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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Polícia do Amapá é a que mais mata no país. Rio de Janeiro registra o maior número de morte de policiais


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Reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo deste domingo (29), desnudou a violência no país e o crescimento indiscriminado do índice de criminalidade, mas em nenhum momento se reportou ao assassinato do Sargento Hudson Conrado, da Polícia Militar, que foi morto por bandidos antes dos homicídios em série que deflagraram a reportagem.

O programa Fantástico,  fez um comparativo entre a violência no Rio de Janeiro e no Amapá, estados que possuem realidades econômicas totalmente diferentes, e que contrastam também na questão da violência: o Rio de Janeiro registra o maior número de mortes de policiais, enquanto que a Polícia Militar do Amapá é a que mais mata no Brasil. Em nenhum momento, entretanto, a matéria se referiu ao assassinato do Sargento Hudson, cuja morte, por coincidência ou não, foi sucedida pela execução de oito pessoas 24 horas depois.

A reportagem do programa mostrou que homens e mulheres no país, que deveriam proteger a sociedade viraram vítimas e, às vezes, algozes. Nesta semana, cinco famílias no Rio de Janeiro enfrentaram a dor de dar adeus a um pai, a um filho, a um marido, todos policiais militares. Uma cena que se repete no estado em que os policiais mais morrem no Brasil. Mostrou, ainda, que em 2016, 437 policiais civis e militares foram mortos no país em confrontos ou fora do serviço, um aumento de 17% em relação ao ano anterior.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 15 estados registraram aumento no número de mortes de policiais de 2015 para 2016. O líder, com 132 mortes, é o Rio de Janeiro, que além de ser a polícia que mais morre é a segunda que mais mata no Brasil. Segundo o ranking do anuário de violência, o Amapá está na frente do Rio de Janeiro em número de mortes, proporcionalmente. A reportagem mostrou que quem vive no Amapá tem quase quatro vezes mais chances de ser morto pela polícia do que no resto do país.

Madrugada sangrenta

Várias denúncias de supostos excessos em ações policiais têm sido veiculadas na imprensa e fazem parte do repertório da mídia do estado. Uma equipe do programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM) comandada pelo repórter policial Jair Zemberg fez a cobertura de seis homicídios e duas tentativas, ocorridos na noite de quinta para sexta-feira (20 de outubro deste ano), além de dois outros assassinatos ocorridos nas duas horas seguintes em Macapá.

Depoimentos de testemunhas e parentes das vítimas, em cinco ações possivelmente foram utilizados o mesmo carro, um pálio de cor preta e no outro um de cor vermelha, cujas placas não foram identificadas. Em todos os casos o modus operandi foi o mesmo: os autores usavam capuzes e os tiros foram disparados nas cabeças e nos abdomens das vítimas, com sinais de execuções.

O primeiro homicídio ocorreu às 11h40 na Rua Doutor Braulino, no bairro Universidade, onde tombou Lucas da Cruz Correia (22 anos), que ainda foi socorrido e levado ao Hospital de Emergências, mas não resistiu aos ferimentos e morreu quando estava sendo atendido. Meia hora depois supostamente o mesmo carro preto parou próximo à área de ponte da Rua Raul Monteiro Valdez no bairro Buritizal (Zona Sul) e dele desceram entre três e quatro homens que dispararam vários tiros contra um grupo de pessoas que estava conversando na via pública. Staney Lobato Mira (24 anos) morreu no local; Arlon Moraes de Melo (34 anos), vulgo ‘Quito’ e o sobrinho dele Jhonatan Morais de Melo (19 anos), vulgo Bolinha foram levados ao HE. Bolinha chegou a ser atendido, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.

O quarto homicídio ocorreu no Inicio da manhã da mesma sexta-feira no bairro Marabaixo (Zona Oeste), quando os ocupantes de um carro preto com as mesmas características do que foi usado nas outras ações desceram já atirando contra John Lennon Mourão Feitosa (34 anos), que também foi socorrido, mas morreu no HE. O mesmo carro preto também teria sido utilizado no assassinato de Breno Ruan Lima de Souza (22) anos por volta de 1h na Avenida Piauí, no bairro Cidade Nova (Zona Leste). Ele também morreu no HE enquanto era atendido.

