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sábado, 27 de janeiro de 2018

Como esquecer: Tragédia da boate Kiss, que matou 242 pessoas, completa 5 anos sem culpados



Boate Kiss tinha capacidade para 700 pessoas e no dia do incêndio recebia 1.061 participantes da festa. Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press
Boate Kiss tinha capacidade para 700 pessoas e no dia do incêndio recebia 1.061 participantes da festa.


Cinco anos depois do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), que matou 242 pessoas e deixou outras 636 feridas, ninguém foi responsabilizado criminalmente. Ainda sem data para o julgamento, falta uma decisão final sobre a ida a júri popular dos quatro réus no processo. Familiares e sobreviventes promovem hoje homenagens por toda a cidade em memória das vítimas.

Em 27 de janeiro de 2013, a boate sediava uma festa universitária com show da banda Gurizada Fandangueira. Durante a apresentação, o grupo utilizou um tipo de fogo de artifício, conhecido como chuva de prata, que entrou em contato com o revestimento das paredes e do teto composto por um produto altamente inflamável e tóxico. As chamas se espalharam rapidamente e o estabelecimento, lotado, não tinha saída de emergência.

Segundo testemunhas, não havia sinalização interna e a boate ficou sem luz assim que o fogo começou. Com dificuldade para sair, pessoas morreram asfixiadas no banheiro. O local tinha capacidade para 700 pessoas, mas naquela noite recebia 1.061.

Os dois sócios da boate Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann e os músicos da banda Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão são os acusados pelo incêndio e podem responder por homicídio duplamente qualificado, sendo 242 consumados e 636 tentativas. Os quatro foram presos, preventivamente, dias depois do ocorrido e liberados em março daquele ano.

O processo teve algumas reviravoltas e segue sem definição. A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul manteve, em março do ano passado, a decisão da primeira instância de mandar o caso a júri popular, mas, em dezembro, o TJ/RS, respondendo a um recurso da defesa, decidiu que os réus não irão a julgamento popular por não configurar crime doloso, ou seja, intenção de matar.

“Assumir o risco é algo mais do que ter consciência do risco, mas consentir com o resultado que venha a ocorrer”, disse o relator do processo, desembargador Vitor Luís Barcelos, que foi acompanhado por outros três magistrados. O resultado da votação ficou empate e favoreceu a defesa com o afastamento do júri.

O Ministério Público Estadual, que sustenta a existência de crime doloso, recorreu e garantiu que pedirá, em todas as instâncias necessárias, que a sociedade julgue os acusados. “Se existir qualquer indício que aponte no sentido da possibilidade de existência do dolo, deve o acusado ser submetido a julgamento pelo júri”, sustenta o recurso assinado pelo coordenador da Procuradoria de Recursos, Luiz Fernando Calil de Freitas, e pelo promotor assessor Rodrigo Azambuja.

Homenagens

Para atuar como assistente de acusação no processo contra os réus e promover ações que mantenham viva a memória das vítimas, foi criada a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria. Hoje, várias ações em homenagem aos que morreram serão realizadas na cidade. Entre elas, um concurso público para escolher o projeto do Memorial às Vítimas da Kiss, a ser construído no lugar da boate.

O dinheiro que será investido no projeto é fruto de financiamento coletivo. A campanha encerrou-se em novembro e arrecadou R$ 250 mil, superando a meta inicial, estipulada em R$ 150 mil. Com o dinheiro, será possível custear a elaboração do concurso, a premiação dos cinco melhores projetos e o pagamento dos honorários do vencedor. O valor também vai possibilitar a execução de projetos complementares para o Memorial, como o hidráulico, o elétrico, projeto hidrossanitário e o Plano de Prevenção de Combate a Incêndio (PPCI).

“A importância que esse memorial terá é dizer que isso não pode acontecer mais”, afirmou o presidente da AVTSM, Sérgio da Silva. Ele ressaltou que a obra vai trazer dignidade às famílias das vítimas da tragédia. “Hoje em dia, nós não temos nenhum acusado, ninguém é responsável. Então, acho que esse memorial vai tratar, indiretamente, a questão da justiça, já que estamos abandonados em relação a isso”, disse. O espaço onde funcionava a casa noturna foi desapropriado, em 2017, pela prefeitura e cedido para a construção do memorial.

As homenagens que marcam os cinco anos da tragédia seguem uma programação que teve início na quinta-feira, com o lançamento do livro Todo dia a mesma noite, da jornalista Daniela Arbex, feito a partir de entrevistas com familiares e envolvidos na tragédia. Ontem, foi exibido o documentário Depois Daquele Dia, de Luciane Treulieb, irmã de uma das vítimas. Hoje será realizada a tradicional vigília em frente ao prédio, na Rua dos Andradas, além de culto ecumênico e a soltura de 242 balões, simbolizando cada uma das vítimas que perderam a vida em janeiro de 2013./G1

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