A Arquidiocese de São Paulo comunicou na manhã desta segunda-feira, 4, o falecimento do Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo.
Dom Cláudio tinha 87 anos (completaria 88 anos em 8 de agosto) e morreu em sua residência, na zona Sul de capital paulista, onde permanecia, a seu pedido, em cuidados paliativos após um quadro irreversível de câncer no pulmão.
O velório e dos ritos fúnebres serão realizados na Catedral Metropolitana de São Paulo, com início ainda hoje, em horário a ser divulgado. O sepultamento ocorrerá na Cripta da Catedral, em dia e horário a ser ainda informado.
“A Igreja em São Paulo rende graças ao Senhor pela vida de Dom Cláudio, por seu exemplo de Pastor zeloso do povo de Deus. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, convida todos a elevarem preces de louvor e gratidão a Deus e de sufrágio em favor do falecido Cardeal Hummes”, manifesta a Arquidiocese de São Paulo, em comunicado do Vicariato Episcopal para a Pastoral da Comunicação.
O BISPO DAS CIDADES
Aury Afonso Hummes – nome de registro de Dom Cláudio – nasceu em 8 de agosto de 1934 no atual território da cidade de Salvador do Sul (RS), à época pertencente ao município de Montenegro (RS). Ele decidiu entregar sua vida inteiramente a Deus desde os 17 anos de idade, quando ingressou, em 1952, na Ordem dos Frades Menores – franciscanos. Ordenado sacerdote em 1958, foi enviado a Roma, onde obteve o doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum, em 1963.
Nomeado Bispo por São Paulo VI, em março de 1975, Dom Cláudio Hummes assumiu a Diocese de Santo André (SP), em dezembro do mesmo ano, e ali permaneceu por 21 anos, até 1996, quando foi nomeado para a Arquidiocese de Fortaleza (CE).
Em Santo André, Dom Cláudio Hummes acompanhou de perto a pujança do movimento operário no Brasil, incluindo a histórica greve geral do metalúrgicos do ABC no fim da década de 1970. O Bispo, muitas vezes, abriu as portas da Catedral de Santo André para assembleias, presidiu missa com a participação dos grevistas e posicionou-se corajosamente contra as demissões dos manifestantes.
Em Fortaleza, entre 1996 e 1998, Dom Cláudio coordenou um intenso trabalho com as famílias, especialmente com as mais pobres e endividadas, no contexto da preparação do 2º Encontro das Famílias com São João Paulo II e do Congresso Teológico Pastoral sobre a Família, em outubro de 1997. Também aprovou o reconhecimento canônico em âmbito diocesano dos estatutos da Comunidade Shalom e mobilizou a Arquidiocese em uma campanha de arrecadação para que se viabilizasse na capital cearense uma retransmissora da Rede Vida de Televisão.
Em 1998, São João Paulo II o nomeou como Arcebispo de São Paulo, onde permaneceu até 2006, tendo sido feito cardeal pela Papa em 2001.
Na maior metrópole do País, Dom Cláudio preocupou-se com a condição de vida das pessoas mais pobres, fazendo com que a Arquidiocese apoiasse projetos de emprego e geração de renda, e promoveu o “Seminário da Caridade”, a partir de 2001, para mapear todas as ações caritativas que a Igreja em São Paulo realizava naquele momento.
Dom Cláudio também não mediu esforços para a evangelização, o que envolveu melhorias na formação contínua do clero, com os cursos anuais de atualização teológica e pastoral; a criação do Centro Vocacional Arquidiocesano e da Escola Diaconal São José, ambos no ano 2000; a reestruturação dos seminários; e o convite ao clero e a todo o povo de Deus para a saída missionária nas diferentes realidades.
