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“Quem tem telhado de vidro não atira pedra no do vizinho”

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

O "drama" da seca no Norte de Minas e no Vale do “Jequitinhonha” é muito mais sério que você imagina


Varias cidades vivem o caos da falta d'água



Araçuaí, Itinga e Salinas. Com baldes no lombo da mula e chapéu para proteger do sol, o lavrador Juarez Batista Santos, 52, enfrenta uma caminhada de duas horas em busca de água em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. No trajeto, rios secos, plantações esturricadas pelo sol e o gado magro. É assim todos os anos, mas, em 2016, a rotina do sertanejo do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha começou em maio, três meses antes do habitual.

O prognóstico é sombrio. Pelos sinais do tempo, a temporada de seca deverá ser a pior já registrada. Ao todo, 102 cidades, todas no Vale do Jequitinhonha, Mucuri e Norte, já decretaram situação de emergência no Estado por causa da estiagem. A tendência é que esse número cresça até outubro.

A última vez que as cidades dessas regiões tiveram chuvas significativas foi em janeiro, e a previsão é que isso só volte a ocorrer a partir de outubro. Nos municípios visitados pela reportagem de O TEMPO, Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha, e em Salinas, no Norte de Minas, de outubro a janeiro, choveu pouco, muito pouco.

Em Araçuaí, o volume foi de 400 milímetros, metade da média histórica. Na feira semanal da cidade, é visível o resultado da estiagem. Faltam as frutas e as verduras fornecidas pelos pequenos produtores. Próximo às porteiras das estradas de terra, o gado mingua. Todos os dias, um caminhão leva parte do rebanho da cidade, vendido para fazendeiros de municípios vizinhos.

Das nove vacas do lavrador Juarez Santos, restaram apenas duas. A falta de pasto e de água o deixou sem opção. Caso não negociasse os animais, eles morreriam. "Caminho diariamente duas horas para trazer a água para as vacas", conta. Ele é um dos 12,5 mil habitantes da zona rural de Araçuaí. Nascido na comunidade de Aguarda Nova, Santos nunca tinha visto estiagem tão intensa. "O que estamos sofrendo em maio só acontece em agosto".

Em Itinga, a 635 km da capital, a situação se repete. Eram esperados 740 milímetros de chuva para a região, mas o volume não passou dos 300, e a seca assola os 6.554 habitantes da zona rural da cidade. Em Salinas, choveram 500 milímetros, muito aquém dos 800 milímetros esperados.

De acordo com o meteorologista Jorge Moreira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o período chuvoso deveria ir até março, mas, neste ano, foi só até janeiro. Ele explica que as regiões sofrem com a seca por causa da circulação dos ventos, que impedem a formação de nuvens e, consequentemente, das chuvas. "O ar quente precisa subir para formar as nuvens e, nessas regiões, o ar aquecido permanece em baixa altitude", explica. Segundo ele, a seca deve se agravar nos próximos meses.

SEM ÁGUA

Rios secam pela primeira vez aos 62 anos, foi a primeira vez que a dona de casa Virgínia Santos viu o rio Gravatá sem água, em abril deste ano. Ela mora na comunidade de São João Setubal, na zona rural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Com o susto de ver o rio vazio, Virgínia reza todos os dias à Nossa Senhora, pedindo que a época das águas volte.

Das nove vacas do lavrador Juarez Santos, restaram apenas duas. 


Neste mês, a prece teve resultados para ela, porém, a chuva não foi suficiente para tornar o rio caudaloso. A passarela de madeira, a 5 m de altura do filete de água, revela a gravidade do problema. "Não dá para levar a água para casa nem para lavar a roupa mais", lamenta Virgínia. A filha dela, a dona de casa Leni Câmara, 34, também lamenta a falta d’água. "A gente faz até penitência, carregando pedras nos morros, para ver se a chuva vem", disse. Na mesma cidade, o rio Piauí também secou.

Os moradores de Itinga, também no Vale do Jequitinhonha, lamentam ver o rio Jequitinhonha, principal da cidade, cada dia mais assoreado, e o Teixeirinha, seco. "Me lembro do rio desde criança. É triste vê-lo sem água", disse Miguel Sobrinho, 34.


Em Salinas, no Norte de Minas, os rios Mumbuca e do Saco e outros pequenos córregos também secaram. Na cidade, assim como em Araçuaí, também houve chuvas isoladas, com volume de 6 milímetros, o que não foi suficiente para encher os rios. "Nós precisamos de chuvas mais volumosas para que os rios voltem a correr", explicou o coordenador da Defesa Civil da cidade, Jairo dos Santos./ Diário do Jequi

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