Entre uma tesourada e outra,
o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) deu recados sobre economia,
relação com o Congresso e direitos indígenas enquanto cortava o cabelo nesta
terça-feira (19). A cena, uma espécie de comício virtual do deputado, foi
exibida ao vivo na página dele no Facebook durante 35 minutos.
Sentado, com semblante sério,
mãos entrelaçadas no meio das pernas e franja penteada para a frente, o
presidenciável anunciou visitas a cidades do Nordeste nos próximos dias e
reclamou de ataques à sua campanha.
"Nós temos um objetivo
pela frente, que é tentar mudar o destino do Brasil. Estão todos contra a
gente! A esquerda de um lado e depois o tal do centrão do outro lado. Parece
que eles não engolem a possibilidade de ter alguém diferente na política",
disse Bolsonaro.
Enquanto o barbeiro (que,
segundo a assessoria do político, se chama Antônio) acertava as pontas dos
fios, o deputado emendou um discurso econômico, culpando planos de governos
passados pela situação das contas do país.
"Daí falam que eu não
entendo de economia. Não entendo mesmo! Que os entendidos de economia, os
economistas, simplesmente afundaram o Brasil", afirmou.
"O pessoal fala em
liberalismo, né? Todo mundo quer liberar. Eu também quero", seguiu
Bolsonaro. "É igual a um pré-candidato aí a presidente que deu umas
alfinetadas em mim e falou: 'Eu sou pelo livre mercado, eu sou pelo Estado
mínimo'. Mas pegou R$ 1,2 bilhão no BNDES. Ele é favorável ao Estado mínimo
para você, não para ele", disse.
Em março, o site BuzzFeed
publicou que duas empresas de Flávio Rocha, pré-candidato a presidente pelo
PRB, receberam R$ 1,39 bilhão em empréstimos do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) durante os governos Lula e Dilma Rousseff,
ambos do PT.
Rocha disse à publicação que
não houve irregularidade nem escândalo nas operações.
Em outro momento, o deputado
citou de novo o provável adversário: "O próprio Flávio Rocha pegou algumas
empresas tuas e botou lá no Paraguai. Nada contra, [está] certo. O custo Brasil
é enorme. Aqui no Brasil é difícil você abrir um negócio".
Buscando se descolar dos
demais pré-candidatos, Bolsonaro disse que, embora exista "muito deputado
bom no PSDB", o Brasil "não aguenta mais um ciclo de quatro anos
PT/PSDB", porque vai "continuar esse lixo todo".
Ele sugeriu que os eleitores
votem em deputados que pensem parecido com o presidente, já que mudanças
dependem também do Congresso Nacional. "O cara que vai votar em mim, por
exemplo, se votar num cara do PSOL para o Senado ou para a Câmara, você está
jogando seu voto fora."
Virando-se para a câmera do
celular, que era segurado por um de seus assessores, o deputado falou: "E
agora começam a usar a questão do Bolsa Família para me atacar. Você, senhora,
você, senhor, não interessa onde esteja no Brasil, que recebe Bolsa Família, se
eu chegar lá [à Presidência], vai continuar recebendo".
Aos 19 minutos da
transmissão, o deputado começou a se mostrar impaciente ("Quase pronto
aí?", perguntou ao profissional que cuidava de seu cabelo), mas respirou e
aproveitou para rebater mais ataques.
Sobre suas declarações
envolvendo gays: "Cada um vai ser feliz da maneira que bem entender, eu
não tenho nada a ver com isso. [...] Usam isso [afirmação de que ele é
homofóbico] para nos dividir".
"É igual a questão
afrodescendente, né? Poxa, quem é que não tem, é, [abre os braços e sorri]
amigos afrodescendentes. A minha esposa é filha do Paulo Negão, nós tamos
'junto e misturado', não tem diferença entre nós. Mas usam essa causa para nos
dividir. Tudo é racismo, tudo é racismo no Brasil."
Já no fim do corte, enquanto
o barbeiro retirava a capa azul clara que protegia a camisa branca do
parlamentar, Bolsonaro se lembrou de outro tema: "O índio não pode
continuar sendo tratado como se fosse um animal de zoológico".
Segundo ele, índio também
quer energia elétrica, internet, jogar futebol. Quer dentista "para
arrancar um dente dele que está doendo, quer um vermífugo, ele quer um soro
antiofídico para que ele não morra ao ser picado por uma cobra".
"O índio é um ser humano
igualzinho a nós", concluiu.
Segundo a assessoria do
presidenciável, o vídeo foi gravado em Bento Ribeiro, a 23 km da casa dele, em
um condomínio na Barra da Tijuca. O político corta o cabelo no bairro do
subúrbio carioca há muitos anos, informou sua equipe./bocaonews
Nenhum comentário:
Postar um comentário