O juiz Sérgio Moro,
responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, afirmou na
manhã desta terça-feira (15), em São Paulo, que a reforma política "como
está sendo pensada não é uma verdadeira reforma política".
Moro falou sobre a
importância do Supremo Tribunal Federal (STF) ter aprovado a ação direta de
constitucionalidade que proibiu a doação de empresas para campanhas eleitorais.
O juiz afirmou que tem simpatia ao financiamento público, mas não exclusivo, e se
mostrou preocupado com a renovação dos mandatos.
O juiz federal Sérgio Moro
fala durante um seminário em São Paulo (Foto: Paulo Whitaker/Reuters) O juiz
federal Sérgio Moro fala durante um seminário em São Paulo (Foto: Paulo
Whitaker/Reuters) O juiz federal Sérgio Moro fala durante um seminário em São
Paulo
“Há uma tendência de quem
está dentro do sistema, quem tem um cargo político, queira continuar dentro e
queria deixar fora quem está fora, então, um financiamento público, por bem
intencionado que seja, tem que ser muito bem pensado para evitar esse tipo de
problema.
Essa decisão foi extremamente importante do STF, porque o sistema
anterior realmente não era adequado, mas acho – e aqui vai uma crítica, com
todo respeito ao Parlamento – que essa reforma política como está sendo
pensada, não é uma verdadeira reforma política, tem que ser pensada de maneira
diferente para se enfrentar esse problema”, disse.
Juiz Sergio Moro diz que
reforma política proposta 'não é uma verdadeira reforma'. O magistrado finalizou seu
discurso “lamentando” que ações de combate à corrupção tenham quase sido
exclusivamente da Justiça criminal. “Penso que nossos representantes eleitos
deveriam despertar uma maneira mais incisiva nesse tema da corrupção”, afirmou.
Sérgio Moro critica apatia de
instituições do governo no combate à corrupção PEC da reforma política.
A comissão especial da Câmara
que analisa uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) relacionada à reforma
política concluiu, nesta terça-feira, a votação do relatório que estabelece o
"distritão" para as eleições de 2018 e cria um fundo para bancar as
campanhas com dinheiro público.
Na semana passada, os
deputados quase terminaram a votação do projeto, mas a sessão foi adiada após a
oposição esvaziar a reunião. Ficou para esta terça a votação de dois destaques,
sugestões de mudanças à redação original da proposta. Agora, o projeto seguirá
para análise do plenário da Câmara, onde será submetido a duas votações e, para
ser votado no Senado, precisará do apoio mínimo de 308 dos 513 deputados.
Juiz Sérgio Moro em palestra
na manhã desta terça-feira (15) em São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo) Juiz
Sérgio Moro em palestra na manhã desta terça-feira (15) em São Paulo.
Moro descartou, mais uma vez,
sua candidatura à Presidência da República nas eleições de 2018. "Penso
que é preciso ter um certo perfil e sinceramente não me vejo com esse
perfil", afirmou.
"Já disse mais de uma
vez e reitero quantas vezes forem necessárias que não sou e não serei
candidato."
O juiz Moro também falou
sobre a questão do foro privilegiado. Segundo ele, "tem presente a
necessidade da redução do rol de pessoas que tem direito a esse
privilégio".
Para ele, ocupar o STF com
casos criminais é uma "distorção do papel" da Suprema Corte. "Os
tribunais superiores não estão preparados, estruturados, para esse tipo de
processo. Eles estão estruturados principalmente para decidir questões
jurídicas e, no caso do STF, processos de revisão de constitucionalidade",
justificou.
De acordo com o magistrado, o
foro privilegiado ainda traz consigo outro problema: "Via de regra, esses
processos são conduzidos muito lentamente, o que pode levar a uma percepção ou
um efeito prático de impunidade por não serem julgados ao seu tempo".
"Acima de tudo existe a
questão da igualdade. Democracia pressupõe que todas as pessoas são livres e
iguais. E esse tratamento diferenciado para pessoas que têm mais poder me
parece um pouco inconsistente", completou o juiz.
O juiz federal Sérgio Moro
fala durante um seminário em São Paulo (Foto: Paulo Whitaker/Reuters) O juiz
federal Sérgio Moro fala durante um seminário em São Paulo
Moro ainda defendeu, durante
o evento, que o efetivo da Polícia Federal seja reforçado. Segundo ele, as
contratações são "um investimento barato", já que grandes montantes
são restituídos aos cofres públicos a partir do trabalho dos agentes.
"Eu entendo realmente
que era apropriado um aumento de efetivo. Não no sentido de que há uma intenção
deliberada de enfraquecer a operação, mas eu acho que não é o momento de
vacilações. É preciso investir pra chegar com esse caso até o final. Valeria a
pena ter um efetivo maior da Polícia Federal", afirmou.
O presidente da Associação
Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral, "ficou
feliz com as palavras" de Moro. "O reconhecimento da importância de
investimento na Polícia Federal. Nós temos um cenário de escassez de recursos.
O orçamento vem diminuindo ano após ano, o que dificulta inclusive a abertura
de novas unidades e a continuidade de operações policiais".
"Evidentemente isso
atrapalha. Nós somos obrigados a priorizar operações que já estão em andamento.
Poderíamos começar várias outras. Várias outras Lava Jato, Zelotes, Acrônimo, e
não conseguimos porque somos obrigados a canalizar os recursos para as que
estão em andamento e isso gera um prejuízo a longo prazo que é importante já
revertermos desde agora"./G1
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