O adolescente de 17 anos que
teve a testa tatuada à força no início deste mês, como punição porque teria
tentado furtar uma bicicleta no ABC, passou neste sábado (24) pela primeira
sessão para remoção da frase ‘"eu sou ladrão e vacilão". A informação
foi confirmada ao G1 pela clínica de reabilitação onde o adolescente faz
tratamento contra o vício do crack e álcool na Grande São Paulo.
“Começou hoje [sábado]. Já
fizeram a primeira sessão.Ela [a responsável pela remoção] já fez. Nós vamos
acompanhar com pomada, não pode tomar sol, tá bom? Mas já começou a primeira
sessão". disse Sérgio Castillo, diretor terapêutico da clínica Grand
House, em Mairiporã, responsável por tratar gratuitamente do garoto.
Segundo Castillo, uma clínica
de estética de São Bernardo do Campo também se comprometeu a remover de graça a
tatuagem feita no adolescente. Como o menino está em abstinência, por questões
de segurança, a recomendação foi que ele passasse pelas sessões de laser em
Mairiporã. Ao todo, ele deverá ser submetido a dez sessões, sendo uma por mês.
A expectativa é a de que a inscrição seja removida até março de 2018.
O adolescente foi internado
no dia 13 de junho na clínica particular de Mairiporã. Ele deverá ficar até o
fim deste ano para se reabilitar da dependência química. Ainda de acordo com a
Grand House, a pedido da proprietária da clínica que cuida da remoção, o nome
da empresa não está sendo divulgado.
Ele foi tatuado em 9 de junho
em São Bernardo pelo tatuador e músico Maycon Wesley Carvalo dos Reis, de 27
anos. O vizinho dele, o pedreiro Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, filmou.
Com a divulgação e
compartilhamento do vídeo nas redes sociais, a Polícia Civil prendeu os dois
homens em flagrante. Os dois confessaram ter tatuado e filmado como forma de
punir o adolescente porque ele queria furtar a bicicleta adaptada de um
deficiente físico.
Maycon e Ronildo foram
indiciados por tortura, mas o Ministério Público (MP) não concordou com a
investigação policial e denunciou os dois à Justiça pelos crimes de constrangimento
ilegal, lesão corporal e ameaça. As defesas dos dois acusados deverá pedir a
liberdade para que respondam soltos pelo que fizeram.
Os agressores e o dono da
bike moram em uma pensão no centro de São Bernardo, onde o menor foi levado
após desaparecer no dia 31 de maio. Ele só foi encontrado no dia 10 de junho,
um dia após ter a testa tatuada.
Segundo o 3º Distrito
Policial (DP) de São Bernardo, Maycon e Ronildo pegaram o adolescente na pensão
da Rua Jurubatuba. Lá, prenderam o garoto numa cadeira. Rindo, Maycon tatuou a
testa da vítima. Ronildo, que parecia se divertir com a situação, filmou.
Em seguida, o tatuador e o
pedreiro soltaram o adolescente e passaram a divulgar o vídeo pelo WhatsApp. A
imagem acabou sendo compartilhada diversas vezes pelo celular, chegando a
viralizar no aplicativo.
Pedreiro
Ironicamente, um dos dois
homens que cometeram a tortura, sob a alegação de estarem fazendo justiça com
as próprias mãos, já cumpriu pena de 5 anos e 4 meses por roubo, em regime
semi-aberto.
O crime foi cometido por
Ronildo no Butantã, na Zona Oeste de São Paulo e condenação promulgada em 22 de
novembro de 2008. Naquela ocasião ele e um comparsa foram presos em flagrante
após roubarem a bolsa de uma mulher "mediante grave ameaça", levando
os cartões bancários, o telefone celular e objetos pessoas de uma mulher.
Adolescente
Em entrevista ao G1, o rapaz
de 17 anos negou que tenha tentado furtar a bicicleta de um deficiente físico,
como alegaram Ronildo e Maycon. "Eu estava bêbado, esbarrei na bicicleta e
ela caiu", afirmou ele, que disse ter tido "vontade de morrer"
depois da tortura. (assista abaixo).
O adolescente tem duas
passagens por ato infracional, a primeira em 2012, quando teria entrado em um
supermercado para furtar comida. A segunda, em 2017, ele teria entrado em um
estabelecimento comercial. Sobre este ato infracional, ele deveria comparecer a
uma audiência da Vara da Infância e da Juventude, mas o procedimento jurídico
foi adiado por conta do caso.
Deficiente
O ambulante Ademilson de
Oliveira, de 31 anos, dono da bicicleta que seria pivô da agressão ao
adolescente que teve a testa tatuada em uma pensão em São Bernardo do Campo,
condenou a atitude do tatuador e seu comparsa. "Não consegui dormir
pensando nisso. Fui dormir com medo, meu coração apertado, chorei nessa
noite", afirmou Oliveira, que é deficiente físico e vive de vendas e do
dinheiro que pede no semáforo.
Tatuador
A mãe do tatuador Maycon,
disse ao G1 que o filho está arrependido por ter tatuado a testa do menor.
"Ele é um bom menino. Ele simplesmente, em uma atitude de nervosismo, agiu
de maneira errada. Agiu por impulso, no calor da emoção."/G1
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