No segundo dia de protestos
contra a administração do município de Santa Cruz Cabrália, cerca de 100
moradores dos distritos de Guaiú, Santo André e Santo Antônio voltaram a se
manifestar, na manhã desta sexta-feira (15), desta vez interditando a estrada da
balsa [BA-001] que liga o centro da cidade a essas vilas, consideradas pontos
turísticos paradisíacos no extremo sul da Bahia.
Com faixas e cartazes o grupo
interrompeu a pista com galhos de árvores impedindo a passagem de veículos. A
pista só foi liberada para ambulâncias. A Polícia Militar esteve no local com
três viaturas. Mais cedo, os policiais liberaram a passagem para alguns carros
que saíram da balsa.
Indígenas de aldeias
localizadas naquela região também engrossaram o ato.
Esse protesto começou nesta
quinta-feira (14/03). Moradores dizem que estão há 99 dias sem água potável.
Eles divulgaram vídeos, nas redes sociais, mostrando urubus em cima das caixas
d’água que abastecem essas localidades. Os reservatórios estão abertos,
vulneráveis a todo tipo de sujeira, inclusive fezes de aves.
FALTA TUDO - A manifestação
também reivindica melhorias na iluminação pública e no transporte escolar. O
presidente do Grupo Ação do Desenvolvimento da Pesca Artesanal Sustentável
(GADAP) do Guaiú, Adriano Souza de Jesus, que participou do protesto, disse que
os moradores da Orla Norte de Santa Cruz Cabrália estão abandonados.
“Água, energia, transporte
escolar, saneamento básico, limpeza das ruas e transporte escolar, falta tudo”,
resumiu Adriano.
A artesã Enildes Leda,
moradora de Guaiú, reclama do Poder Público. Ela disse que os moradores
continuam sem água de qualidade e lembrou que a população precisa de iluminação
pública e principalmente de transporte escolar digno para as crianças. “Os dois
ônibus que estão rodando rodam com a porta aberta, presa de borracha, sem
freio, com parafusos expostos e isso vem machucando nossos filhos”, ela
desabafou.
A cobrança de taxas aos
moradores pela travessia da balsa é outro item do protesto. Enildes Leda
explicou que os moradores do local possuem uma carteira de identificação que
permite a cobrança de apenas metade do valor da travessia, mas, segundo ela,
“agora o proprietário está querendo aumentar o valor e ainda não renovou o
documento dos nativos. As carteirinhas estão vencendo e não estão sendo
renovadas”, reclamou. “Precisamos que libere a
balsa para os moradores”, finalizou.
QUEIXA - O médico veterinário
Domingos Neto, morador de Santo Antônio, informou que um grupo de moradores vai
ingressar com queixa crime contra a Prefeitura de Santa Cruz Cabrália junto ao
Ministério Público Estadual “exigindo o nosso direito à água tratada e em
quantidade que abasteça a todos os moradores”.
Aos 63 anos, aposentado pela
Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, há três anos Domingos Neto resolveu
morar na vila, que já conhecia há 10 anos, sempre em passeios turísticos com a
família. Hoje ele se mostra “indignado com a falta de respeito da Prefeitura de
Cabrália com os moradores e turistas”. Neto também engrossa o protesto e aplaude
a inciativa dos demais moradores.
SOBRE A BALSA - A reportagem
não conseguiu entrar em contato com a Prefeitura de Santa Cruz Cabrália.
Um funcionário da empresa
proprietária da balsa que faz a travessia, falou com a reportagem sem se
identificar. Ele disse que o sistema está funcionando de maneira informal. “A
prefeitura não realizou a licitação para apresentar o ganhador da concessão
para o serviço. Por isso não é possível renovar as carteiras dos moradores”.
Esse funcionário acrescentou
que a empresa continua fazendo o serviço na informalidade e que dispensa o
pagamento da taxa para estudantes, policiais civis e militares, juízes,
promotores, indígenas, membros do conselho tutelar e ambulâncias. "O
proprietário aqui também é vítima da incompetência dessa
prefeitura"./RADAR 64
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