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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Mais de 4 mil notícias de violência contra a mulher em 10 anos


Mosaico - violência contra a mulher (Foto: Arte/G1)

"Violentamente espancada", "ferida com golpes de facão", "amarrada dentro da própria casa", "incendiada pelo marido". A violência contra a mulher está presente em todos os estados, em todos os estratos sociais. Nos 10 anos da Lei Maria da Penha, o G1 compilou reportagens publicadas de 2006 até julho de 2016 – período que compreende a vigência da lei. São 4.060 textos, que reúnem histórias de mulheres agredidas, estupradas e mortas por maridos, companheiros, namorados ou ex-parceiros.

Enquadrar o agressor na lei é decisão da Justiça, mas a quantidade de violências  que chegam a ser noticiadas ilustram como ela está presente na vida das mulheres. Motivados por ciúmes, para punir traições ou contra o fim de relacionamentos, parceiros vivem uma rotina de agressões que podem terminar em morte.

Na maior parte das notícias, as mulheres não têm a identidade revelada e são poucos os casos em que há informação sobre o que aconteceu com a vítima após a agressão – quando ela sobrevive – ou se o agressor foi punido. Já outros casos ganharam repercussão; confira 10 histórias emblemáticas ocorridas nos últimos dez anos:

A atriz Luiza Brunet, de 54 anos, acusa o ex-companheiro, o empresário Lírio Albino Parisotto, de 62 anos, de ter "praticado violências físicas e psicológicas gravíssimas". Ela diz que foi agredida e teve as costelas quebradas quando os dois estavam em Nova York, em 21 de maio deste ano.
"Dei publicidade ao caso para que outras mulheres vítimas de violência tomem coragem e não se calem." Parisotto nega as agressões. A Justiça proibiu que o empresário se aproxime e mantenha contato com a atriz.

Em 13 de setembro de 2008, Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, estudava com três amigos no apartamento onde morava com a família, em Santo André. Por volta das 13h30, Lindemberg Alves, de 22 anos, invadiu o apartamento, armado, e manteve o grupo refém. Ele não aceitava o fim do namoro com Eloá e dizia que se ela não fosse ficar com ele, não ficaria com mais ninguém.

Lindemberg libertou dois amigos de Eloá na noite daquele dia. Nayara, a quarta adolescente refém, chegou a ser libertada no dia seguinte, mas voltou para ajudar nas negociações. Após 100 horas de cativeiro e inúmeras tentativas de negociação, a polícia invadiu o apartamento de Eloá. Lindemberg atirou contra as duas adolescentes, matando Eloá e ferindo Nayara no rosto.

Em fevereiro de 2012, Lindemberg foi condenado a 98 anos e dez meses de prisão pela morte de Eloá e outros 11 crimes cometidos durante o sequestro. As histórias de Louise Ribeiro e Vinícius Neres se cruzaram quando os dois foram aprovados no curso de biologia da Universidade de Brasília, a UnB. Após um namoro, o casal se separou, mas, segundo os amigos, Vinícius continuou obcecado por Louise.

Em 10 de março, Vinícius chamou Louise para conversar no laboratório de biologia da faculdade. Eram cerca de 22h. Vinícius e Louise se desentenderam. Ele a amarrou a uma cadeira, e a forçou a ingerir clorofórmio. A substância, usada como anestésico, causou morte súbita em razão da quantidade ingerida. Na noite daquele mesmo dia, Vinícius levou o corpo de Louise para uma área de cerrado, perto da universidade. Ele foi preso na manhã seguinte, após amigos dizerem aos policiais que suspeitavam do estudante. Vinícius confessou o crime.

Ana Carolina de Souza Vieira, de 30 anos, deixou Fortaleza, no Ceará, em 2014, para tentar a vida como modelo em São Paulo. Dançarina, ela chegou a participar de um concurso para ser bailarina do Programa do Faustão. Ana recebia ameaças do ex-namorado, Anderson Rodrigues Leitão, que morava em Fortaleza e não aceitava o fim do relacionamento.

Ana chegou a enviar mensagens de áudio para a família relatando as intimidações."Ele disse que ia me matar, que ia me esquartejar”, disse, em uma gravação. O corpo de Ana foi encontrado em 4 de novembro de 2015 no apartamento em que ela morava, na Rua Vergueiro, após vizinhos sentirem um forte cheiro no local. O ex-namorado confessou tê-la matado por ciúme. Anderson também disse que permaneceu por dois dias ao lado do corpo de Ana, e que tomou veneno de rato porque queria morrer com ela.

Em 21 de agosto de 2015, as famílias de Marcelo Barberena e do irmão dele foram passar o fim de semana em uma casa de veraneio em Paracuru, no litoral do Ceará. Marcelo levou a esposa, Adriana Moura de Pessoa Carvalho Moraes, de 39 anos, e a filha do casal, Jade, de 8 meses.

Lá, eles discutiram, e Marcelo atirou em Adriana na madrugada do dia 23. Ela morreu. Para simular um assalto e acobertar o crime, Marcelo atirou no bebê. Jade também não resistiu. A polícia foi chamada e Marcelo e o irmão disseram que a casa havia sido invadida por criminosos. A versão foi desmontada durante a investigação.

