O Ministério Público de Goiás
(MPGO) deflagrou nesta segunda-feira (19) a Operação Caifás para desarticular
um grupo que desviava dinheiro da Igreja Católica. Um dos chefes do esquema,
segundo o órgão, é o bispo mineiro dom José Ronaldo Ribeiro, que atuou por sete
anos em Janaúba, no Norte de Minas, e, atualmente, estava em Formosa (GO). Além
dele, foram presos quatro padres, um monsenhor, um vigário geral e dois
funcionários da Cúria (administração geral) da Diocese de Formosa.
Na casa dos suspeitos foram
encontrados objetos de luxo, como relógios e computadores, e grande quantia em
dinheiro, parte, inclusive, em um fundo falso de um armário. O MPGO informou
que ainda levanta o valor desviado no esquema, mas a promotora Fernanda
Balbinot acredita que o desfalque tenha ultrapassado R$ 1 milhão.
A investigação começou depois
que frequentadores da igreja fizeram uma denúncia formal ao MPGO. “Segundo os
fiéis, desde a vinda do bispo, o sistema de administração e controle da
contabilidade se desmantelou e não houve transparência”, disse a promotora.
A partir da denúncia, o MPGO
verificou indícios de desvio de recursos de algumas paróquias ligadas à Diocese
de Formosa, sob responsabilidade de dom José Ronaldo Ribeiro e também da Cúria,
que recebe um percentual da arrecadação da diocese e também estava sob o
comando do bispo. Segundo a promotora, o grupo teria se apropriado de verbas
arrecadadas como dízimo, oferendas na missa, doações e festas das igrejas.
“Verificou-se desvio desse
dinheiro em benefício próprio de alguns padres e do próprio dom José Ronaldo”,
afirmou Fernanda. O montante exato deve ser contabilizado até sexta-feira,
quando o MPGO pretende apresentar denúncia contra o grupo.
Por enquanto, os
investigadores analisam documentos e computadores apreendidos. Para não haver
destruição de provas nem influência de testemunhas, os suspeitos foram detidos
mediante ordem de prisão temporária de cinco dias. Segundo a promotora, já
estão materializados os crimes de apropriação indébita, associação criminosa,
falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. “É importante pontuar que a Igreja
Católica é vítima e está colaborando com as investigações”, afirmou Fernanda.
A Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil informou que está avaliando o caso e aguarda um posicionamento
da assessoria jurídica para se posicionar. A reportagem tentou falar com as
Dioceses de Formosa e Janaúba, mas ninguém atendeu nesta segunda-feira.
Advogados dos suspeitos também não foram localizados.
Denúncias também em Janaúba
As denúncias contra o bispo
dom José Ronaldo Ribeiro começaram ainda em Minas Gerais. Nascido em Uberaba,
no Triângulo Mineiro, ele assumiu a Diocese de Janaúba em junho de 2007. Até
ser designado pelo Vaticano para a Diocese de Formosa, em novembro de 2014, ele
também foi alvo de acusações por falta de transparência e furtos em sua gestão,
como relatam jornais locais do Norte de Minas.
Além do desvio de verbas da
igreja, jovens que vieram de Brasília com o bispo também foram denunciados
suspeitos de furtar pertences de fiéis durante as missas. Polícia Civil e
Ministério Público de Minas Gerais não souberam informar se o bispo chegou a
ser investigado.
Em entrevista ao Jornal
“Serra Geral”, na época, dom José Ronaldo Ribeiro disse que tinha a consciência
tranquila e afirmou que estaria sendo alvo de pessoas que agiam para
desestabilizar a sua gestão. O Ministério Público de Goiás informou que, se
encontrar prova de algum delito praticado em Minas, o caso será repassado para
as autoridades mineiras.
Histórico
Religioso. Dom José Ronaldo
Ribeiro recebeu a ordenação episcopal em 2007, em Sobradinho (DF), e adotou o
lema ‘In corde legem meam’ (‘Minha lei no coração’ (Jr. 31, 31-34). Tem os
seguintes títulos: Cidadão Honorário de Brasília (2002); Cidadão Destaque de
Sobradinho (2006); e Amigo da Academia Nacional de Polícia, do Departamento de
Polícia Federal (2005).
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