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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Escritor jucuruçuense Caio Rossan revive crônica escrita em 2015 e a dedica nos 32 anos de aniversário de Jucuruçu

 "Essa crônica foi escrita no ano de  2015 pelo o escritor Caio Rossan, mas ela continua super atual".  

Meu Vilarejo. 

Jucuruçu. 26 anos de emancipação. Mais de 100, desde os primeiros moradores.  Jucuruçu antiga, Jucuruçu nova. 

Jucuruçu das matas fechadas e virgens, e dos campos abertos e desnudos. Dos recursos naturais estimados, tão únicos e tão raros, e do seu símbolo que enfrenta a morbidez. Aquele símbolo que deu-lhe o nome, que por suas curvas serpenteia o vale e que sofre com a sua morte. Uma crônica anunciada. 

Jucuruçu das tradições folclóricas, por vezes esquecidas, mas que por outras vezes em seus filhos levantadas. Jucuruçu dos diversos credos e crenças, e de uma fé ainda existente.

Lugar da poeira e do barro, do cheiro de chão preto tão aguardado.  Terra de montes e de fontes, de amores e de dores.

Lugar de sossego e de turbulência. Jucuruçu que é família e Jucuruçu que não é tanto assim. Jucuruçu dos governos sem respeito, que aparecem vestidos em vestes diferentes. Vestes de atrasos salariais, da ausência de caráter, das mentiras, do cinismo e da vingança. Mas também de pessoas com esperança, empatia, liderança, carisma e dignidade. 

Jucuruçu do paradoxo, do positivo e do negativo, de lados completamente opostos numa mesma situação. Jucuruçu da negação da verdade. Jucuruçu do comodismo. Jucuruçu da sede pelas melhorias. Jucuruçu da mudança. Ou não. Jucuruçu do tempo, da terra, das bênçãos e das maldições. 

Jucuruçu dos olhares, das crianças nas janelas, dos pés descalços, da vida tão leve de antes. Jucuruçu que mudou, não se sabe para onde ou para quê. Jucuruçu dos povos nas calçadas. Jucuruçu que se esqueceu um pouco de quem é Jucuruçu de filhos esquecidos, Jucuruçu de pais omissos. Jucuruçu de rostos conhecidos e de outros nem tanto. Jucuruçu que valoriza seus filhos e Jucuruçu que não os valoriza. 

Jucuruçu dos “causos” e das lendas. Das histórias cabeludas e dos traçados familiares enroscados e quase indecifráveis. Há também a Jucuruçu que nega a si mesma e aquela que nega a própria história e que quer mudá-la ou omiti-la. Jucuruçu das duas famílias originais. Jucuruçu das muitas famílias atuais. 

Jucuruçu dos forasteiros e sugadores, e dos filhos adotivos tão filhos quanto, ou até mais amados e doados a essa terra que fora por eles abraçada. 

Jucuruçu das pessoas que se foram. Alguns à procura de emprego, de oportunidade. Outros, para nunca mais voltar. E ainda há aqueles que não voltam mesmo, que moram na saudade, naquele jardim na Trindade. 

Terra do ar puro. E terra que sabe sufocar. Terra das falácias e dos murmúrios. Terra do grito e da ação, de paixões e solidões. De conquistas. E de ilusões. 

Jucuruçu que já foi fazenda. E que tempos depois ainda é cercado por uma.  Jucuruçu de tantos nomes. Do Chumbo e da Trindade. 

Jucuruçu ainda desconhecido por vizinhos. Jucuruçu dos filhos que brilham. Jucuruçu amada e odiada. 

Parabéns, Jucuruçu. E nunca se esqueça das suas raízes. 

Por Caio Rodrigues dos Santos, filho ontem, hoje e sempre desse pedacinho de mundo.

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Rua principal de Jucuruçu - Bahia, 3 de março de 2024.

Jucuruçu - Bahia. Pedaço bom do Brasil.