De acordo com a polícia, Marcelo estava se envolvendo com uma colega de trabalho, e Adriana o pressionava para trocar de emprego. Marcelo foi acusado por duplo homicídio qualificado e posse irregular de arma de fogo. As qualificadoras são motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa das vítimas e feminicídio.

A advogada Mércia Nakashima tinha 28 anos quando foi morta pelo policial militar aposentado Mizael Bispo de Souza por não querer reatar o namoro. Mércia foi vista pela última vez em 23 de maio de 2010, saindo da casa dos pais, em Guarulhos, e desapareceu. O corpo foi encontrado em 10 de junho dentro de uma represa, em Nazaré Paulista.

Em março de 2013, Mizael foi condenado a 20 anos de prisão em regime fechado. Na sentença, o juiz disse que o crime não foi cometido por "amor", mas "delírio de posse". "Sentimento amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, é que faz sofrer."

Gisele Santos de Oliveira não queria mais continuar casada com Elton Jones Luz de Freitas porque o marido era muito ciumento. “Não deixava nem dar oi na rua”, diz, sobre a atitude controladora dele.
Em uma manhã de domingo, 2 de agosto de 2015, o casal discutiu e Gisele deu um ultimato a Elton: “Ou você sai de casa, ou eu saio”.

Ele não saiu. Elton trancou a casa, guardou a chave no bolso, e passou a agredir Gisele com um facão. O primeiro golpe foi na cabeça. Gisele conta que, ao se ver sangrando, ficou surpresa, porque não imaginava que o marido fosse capaz de uma agressão tão grave. Em seguida, vieram os demais golpes. Ela teve as mãos, o pé esquerdo e parte do direito decepados pelo companheiro.

Gisele ficou sozinha, gritando por socorro. Até que uma vizinha teve coragem de entrar no quarto para socorrê-la. Elton foi denunciado pelo Ministério Público por tentativa de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e emprego de violência doméstica e familiar).

Bárbara Penna de Moraes e Souza encontrou em João Guatimozin Moojen Neto todo o apoio que precisava quando tinha 16 anos. Grávida e sem o pai da criança por perto, ela conheceu João na internet. Os dois ficaram amigos, começaram a namorar, e João registrou Isadora, a filha de Bárbara, como se fosse dele. O conto de fadas, no entanto, teve um fim trágico.

As crises de ciúme começaram a aparecer no relacionamento. João a perseguia, impedia que se arrumasse, destruía estojos de maquiagem e quebrava chapinhas. Após quase três anos de relacionamento, e com mais um filho, de três meses, que teve com João, uma briga do casal terminou em tragédia. Bárbara conta que colocou os filhos na cama e foi dormir para encerrar a discussão. Acordou com socos, e desmaiou. Quando voltou a si, Bárbara sentiu cheiro de álcool, que João havia jogado nela e no apartamento. Ele riscou um fósforo. E saiu.

Ao correr para pedir socorro pela janela, Bárbara despencou do terceiro andar do prédio. O fogo se espalhou pelo apartamento e a fumaça provocada pelo incêndio intoxicou e matou os filhos de Bárbara, que dormiam no quarto. Um vizinho, que tentou ajudar, também morreu na tragédia. Bárbara sobreviveu. João foi denunciado pelo Ministério Público por três homicídios culposos triplamente qualificados, uma tentativa de homicídio e por ter provocado o incêndio.

A fisiculturista Renata Muggiatti namorava o médico Raphael Suss Marques quando despencou de um prédio em Curitiba. Segundo Raphael, ela havia se jogado. Mas essa versão foi desmontada pela polícia após uma série de laudos periciais. A investigação concluiu que Renata havia sido asfixiada antes de ser atirada do alto do edifício.

Um advogado relatou que, seis dias antes de morrer, Renata o havia procurado para pedir ajuda contra as agressões praticadas pelo namorado. Ele a aconselhou a procurar a polícia. Rafael foi indiciado por homicídio qualificado. Em 29 de agosto de 2013, Mara Rúbia Guimarães foi surpreendida pelo ex-marido Wilson Bicudo quando chegou em casa para almoçar. Eles já estavam separados havia dois anos.

Wilson tentava reatar o casamento, mas Mara se recusava. Ele era bastante ciumento e Mara temia agressões. Os familiares contam que ela tentou denunciar o ex quatro vezes, mas não conseguiu.
“Eu não trabalhava, não dormia, não comia, não tomava banho, não falava com ninguém. Estava em depressão. Perdi vários empregos, mudei para vários lugares e tive vários endereços”, afirma.
Wilson a imobilizou e passou a agredi-la. 

Ele cortou os olhos de Mara com uma faca. Em março de 2014, ele foi condenado a 12 anos de prisão. Um ano depois, teve a pena reduzida argumentando que havia praticado lesão corporal grave contra Mara Rúbia, e não tentativa de homicídio.

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