A história de luta da
itanheense Maria Santiago Lima, de 51 anos, moradora do bairro Monte Santo, em
busca de uma cirurgia do olho direito, em razão de um descolamento de retina,
não teve um final feliz, ao contrário do que foi informado aqui nas três
reportagens da série ‘A mãe da saúde’.
Os R$ 20 mil que o juiz da
comarca de Itanhém, Francisco Moleda de Godoi mandou bloquear dos cofres da
prefeitura, para o tratamento cirúrgico de dona Maria na rede particular, não
mais servirão para esta finalidade porque dona Maria já está cega. As
informações são da estudante de direito, Uilta Lima Costa, que é sobrinha e
afilhada de dona Maria e é quem acompanha a tia na via-crúcis desde o dia13 de
fevereiro desse ano, em busca de apoio da prefeita Zulma Pinheiro e da
secretária da Saúde, Eneida Carla Sampaio Arruda para o tratamento.
As reportagens do Água Preta
News sobre este assunto foram produzidas a partir das informações contidas na
ação civil pública, com pedido de tutela antecipada, que o promotor João
Batista Madeiro Neto, ingressou, no dia 17 de agosto, contra o município, para
garantir o tratamento de dona Maria. Somente na manhã desta terça-feira (14) o
portal de notícias teve acesso à informação de que dona Maria já perdeu a
visão.
No dia 16 de fevereiro, o
médico cardiologista Aldário Pereira Vaz, que é marido da prefeita Zulma
Pinheiro, assinou uma guia do Sistema Único de Saúde, encaminhando dona Maria
para tratamento no Hospital Evangélico, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo.
A guia foi entregue à dona
Maria pela auxiliar da secretaria da Assistência Social, Rita da Paixão Soares
Lima que, coincidentemente, é mãe do tesoureiro da prefeitura, Leandro Soares
Lima. O dinheiro para custear gastos com passagem em Vila Velha, R$ 250, também
foi entregue à dona Maria pela auxiliar da secretaria da Assistência Social
que, por sua vez, pegou o dinheiro com o filho, o tesoureiro.
Na capital capixaba, de
acordo com a sobrinha de dona Maria, a guia assinada pelo marido da prefeita
não serviu para absolutamente nada.
No mês de julho, já
desapontada, dona Maria protocolou um pedido de assistência na secretaria da
Saúde. O documento foi recebido pela coordenadora da Atenção Básica, Rita de
Cássia Rodrigues Rizzo.
A reportagem teve acesso ao
mapeamento de retina feito por dona Maria no dia 30 de agosto. O exame foi
feito apenas no olho esquerdo porque, no olho direito, não foi possível fazer o
mapeamento em razão da perda da visão que já estava avançada.
A reportagem também teve
acesso a um laudo assinado pelo oftalmologista Henrique Viana, que é
especialista em retina, datado de 18 de outubro. Nele o diagnóstico é de
descolamento total da retina do olho direito, com quadro de cegueira
irreversível. Nesse laudo o profissional relata que não há mais indicação de
intervenção cirúrgica, pois as chances de melhora da visão são mínimas, com
grande risco de atrofiamento do globo ocular.
De acordo com Uilta, os
médicos disseram que a cirurgia deveria ter sido feita com a urgência que foi
prescrita no mês de fevereiro, quando o problema foi diagnosticado.
A Justiça, no dia 23 de
agosto determinou que fosse feito o tratamento cirúrgico de dona Maria, mas a
decisão não foi cumprida pela prefeita e pela secretária. Uma nova decisão do
judiciário, no dia 31 de outubro, no entanto, determinou o sequestro de R$ 20
mil para que a cirurgia fosse feita na rede particular e esse valor chegou a
ser bloqueado de contas da prefeitura, mas já era tarde demais.
Dona Maria mora na rua
Esperança, no bairro Monte Santo com o seu marido Antônio Ribeiro de Sousa, 70
anos, que também é deficiente visual. É ela que cuida do marido.
Sem visão no olho direito,
dona Maria também apresenta degeneração retiniana periférica no outro olho,
também com risco de descolamento de retina. Como medida profilática, isto é,
para evitar o agravamento da doença, foi recomendado aplicação de laser.
O Ministério Público, na ação
que moveu contra o município, entendeu que a prefeita Zulma Pinheiro e a
secretária da Saúde foram omissas e que esta omissão causou danos materiais ao
município de Itanhém e à dona Maria, que está cega de um olho e poderá perder
totalmente a visão.
Na entrevista, a sobrinha de
dona Maria lembrou que a prefeita Zulma Pinheiro, nas eleições em que se
candidatou, frequentou várias vezes a casa da tia, onde já comeu bolo, tomou
café e ‘bateu papo’ com o tio, que já era deficiente visual. Ela lembrou
também, que os tios “a vida inteira sacudiu bandeira para eles [o grupo
político de Neco Batista e Zulma Pinheiro].
CRONOLOGIA
13 de fevereiro, dona Maria é
diagnosticada com descolamento de retina, com necessidade urgente de
procedimento cirúrgico, em razão do risco de perder totalmente a visão do olho
direito.
16 de fevereiro, o médico
cardiologista Aldário Pereira Vaz, que é marido da prefeita, assinou uma guia
do SUS, encaminhando dona Maria para tratamento no Espírito Santo. Lá, nada foi
resolvido.
17 de agosto o promotor João
Batista Madeiro Neto, ingressou com uma ação civil pública, com pedido de
tutela antecipada, contra o município, representado pela prefeita e pela
secretária.
23 de agosto a Justiça
determinou que fosse feito o tratamento cirúrgico de dona Maria, mas a decisão
não foi cumprida pela prefeita e pela secretária.
30 de agosto foi feito o
mapeamento de retina. O exame só foi feito no olho esquerdo, porque o olho
direito já estava com a perda da visão avançada.
18 de outubro, um laudo
assinado pelo oftalmologista Henrique Viana, relata o descolamento total da
retina do olho direito, com quadro irreversível.
31 de outubro, uma nova
decisão do judiciário determinou o sequestro de R$ 20 mil para que a cirurgia
fosse feita na rede particular. O valor chegou a ser bloqueado de contas da
prefeitura, mas dona Maria já estava cega./Água Preta News
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