da região metropolitana da capital capixaba onde
a vítima nasceu e parte de seus familiares vivem.
De acordo com informações da
polícia, Milena saía do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam),
conhecido também como Hospital das Clínicas, acompanhada de uma colega na noite
de quinta-feira quando foi surpreendida por um homem que anunciou um assalto.
Segundo relatou a médica que
testemunhou o crime, a colega seguiu as orientações do suspeito, mas mesmo
assim levou três tiros – um deles a cabeça. Milena recebeu os primeiros
socorros no local e foi encaminhada em seguida ao Hospital Cias Unimed. Ela
chegou a passar por cirurgia, mas teve a morte confirmada na tarde de sexta.
Antes de o caso ser
investigado em sigilo, o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André
Garcia, disse na última sexta-feira que o crime tinha "todas as
características de feminicídio, motivado por razões passionais".
A missa de sétimo dia de
Milena foi celebrada na manhã desta quinta-feira na capela do Hospital das
Clínicas por Dom Sevilha, bispo da Arquidiocese de Vitória, e contou com a
presença de familiares, amigos e colegas da médica./ UOL
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