O juiz federal Paulo Espírito
Santo, do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), suspendeu a
investigação criminal contra um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro
(Republicanos-RJ) no procedimento que apura suposto vazamento de informações da
operação Furna da Onça, em 2018.
A decisão liminar foi
concedida na tarde de sábado (18) a favor do advogado Victor Granado Alves, que
foi assessor de Flávio quando este era deputado estadual na Alerj (Assembleia
Legislativa do Rio) entre 2017 e 2019. O mérito do pedido ainda será julgado
pela Primeira Turma Especializada do tribunal.
Segundo relato do empresário
Paulo Marinho ao jornal Folha de S.Paulo, o advogado se reuniu com um delegado
da Polícia Federal que teria adiantado ao entorno de Flávio a informação de que
seu então assessor Fabrício Queiroz havia sido citado nas investigações que
culminaram na Furna da Onça.
Queiroz aparecia em relatório
do Coaf (órgão federal de inteligência financeira) que identificou
movimentações atípicas em sua conta e que foi anexado ao inquérito da Furna da
Onça. Ele, que está em prisão domiciliar, é apontado pelo Ministério Público como
operador de um esquema de "rachadinha" (devolução de salários) no
gabinete de Flávio.
De acordo com Paulo Marinho,
o vazamento da operação ocorreu entre o primeiro e o segundo turnos das
eleições de 2018. Após o encontro, Queiroz e sua filha, Nathalia, que ocupava
cargo no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, foram exonerados.
Após a divulgação do relato
de Marinho à Folha de S.Paulo, o MPF (Ministério Público Federal) do Rio e a PF
reabriram investigações para apurar o suposto vazamento.
A ocorrência de vazamentos na
operação já havia sido investigada, mas o caso foi arquivado depois que
relatório da PF afirmou que não havia sido possível identificar a antecipação
de informações.
Victor Granado Alves foi
convocado pela Procuradoria a depor, mas não compareceu. Após a recusa, o MPF
converteu sua condição de testemunha na de investigado.
No habeas corpus concedido no
sábado, o desembargador argumentou que o sigilo profissional dos advogados é
inviolável, conforme o artigo 133 da Constituição, o estatuto da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) e o artigo 154 do Código Penal.
Segundo o entendimento do
magistrado, Alves foi chamado para o encontro com o delegado da PF na condição
de advogado de Flávio Bolsonaro, com quem tinha uma relação de confiança.
Na decisão, Espírito Santo
afirmou que a recusa do advogado em prestar depoimento está legalmente
respaldada.
"As circunstâncias
demonstram que havia (ou há) uma relação profissional baseada na confiança
entre ele e o senador Flávio Bolsonaro e foi essa confiança, ao que tudo
indica, que motivou a suposta ida do paciente à sede da Polícia Federal no
Estado do Rio de Janeiro para encontrar o delegado que teria dado a informação
privilegiada", escreveu.
O habeas corpus a favor de
Alves foi impetrado pela seção fluminense da OAB. No pedido, a entidade afirmou
que o advogado não prestou depoimento ao MPF em razão do sigilo assegurado
entre a defesa e o cliente.
Já depuseram à Procuradoria,
no âmbito do procedimento que apura o suposto vazamento por delegado da PF, o
empresário Paulo Marinho e o ex-assessor Fabrício Queiroz.
Na ocasião, Marinho afirmou
que trouxe novos elementos para a investigação, além do que já havia revelado
em entrevista à Folha de S.Paulo. Queiroz disse que não tomou conhecimento
sobre o suposto vazamento.
Nesta segunda-feira (20), o
senador Flávio Bolsonaro será ouvido em Brasília às 14h pelo procurador Eduardo
Benones, coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do
MPF-RJ.
Em nota, a defesa do filho do
presidente Jair Bolsonaro afirmou que marcou a data para depor "para que a
verdade seja restaurada o mais rápido possível". Flávio foi intimado em
junho pela Procuradoria para prestar depoimento.
Em maio, advogados de Victor
Granado Alves confirmaram que o ex-assessor esteve presente em reunião na casa
de Paulo Marinho, e que, em função do sigilo profissional, não poderia comentar
os fatos tratados na ocasião.
Marinho afirmou que foi
procurado em dezembro de 2018 pelo senador eleito, "absolutamente
transtornado", que procurava indicação de um advogado criminal. Neste
encontro, Flávio teria contado ao empresário, seu suplente no Senado, sobre o
vazamento da operação e as movimentações financeiras de Queiroz.
Victor Granado Alves vinha
sendo investigado pelo Ministério Público do Rio no procedimento que apura a
prática de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de
Flávio Bolsonaro na Alerj,
devido ao suposto esquema da "rachadinha".
Alves foi um dos assessores
de Flávio na Alerj que tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrados em abril do
ano passado, conforme decisão do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal.
Como revelou a Folha de
S.Paulo, o PSL nacional contratou a pedido de Flávio, em fevereiro de 2019, o
escritório de advocacia de Alves. Foram 13 meses e meio de contrato, pagos com
recursos do fundo partidário. O custo aos cofres públicos foi de pelo menos R$
500 mil.
O PSL foi o partido pelo qual
Jair Bolsonaro se elegeu presidente e Flávio, senador. Ambos romperam com a
legenda e se desfiliaram no final do ano passado.
Assim como o senador, Alves e
sua mulher também são donos de franquias da Kopenhagen. A Promotoria suspeita
que Flávio tenha utilizado a loja de chocolates para lavar dinheiro da
"rachadinha".
Como mostrou o jornal O
Globo, uma das franquias de Alves teve um aumento do capital social de quase
nove vezes, em um período de dois anos. Ofício de alteração da empresa indica
que o aumento do capital social foi proveniente de recursos próprios dos
sócios.
LINHA DO TEMPO
31.jul.18
Ministério Público do Rio
inicia investigação sobre movimentação atípica de valores por Queiroz, apontada
em relatório do Coaf
7.out.18
Segundo Paulo Marinho, uma
semana após o primeiro turno da eleição (realizado no dia 7), o delegado da PF
entrou em contato com o gabinete de Flávio Bolsonaro
15.out.18
Queiroz e sua filha,
Nathalia, são exonerados dos cargos que ocupavam nos gabinetes de Flávio e
Jair, a pedido do hoje presidente, segundo Marinho
PERGUNTAS AINDA SEM REPOSTA
NO CASO QUEIROZ
Quem é o delegado que teria
vazado a informação sobre o relatório do Coaf aos funcionários de Flávio?
Quem teve acesso ao relatório
do Coaf que menciona Queiroz antes da operação ser deflagrada?
Flávio diz que Queiroz foi
exonerado para cuidar de sua aposentadoria na PM. Mas por que a filha dele foi
exonerada do gabinete do então deputado Jair Bolsonaro?
Por que Queiroz e a filha
dele foram demitidos, se a medida não alteraria o fato do ex-assessor ter
movimentação financeira atípica?/bnews
Nenhum comentário:
Postar um comentário