Fechando a madrugada sangrenta, por volta das 2h30 homens que ocupavam um carro de cor vermelha dispararam contra Alexandre de Freitas Leão (19 anos), na Rua Joaquina Silva do Amaral no bairro 2h30 Novo Horizonte (Zona Norte), que se encontrava internado em estado grave no Hospital de Emergências. Familiares de uma das vítimas estavam revoltados no HE. Uma irmã de Lucas, uma das vítimas, atribuiu as mortes a policiais, que no entendimento dela agiram em represália ao assassinato do Sargento PM Hudson, ocorrido no dia anterior. Vários ouvintes interagiram com a bancada do programa, a maioria pedindo cautela nas acusações, porque as mortes poderiam ter como autores bandidos para se aproveitar da comoção pela morte do Sargento e confundir a opinião pública, com o objetivo de macular o trabalho da Polícia Militar.

Intervenção da OAB

No sábado seguinte, no programa Togas&Becas da DiárioFM 90,9, o advogado Maurício revelou que a pedido do presidente da Seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Amapá, Paulo Campello, a Comissão de Direitos Humanos da OAB nacional vai acompanhar as investigações sobre as mortes em série ocorridas recentemente em Macapá. Segundo ele, o objetivo é garantir celeridade e isenção na apuração dos assassinatos do Sargento PM Hudson Conrado e de outras oito pessoas, estas ocorridas logo após a morte do policial militar.

“As polícias no Brasil quando vão para operações agem com uma letalidade muito grande. Isso tem que ser denunciado! Ocorreu recentemente no Pará, onde um PM foi morto e mais de 20 pessoas foram mortas em seguida por um grupo descaracterizado; também ocorreu em Osasco e em Barueri, em São Paulo. No Amapá ocorreu lamentável a morte do Sargento Hudson, que parece, foi latrocínio, vítima da violência que ele tanto combatia e seguiu-se uma onda de violência que atingiu oito pessoas em uma noite; dessas oito, eu tive o cuidado de pesquisar nome por nome no Tucujuris (sistema de acompanhamento processual do Tribunal de Justiça do Amapá), um tinha passagem por furto qualificado e um por violência doméstica, mas os outros seis não tinham nenhuma passagem. Agora se tem conexão com a policia ou não, cabe à polícia judiciária, à Corregedoria e ao Serviço Reservado investigarem, porque é preciso investigar”.

Maurício Pereira explicou como vai ser a atuação da OAB na apuração dos casos: “A comissão nacional da OAB só pode intervir na Secção se houver pedido da Secção. Nessa semana o nosso presidente seccional fez um pedido ao presidente nacional para que a OAB nacional venha ajudar no esclarecimento dessa onda de violência no Amapá. Estamos apenas esperando a delegação do presidente nacional para começarmos a agir no estado, porque com essa delegação eu terei autonomia para pedir diligências e fazer um trabalho de acompanhamento”.

Também ouvido pela bancada do programa, o presidente da OAB do Amapá Paulo Campello confirmou o pedido: “Esse é um problema que temos acompanhado em todo o país, como disse o doutor Maurício; vivemos um estado de violência exacerbado estamos e estamos muito preocupados com isso. Temos relato de problemas como esse em Alagoas, Maranhão, Espírito Santo e Pará. Eu fui ao Conselho Federal e pedi a intervenção da OAB nacional na violência como um todo, não apenas nessas execuções, mas também nas questões que atingem os próprios agentes de segurança, como no caso específico do Sargento Hudson, que foi assassinado num evento de violência, por isso essa criminalidade precisa ser combatida, tanto pelas instituições públicas como pelas instituições civis organizadas como a OAB. Precisamos unir forças, dialogar e encontrar soluções”.


Para Campello é necessário que as instituições se unam para o combate à criminalidade no estado: “Não podemos apenas reclamar através das redes sociais seja da ação exacerbada de agentes de segurança, seja criticando a Comissão de Direitos Humanos, porque cada cidadão tem que ter conciência do seu papel; temos que cobrar das autoridades públicas políticas efetivas para o combate da violência. Por isso eu fui cobrar a intervenção da OAB através da Comissão de Direitos Humanos nacional, para que se busque solução para combater o alto índice de criminalidade, os tráficos de drogas, de armas e de mulheres, pois estamos numa região fronteira e sabemos o quanto isso trás risco para a população do estado do Amapá”./G1

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