O Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, prometeu justiça pela morte dos estudantes HENRY ROMERO/REUTERS
O Presidente do México, Enrique Peña Nieto, convocou os partidos políticos e as organizações sociais do país para firmar um “pacto nacional contra a violência” que assegure que “crimes abomináveis” como aquele que aconteceu em Iguala jamais voltem a repetir-se.
A iniciativa foi anunciada antes do Procurador-geral da República, Jesús Murillo Karam, confirmar aos mexicanos que os 43 estudantes desaparecidos depois de um confronto com a polícia municipal daquela localidade foram mortos por membros do cartel de narcotraficantes Guerreros Unidos.
O país continua em choque, e ainda incrédulo, com a sorte dos 43 alunos da escola de magistério rural de Ayotzinapa, conhecidos no México como “normalistas”. Os pais recusam-se a aceitar a sua morte sem provas conclusivas e insistem que as investigações têm de prosseguir como se os filhos permanecessem sequestrados e vivos. Mas numa pesada conferência de imprensa, convocada para apresentar os factos já apurados pela investigação, o procurador-geral disse não ter “nenhuma dúvida” quanto ao desfecho macabro da fatídica noite de 26 de Setembro, quando foram vistos pela última vez a sair da esquadra de Iguala.
Através de Murillo Karam, o México ficou a conhecer o teor da confissão de três membros do grupo de narcotraficantes que estiveram envolvidos no ataque aos estudantes. Os homens, identificados como Patrício Reyes, Jonatan Osorio e Agustín García, confessaram a autoria da morte “de dezenas de pessoas” no local de uma lixeira – alguns asfixiaram dentro de um camião, outros foram executados a tiro – e explicaram que os corpos foram queimados numa pira feita com pneus, madeira e outros desperdícios, regada a gasolina. Quando as cinzas arrefeceram foram ensacadas, e atiradas para ser levadas pela corrente do rio Cocula – num local que está a ser minuciosamente vasculhado pela polícia e peritos de medicina legal.
Dois desses sacos já foram recuperados mas a eventual identificação dos restos calcinados, através da recolha de ADN, está comprometida pela deterioração do material, admitiu Murillo Karam. Não obstante, foi pedida ajuda aos principais centros de perícia internacionais: o procurador informou que especialistas argentinos estão a analisar o local e que os testes laboratoriais serão realizados na Áustria. O processo é difícil, mas “não serão poupados esforços até esgotar todas as possibilidades científicas”, garantiu.
Essa é a chave que falta para fechar o mistério dos estudantes: as autoridades já procederam à reconstituição dos acontecimentos desde que os “normalistas” se aproximaram de Iguala até ao momento em que foram entregues pela polícia municipal ao gangue de narcotraficantes que domina a cidade. Perante a aproximação do grupo de estudantes – que planearam uma acção de protesto e recolha de fundos a caminho da Cidade do México – foi dada ordem à polícia para travar a sua entrada em Iguala “a qualquer custo".
A ordem veio do próprio presidente da câmara, José Luis Abarca, que foi acusado da autoria moral do ataque aos estudantes. A polícia municipal atirou sobre os autocarros em que viajavam os estudantes (logo ali morreram seis pessoas e 25 ficaram feridas) e depois encaminhou-os para a esquadra – local de onde saíram ao cuidado dos Guerreros Unidos, que se encarregaram do massacre.
Segundo os investigadores, o autarca queria prevenir a “interrupção” de um acto público da mulher, María de los Ángeles Pineda, que, segundo revelou a investigação, mantinha uma longa associação ao sanguinário cartel do narcotráfico de Iguala. No curso das buscas, já foram encontradas nove valas comuns nas imediações da cidade, e retirados cerca de 30 corpos, alguns dos quais de mulheres.
O caso gerou uma onda de indignação e protestos contra a violência extrema e a cultura de corrupção e impunidade que tomou conta do México. Sob pressão, o Presidente Peña Nieto procurou reafirmar a sua liderança e autoridade política prometendo “medidas institucionais” para combater esses fenómenos e ainda “reformas estruturais” para mudar a realidade. Mas a sua posição – e a do Governo – está enfraquecida: logo após o anúncio do procurador-geral, a Amnistia Internacional divulgou um comunicado onde considera que se está perante "um crime de Estado", e critica as investigações "limitadas e incompletas" feitas ao desaparecimento dos estudantes./G1
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