Em âmbito administrativo, elaborou o Estatuto Civil da Arquidiocese; profissionalizou e modernizou o processo de administração das finanças da Igreja em São Paulo; instituiu a partilha mensal das paróquias para ajudar na manutenção dos seminários e das pastorais arquidiocesanas; elaborou um novo plano de manutenção financeira da Arquidiocese; conduziu o restauro da Catedral da Sé; e reequilibrou as finanças da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
“Agradeço a todo o povo de São Paulo, de modo muito especial aos católicos das nossas comunidades. Quero agradecer o carinho, a acolhida fraterna com que sempre fui recebido. Vocês me ajudaram a construir uma comunhão eclesial muito bonita. Agradeço aos padres de coração. Nós fomos, juntos, um corpo de pastores fiéis, a quem foi confiada esta Igreja, e este corpo fez, de fato, um trabalho admirável”, disse em entrevista ao jornal O SÃO PAULO ao se despedir da Arquidiocese, em 2006.
RESPONSÁVEL POR 400 MIL SACERDOTES
Entre 2006 e 2010, nomeado pelo Papa Bento XVI, Dom Cláudio foi o Prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano.
À época, o Cardeal Hummes foi responsável por mais de 400 mil sacerdotes espalhados pelos cinco continentes, um trabalho que ele cumpriu com dedicação, solicitude e obediência ao Santo Padre.
Na função, teve que enfrentar questões difíceis, como os casos de pedofilia e a laicização, processo pelo qual os padres deixam o sacerdócio.
No cargo como Prefeito da Congregação para o Clero, Dom Cláudio contribuiu para a aprovação do Acordo Brasil – Santa Sé, em 2008, trabalhou em prol da canonização do Apóstolo do Brasil, Beato José de Anchieta (algo que seria efetivado em 2014), e dedicou-se para a organização e realização do Ano Sacerdotal, 2009-2010.
O OLHAR VOLTADO PARA A AMAZÔNIA
De volta ao Brasil, foi nomeado Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo que exerceu até 2019.
Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro Presidente. Em 2019, foi Relator-geral do Sínodo para a Amazônia e, de julho de 2020 a março de 2022, presidiu a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).
Falando na COP21, uma cúpula internacional sobre o clima, em dezembro de 2015, Dom Cláudio manifestou irrestrito apoio ao modo de vida dos indígenas: “é preciso defendê-los, defender seus direitos, dar-lhes de novo a possibilidade de serem os protagonistas de sua história, os sujeitos de sua história. Deles foi tirado tudo: a identidade, a terra, as línguas, sua cultura, sua história, tudo”.
Em uma entrevista concedida ao site da Repam, às vésperas do Sinodo de 2019, comentou que “a Amazônia está passando por um momento em que está se definindo seu futuro. O Papa Francisco veio com a Laudato Si’, que ajudou ao mundo, mas sobretudo a nós cristãos a pensar mais concretamente sobre o sentido da Amazônia, sua missão, sua vocação, nem só como Igreja, senão também como região, como área socioambiental”.
Ao assumir a presidência da Ceama, em 2021, Dom Cláudio externou seu amor pela Amazônia: “É difícil expressar em palavras os sentimentos pela Amazônia. Agradeço muito todo o carinho e creio que podemos continuar a nos dedicar totalmente a essa vocação que o Papa nos confirmou: trabalhar para a evangelização na Amazônia”.
Em junho de 2021, após Dom Cláudio Hummes ter recebido o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de Rosário (UNR), da Argentina, o Papa Francisco escreveu-lhe, agradecendo-o pelo “exemplo que me deu durante a sua vida”, e recordando duas frases que ficaram na história, pronunciadas pouco depois de ter sido eleito Papa, quando Dom Cláudio lhe disse: “é assim que o Espírito Santo age”; e “não se esqueça dos pobres”. O Pontífice enfatizou que cardeal brasileiro está entre aqueles “líderes que têm a coragem de abrir trilhas, caminhos, e de provocar sonhos; a coragem de continuar sempre olhando o horizonte sobre os problemas e as dificuldades do caminho”./osaopaulo
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