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segunda-feira, 10 de março de 2014

Moradora de Dois de Abril - MG - é referenciada pelo o sociólogo Wilton Soares



“Coisa linda gostosa Samara / Deixa eu bater na sua cara / E te chamar de safada / E fazer amor, fazer amor:p 

E assim, com o forró-brega “Samara”, dona Isabel, a Zazá do Bola Verde, abre o seu serviço de utilidade pública há cerca de 48 anos. “Meus amigos e minhas amigas de Dois de Abril, boa tarde! Oh, pessoal, o serviço de alto-falante está no ar... Notícia boa: João de Joventino manda avisar que vai ser lá na Creche, sete horas da noite, o casamento da filha dele.” 

Sem hora marcada para ir ao ar, o serviço de utilidade pública de Zazá deixa todos apreensivos quando a música começa a tocar pelos alto-falantes. Se a música é um forró-brega, não há o que temer: “Oh, pessoal... Notícia boa! Uiliam de Deuzim acaba de matar vaca... Carne fresquinha da hora!”. Antes de voltar a repetir, o aviso toca um forró-brega: “Ei Jhow, minha mulher tá me traindo / No forró se divertindo Por favor, chame a políciao:p 

Nosso maior temor é quando o anúncio é precedido de uma música fúnebre. É comum as pessoas saírem de dentro de suas casas para o quintal ou para a rua para ouvir melhor o nome do falecido. Neste caso, mesmo que seja um desconhecido, ouvimos a notícia com pesar, pois nunca estamos preparados para a perda. 

O saudoso ex-vereador Dequinha Reis foi quem incentivou Zazá a instalar no alto do telhado do Bola Verde as duas “bocas” metálicas dos alto-falantes utilizados na hora das propagandas e dos recados de todos os tipos. Dequinha Reis, que também era sanfoneiro, vivia animando os casamentos nas roças, festas juninas e folia de reis. 

Comunicador nato, não era profissional, mantinha um serviço de utilidade pública por meio de alto-falantes na feira livre de Palmópolis. Toda vez que passo em frente ao Bar Bola Verde, invariavelmente, lá está o casal Isabel e Caboquim sentados em cadeiras de plástico na calçada. Sozinhos ou acompanhados de amigos, difícil não encontrá-los sentados ali. 

Caboquim, segundo companheiro de Zazá, quase sempre está sem camisa. Melhor mecânico de carros de Dois de Abril, trabalha em ritmo de aposentado. Quando não estão por ali, é certo que estão em suas rocinhas na “terra das irmãs”, com as quais pretendem se habilitar a uma aposentadoria como trabalhadores rurais. Irresistível é vê-los ali, observar a cumplicidade e o zelo mútuos, e não se aproximar para bater um papo com os dois. 

Parecem falar em uníssono, sem se contradizerem. Ultimamente, andam incomodados com a barulheira das motos e os seus donos que andam fazendo da Rua Fortunato Pereira pista de motocross. Conversar com eles é sempre um prazer, pois estão sempre bem informados sobre todos os acontecimentos da vila. 

Um dia desses, dona Isabel me contou que pretende vender o Bola Verde se achar quem pague um bom preço pelo imóvel. Ouvindo-a falar isso, por minha cabeça passou um filme dos momentos de que o quinquagenário Salão Bola Verde foi palco. 

O bar ganhou esse nome de Bola Verde por inspiração do antigo Bar Bola Branca que havia na cidade baiana de Itanhém, nossa Água Preta! O “salão” tem uma decoração antiga e retrô, cheia de personalidade, com pôsteres de artistas da música brega, bandeirolas de festas juninas passadas, calendários atuais e antigos, propagandas de produtos para cabelo e espelho na entrada da “danceteria”. 

Nas prateleiras há muitos litros de bebidas baratas e populares sobretudo entre as pessoas mais velhas da zona rural, como “Vinho de Mesa Gaúcho”, “Para Tudo – Raízes medicinais”, “Conhaque Dreher”, uísques nacionais, além das bebidas geladas tradicionais, como cervejas e refrigerantes. 

O Bola Verde foi o primeiro bar a vender cerveja em Dois de Abril. O “salão”, além de boate, se prestava a abrigar reuniões políticas, comunitárias e até religiosas. Ah, é claro, ali também funciona o estúdio do serviço de alto-falantes de Zazá. 

Antes mesmo de eu perguntar sobre o futuro do serviço de utilidade pública feito por ela, caso vendesse o bar, foi logo me dizendo: “No dia em que eu vender o bar, eu tiro meus aparelhos e instalo os alto-falantes lá em casa”. “Viu, pessoal? Presta bem atenção para esse aviso!” Ufa! 

Fonte e criação *Wilton Soares*  sociólogo.

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